sábado, 29 de junho de 2024

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Irresponsável Mente

Lula chama de "cretino" quem ousou apontar sua influência na desvalorização do real, mas esta está longe de ser a primeira vez que o discurso irresponsável do petista prejudica a economia brasileira

O perfil do Banco Central no Instagram compartilhou nesta semana um meme aparentemente inocente, contra a "vontade de gastar", entrando na onda da recém-lançada animação Divertida Mente 2. A mensagem dizia o seguinte:


"Manter as emoções sob controle ao fazer compras é essencial para evitar gastos impulsivos. Antes de comprar, pergunte-se se realmente precisa do item. Estabeleça um orçamento e siga-o rigorosamente. Planejar suas finanças permite identificar prioridades, economizar e evitar dívidas."


A mensagem sobre responsabilidade fiscal, curtida por mais de 31 mil pessoas, foi interpretada como uma indireta para o governo Lula. "Esse aí é o tal do banco central independente?", questionou um dos vários comentaristas da postagem, a quem deveria ser devolvida outra pergunta: CPF na nota?


Um outro comentário de quem passou recibo pelo governo dizia: "Vim ver porque não acreditei que era verdade. E é! Que postagem patética do BC que sustenta a 2ª maior taxa de juros real do mundo".


Dólar


Nas últimas duas semanas, Lula concedeu uma série de entrevistas a rádios e sites. Por causa de três delas o dólar aumentou a intensidade da valorização em relação ao real e a bolsa de valores brasileira intensificou suas quedas. Por quê? 


Na primeira delas, insatisfeito com a decisão unânime do Copom de manter a taxa básica de juros em 10,5% ao ano, Lula pôs em dúvida a isenção do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e disse que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem mais influência no BC do que ele. 


Na segunda entrevista, concedida na quarta-feira, 26, o petista questionou a necessidade de cortar gastos públicos. "Problema não é que tem que cortar. Problema é saber se precisa efetivamente cortar ou aumentar a arrecadação. Precisamos fazer esta discussão", disse, levando o dólar para 5,52 reais.


Na terceira, o petista sugeriu que juros vão cair com um novo presidente do Banco Central a partir do ano que vem. Resultado: a moeda americana subiu 2,91% na semana, atingindo um novo recorde no governo Lula, de 5,59 reais.


O presidente já tinha causado ruído no mercado com sua tentativa de emplacar Guido Mantega no comando da Vale e com a mudança na direção da Petrobras, e tudo isso contribuiu para que o real brasileiro se tornasse a moeda mais desvalorizada de 2024 entre os 23 países emergentes.   


"Cretinos"


Lula reagiu com deboche e agressividade a quem ousou apontar sua influência na valorização do dólar. "Quando eu terminei a entrevista [ao Uol], a manchete de alguns comentaristas era de que o dólar subiu pela entrevista do Lula. Os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar entrevista", comentou. Lula não é o único fator de desvalorização do real, mas certamente é um deles.


O petista também dificultou, desde o início de seu terceiro governo, a redução da taxa de juros, em defesa da qual, paradoxalmente, ele e os petistas tanto falam. Quem disse isso foi a revista Central Banking, ao explicar por que o Banco Central do Brasil foi eleito o melhor banco central do mundo.


"O prêmio de Banco Central do ano reconhece o cenário desafiador para o BCB, à medida que o presidente do Brasil, Luis Inácio 'Lula' da Silva, pressionava o banco central para reduzir as taxas. Ele também pediu ao banco central que aumentasse a meta de inflação", destacaram os responsáveis pelo prêmio, chamando atenção para as constantes reclamações públicas de Lula contra o presidente do BC.


"Problema danado"


O ex-presidente Michel Temer reapareceu no noticiário nesta semana para dar um conselho a Lula. "Nessa questão dos juros, eu tomava muito cuidado, porque qualquer palavra do presidente da República causa um problema danado no mercado", disse a Veja.


Um outro conselho aos petistas do governo que não conseguem evitar os "gastos impulsivos" na administração pública: se não quiserem ser enxergados como irresponsáveis, comportem-se responsavelmente.


Rodolfo Borges - colunista

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