A inteligência artificial pode ser uma manifestação de vida. Isso não quer dizer que a tecnologia é um organismo vivo, mas que se trata de um desdobramento da nossa existência enquanto humanos. Complicado? Pois esse é o tema de um artigo escrito pela astrobióloga Sara Walker e destacado na coluna desta semana de Lidia Zuin, em Tilt. Ao longo de séculos a humanidade evoluiu e esse processo ocorreu de maneira lenta e geracional. Pois, hoje, a evolução da espécie humana não precisa mais ser pensada nesse parâmetro darwinista. Aspectos tecnológicos e financeiros podem ser colocados na conta, o que significa que a evolução da humanidade pode ocorrer de forma mais acelerada justamente a partir de novas tecnologias que desenvolvemos em laboratórios. E é justamente por causa desse tipo de aceleramento e desvio no processo de escolha evolutiva que alguns acreditam que a IA pode apresentar um risco existencial. Curiosamente, risco existencial é também uma pauta levantada por um movimento conhecido como "longtermism" que prioriza o desenvolvimento de tecnologias, como a IA, de modo a evitar nossa extinção. Sara cita James Lovelock ao trazer a Hipótese de Gaia. O próprio cientista já havia proposto que a evolução da espécie humana pode estar na tecnologia e, eventualmente, na nossa extinção. Porém, quando falamos de extinção, podemos afirmar que os dinossauros foram extintos, mas sem eles não teríamos as aves como as conhecemos hoje — ponto também levantado por Sara. Isto é, dinossauros, enquanto espécie, de fato, foram extintos, mas seu DNA e a informação ali contida continua em movimento de iteração evolutiva. Para Sara, isso tudo nos faz crer que estamos em um importante ponto na história, mas não em seu ápice, quando pensamos que a tecnologia que estamos desenvolvendo pode ser o pontapé para um novo salto evolucionário e de uma atualização da maneira como entendemos a vida. Sara, no entanto, não quer expandir o conceito de vida a ponto de beirarmos ao animismo. O que ela propõe é algo parecido com uma discussão que ocorre no âmbito da astrobiologia, que é a de ampliar o conceito de vida para além daquela baseada em carbono. Esse raciocínio é também contemplado no Paradoxo de Fermi, que propõe que certas civilizações podem ter alcançado níveis mais avançados de evolução de suas espécies ao atingir um ponto tecnológico e não mais biológico. Esse poderia ser também o nosso destino. No momento, Sara diz que é possível afirmar que nossas tecnologias não substituem um ser vivo, mas que elas são, conjuntamente, manifestações da vida. Só que entender o que realmente está acontecendo é muito difícil para nossa mente justamente por estarmos falando de um processo evolutivo maior que a duração de nossa vida enquanto humanos. Confrontar a nossa própria morte é um processo difícil, mas, segundo alguns autores, pode ter sido crucial para o desenvolvimento da nossa consciência. De modo semelhante, talvez confrontar e absorver o fato da nossa própria extinção enquanto espécie pode ser crucial para o desenvolvimento de nossa próxima fase evolutiva. O que Sara sugere em seu artigo é justamente como a evolução é um processo complexo e hierárquico que se dá entre transições da vida a partir de proporções: "do molecular ao celular, do multicelular ao societário, do multissocietário ao planetário".
O desafio é conseguir enxergar esses pontos a um prazo muito mais longo do que a nossa própria existência, sendo que, nesse ínterim, temos contas a pagar e exercício para fazer de modo que nossos corpos possam aguentar mais capítulos dessa novela. **** CONFIRA TAMBÉM UOL CARROS DO FUTURO Toda quarta-feira, a newsletter UOL Carros do Futuro traz tendências e debates sobre as novas tecnologias da indústria automobilística. Nesta semana, a newsletter fala sobre como as marcas estão investindo em novas maneiras de estacionar os carros. Quer se cadastrar e receber o boletim semanal? Clique aqui. |
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