Imagine uma cena como esta: um homem negro desmaia de fome durante o trabalho na plantação de arroz. Os parceiros interrompem o trabalho para ajudá-lo. Os supervisores do local reclamam e exigem que eles voltem ao trabalho porque, senão, "vão achar quem trabalhe de verdade". "Vocês não sabem o que querem, hein? Reclamam de não ter emprego, quando têm, não trabalham. Na época da escravidão já nascia empregado e também achava ruim", diz um deles aos risos. Essa é uma história engraçada? Com certeza, não. A situação acima é hipotética, mas faz menção a denúncias reais de trabalhadores resgatados neste ano em fazendas de arroz no Rio Grande do Sul em condições análogas à escravidão e às "piadas" do humorista Leo Lins, que acaba de ter um conteúdo proibido pela Justiça de ser veiculado no YouTube por ter falas de cunho "depreciativo ou humilhante" a categorias sociais. A repercussão sobre a proibição do vídeo, que já tinha mais de 3 milhões de visualizações, retomou uma discussão recorrente: qual o limite do humor? Para o humorista Fábio Porchat, que criticou a decisão judicial, basta não incitar o ódio e a violência. Mas a satirização da dor não é um tipo de violência? Entender a escravização de pessoas negras como algo trivial, brincar com a dor física e psicológica que o regime do trabalho forçado causava não é rir da violência? O jurista Adilson Moreira, professor de direitos humanos da Universidade Mackenzie e autor do livro "Racismo Recreativo" (Coleção Feminismos Plurais, 2019), explica que "o humor é uma mensagem cultural". Quando usam racismo recreativo, pessoas brancas não estão só se divertindo. Isso porque ele é uma política cultural que referenda por meio do humor a ideia de que negros não são atores sociais competentes. Isso permite que pessoas brancas hostilizem minorias sociais sem perder uma imagem social positiva Adilson Moreira, jurista e professor, em entrevista para Ecoa, em 2021 Lins também já fez piadas sobre pessoas gordas, violência doméstica e pedofilia, e considera a decisão judicial uma censura. No entanto, censura não pode ser confundida com respostas rigorosas a casos extremos. Não se trata de criar um mundo sem graça ou onde o riso seja proibido, mas de avançar enquanto sociedade para que tenhamos risos responsáveis. Um riso antirracista é um riso responsável! Não é coisa de outro mundo, já existe: Paulo Vieira, Yuri Marçal, Felipe Kot, Nathália Cruz, Tatá Werneck e muitos outros que pensam criticamente a sua arte estão aí para provar isso, em como o riso leve pode ser uma ponte para uma reflexão profunda. É aí que separamos os humoristas geniais do restante. "Fazer humor sem ofender é difícil porque exige inteligência acima da média", como bem resumiu a colunista do UOL Milly Lacombe. *** MAIS UM CASO... O Grupo Carrefour vai exigir que seguranças usem câmeras corporais em áreas externas das lojas após registrar outro caso de violência contra pessoas negras. O Grupo também manterá o contrato com a empresa terceirizada responsável pelo serviço de segurança. JUDICIÁRIO... O ex-ministro do STF Joaquim Barbosa afirmou que o presidente Lula (PT) cometerá "um grande erro" se não indicar um ministro ou ministra negra para a Corte. ESTREIA... "Velozes e Furiosos 10" chega aos cinemas com uma participação bastante especial para o público brasileiro: Ludmilla, 28, está no elenco. Splash conta o que esperar dela no filme. NAS TELAS... Sabia que é possível visitar os palácios onde a história de Rainha Charlotte acontece? Nossa explica como. MÍDIA E MARKETING... "Admitir [o racismo estrutural] é o primeiro passo para mudar", explica Dilma Campos, CEO da Nossa Praia. Ao UOL, ela comenta sobre como é importante ter equipes diversas para ter mais criatividade nas companhias. Confira em vídeo. |
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