Desde domingo passado, quando o jogador brasileiro Vini Jr. foi alvo de ataques racistas durante a partida entre Real Madrid e Valencia, válida pelo campeonato espanhol de futebol, muito se falou sobre a falta de atitude das marcas que patrocinam o torneio. Até ontem (25), apenas o Santander e a Puma se manifestaram contra as cenas assistidas no estádio de Mestalla, em Valência - e, de forma protocolar. Falta atitude para as marcas? O caso deve respingar em possíveis novos patrocinadores? O UOL Mídia e Marketing conversou com Ricardo Fort, consultor em marketing esportivo, para falar sobre o tema. Fort foi vice-presidente de empresas como Coca-Cola e Visa - duas das maiores patrocinadoras de eventos esportivos do planeta. Confira: Os ataques racistas a Vini Jr começaram há tempos, mas só agora as autoridades começaram a tomar algumas atitudes, como uma multa ao Valencia e a interdição de parte do estádio. Apesar da liga espanhola de futebol (a LaLiga) ter divulgado essas e algumas outras ações práticas, o estrago já está feito? A situação transcendeu as pautas de esporte. A Espanha, como um país, foi abalada pela imagem negativa de ser um país racista. Se isso é justo ou injusto, não vale entrar no mérito. Mas a manchete é essa: "A Espanha é racista". Foi o que o Vini Jr. disse no domingo. Para o país, é horrível. "Para a LaLiga (liga espanhola de clubes), é uma demonstração de incompetência ou conivência - a gente não sabe ao certo. A verdade é que admitem este tipo de atitude há tempos". Para quem investe na liga, desde o investidor financeiro até marcas e as emissoras de mídia, isso mostra que eles não são capazes de fazer o trabalho deles. Há também a questão com os jogadores: por que o Mbappé (atacante francês, um dos melhores jogadores da atualidade) iria jogar na Espanha, se ele vê o Vinícius passando por isso? Há também um problema de atratividade para os clubes contratarem. Por outro lado, as ações recentes ajudam. Qualquer ação concreta é melhor do que não fazer nada. Mas, assim que o futebol recomeçar em setembro, se a situação não melhorar, o futebol espanhol terá problemas muito mais graves. Os patrocinadores do campeonato deveriam tomar atitudes mais incisivas? O que poderia ser feito? | Ricardo Fort foi VP de marcas como Coca-Cola e Visa | Imagem: Divulgação |
Vi poucas coisas efetivas. Isso tem algumas explicações. Uma delas é que a Espanha é um mercado muito importante para a maioria daquelas marcas - inclusive o Santander, que é uma empresa espanhola. As outras poderiam até falar algo, mas praticamente ninguém se posicionou. Se eu estivesse à frente de alguma dessas empresas, teria publicado um posicionamento de desagravo e teria ligado para a Liga e 'esculhambado' os caras. Já fiz isso algumas vezes nas marcas onde trabalhei, na Coca Cola e na Visa, que tinham uma força financeira e moral. "Já peguei o telefone e liguei para a Fifa, para o Comitê Olímpico e falei: "é bom começarem a trabalhar, porque senão vocês terão um problema". Não sei se essas marcas estão fazendo isso, mas acredito que elas devem estar pressionando a Liga a fazer algo". Acho que ninguém vai romper patrocínio algum e que os incidentes vão continuar. A única esperança que eu vejo no caso é a Fifa ou a Uefa tomarem alguma atitude, suspenderem equipes de torneios internacionais, proibirem contratações. O único jeito disso mudar seria com punição financeira. E em relação ao futuro? Futuros patrocinadores podem deixar de patrocinar a liga espanhola? Isso deve começar a acontecer. A liga espanhola compete com a italiana, a francesa e a alemã. E o que aconteceu vai ser usado nas apresentações das concorrentes. O que aconteceu vai assombrar a LaLiga por anos. Acho que, comercialmente, eles vão sofrer. Daqui a alguns anos, vamos olhar para trás e perceber que eles foram, sim, penalizados. |
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