O que faz uma obra de arte, seja um quadro, uma música, um filme, ser boa? Ben Davis publicou um artigo recentemente trazendo o conceito de "estética quantitativa". Nele, o autor trata do gosto popular a partir de métricas e estatística ou como preferências podem ser quantificadas. Esse assunto foi abordado nesta semana por Lidia Zuin, nossa colunista aqui em Tilt. Ela traz a discussão, proposta por Davis, de que um artista com uma grande quantidade de streams, ou de likes, ou que vive na mídia, por exemplo, é bom enquanto quem não atinge isso não é. O motivo pelo qual alguns artistas fazem tanto sucesso tem menos a ver com o talento ou a qualidade de suas produções do que a estratégia comercial. Conforme as tecnologias digitais avançam e seu modus operandi numérico prospera, seguimos apostando em métricas mais ou menos plausíveis. E, é bom lembrar, nossos algoritmos e inteligências artificiais dependem desse tipo de dado para poder fazer qualquer análise. O K-pop, por exemplo, tem a sua fórmula/algoritmo que define como uma música deve ser composta levando todos os elementos que são bem-sucedidos, do mesmo jeito que as IAs generativas buscam padrões nos dados para determinar uma média. Para Zuin, hoje tudo é um remix do remix, não necessariamente porque somos autorreferentes e pós-modernos, mas porque estamos pegando carona em outros sucessos para criar frankensteins estéticos. No fim, acabamos menos preocupados em entender se, de fato, uma obra de arte é boa e mais interessados na amostragem que pode nos comprovar isso. Muita gente se orienta pela nota no IMDb ou no Rotten Tomatoes para decidir se vai dedicar seu precioso tempo àquele filme ou não. E outros preferem usar a bilheteria como referencial. As pessoas estão cada vez menos interessadas em estudar arte e filosofia (ou humanidades, em geral), por motivos legítimos como sobrevivência financeira e adequação aos requerimentos do mercado de trabalho, mas com isso também temos menos pessoas equipadas para entender arte e filosofia (ou humanidades, em geral). Com um arcabouço referencial e teórico menor, temos mais chances de nos surpreender com qualquer "divertimento barato" e de rejeitar qualquer desvio a essa norma. Consequentemente, o formato TikTok explode e se multiplica. Na era do realismo capitalista, a autocrítica faz parte da receita, o que nos deixa ainda mais desnorteados - afinal, ser consciente de nossas escolhas e atos nos torna menos culpados? E existe culpa quando o assunto é gosto artístico? Metamodernos que somos, aceitamos a culpa em cartório e continuamos orgulhosamente vibrando com remix do remix. Só Deus, e não os críticos de arte, pode nos julgar. **** CONFIRA TAMBÉM UOL CARROS DO FUTURO Toda quarta-feira, a newsletter UOL Carros do Futuro traz tendências e debates sobre as novas tecnologias da indústria automobilística. Nesta semana, a newsletter trata do 'carro voador' da Embraer que pretende democratizar o transporte aéreo nas cidades. Quer se cadastrar e receber o boletim semanal? Clique aqui. |
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