'O problema dos 3 corpos': como a China deixou de odiar sci-fi para inovar A criação de ficção científica tem alguma relação com a criatividade e inovação de empreendedores? Ao que parece, os chineses descobriram que sim e, desde que retomaram a produção de livros do gênero, suas empresas passaram a lançar produtos inovadores que invadem o mercado ocidental. Esse é o tema da coluna de Diogo Cortiz, em Tilt, nesta semana. Se você gosta de ficção científica, deve saber que a Netflix está apostando no sucesso de "O Problema dos Três Corpos" neste ano. Essa é uma história criada na China e que ganhou uma superprodução de uma empresa norte-americana. Há dez anos, a China já era reconhecida pelo alto nível de seus estudantes e por ser a fábrica do mundo. Ainda assim, os produtos produzidos no país asiático eram, em sua maioria, de empresas ocidentais como a Apple. O TikTok não existia. A BYD era desconhecida, assim como Xiaomi e outras marcas que hoje fazem sucesso. Os chineses se perguntavam: "Nós temos conhecimento. Nós temos poder de produção. Por que não conseguimos lançar produtos inovadores?". Uma delegação do governo chinês enviada aos Estados Unidos percebeu que uma coisa que aparecia com frequência na história de vida das mentes mais brilhantes que estavam criando produtos de impacto era que todos liam muita ficção científica. Só que a China sempre teve uma relação conturbada com esse gênero literário. Durante a Revolução Cultural, os escritores de ficção científica foram silenciados. E, mesmo após o fim das reformas, quando intelectuais e cientistas passaram a ter um pouco mais de respeito, os escritores não tiveram vida fácil. Em 1983, a ficção científica foi criticada por um jornal do Partido Comunista por "espalhar a pseudociência e promover elementos capitalistas decadentes". A coisa só começou a mudar mais recentemente, quando a China entendeu que incentivar a ficção científica era importante para movimentar o terreno fértil da imaginação e da criatividade para conseguir inovar. Um dos autores de maior sucesso dessa mudança é justamente Liu Cixin, escritor de "O Problema dos Três Corpos". O sucesso do livro depende do talento de Cixin em criar mundos que extrapolam os sentidos do presente, mas também se beneficiou com políticas do governo chinês que decidiu incentivar - e não restringir - o gênero literário. A proposta da China de promover a produção e consumo de ficção científica deu certo. Em 2021, a indústria relacionada ao gênero teve uma receita de US$ 12 bilhões, com um crescimento anual de 50%, de acordo com o China Science Fiction Industry Report, publicado em 2022. Hoje, as marcas chinesas passaram a conquistar uma fatia do mercado ocidental. BYD, Tik Tok, Xiaomi, Shein são exemplos do "Designed in China. Made in China". Não dá para afirmar que a ficção científica teve uma influência direta nesse processo. Encontrar causa e efeito não é uma coisa trivial. Mas o lançamento da série na Netflix, que inclusive criou polêmica com chineses acusando a empresa de ter ocidentalizado demais alguns personagens, mostra que a China sabe muito bem planejar o seu futuro e fazer as reformas necessárias para fomentar um ecossistema de inovação. |
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