Morar no Rio de Janeiro é uma das coisas mais fáceis que já fiz. Eu senti medo antes de oficializar a mudança - tive até febre. Mas a verdade é que foi muito fácil me sentir em casa, decidir em que bairro queria morar, encontrar atividades interessantes pra iluminar minha rotina, me apaixonar pela minha casinha. Criar e alimentar relações legais exige esforço, mas também me movimenta. Ficar doente ou lidar com perrengues com pouca rede de apoio é desafiador, mas são exceções. É mais fácil pra mim ter uma rotina em que consigo sair da zona de conforto quando me dá vontade do que viver sempre viajando pra expandir meus horizontes. É mais fácil lidar com o peso da vida num cotidiano pedestre, diurno e ao ar livre. É mais fácil explorar outras versões de mim longe de tudo que me lembra o que já fui ou pensei ser. É mais fácil ter fé no futuro enxergando as possibilidades de uma cidade maior e ainda fresca em mim. Em agosto, escrevi: O Recife é imenso. Nele cabem dois rios, a maior instiga do mundo e meus grandes amores. Mas às vezes o Recife me aperta. Estar longe do Nordeste me faz mais nordestina, assim como em outros tempos estar longe do Brasil me fez mais brasileira. Nunca valorizei tanto nossas comidas, reparei tanto no meu sotaque, entendi tão bem que o jeito da nossa gente é mesmo diferente. Mas no momento isso não basta. Sou imensamente grata ao Recife-casa, Recife-afeto, Recife-identidade. Mas solto um peso quando deixo o Recife-província. Até pensei que talvez me desiludisse com o Rio do dia a dia, me sentisse sozinha ou tivesse muita saudade da minha antiga casa. Nada disso aconteceu. Mas aconteceu o que eu nem podia imaginar: uma doença grave na família. Não é fácil me despedir das pessoas mais importantes da minha vida enquanto elas atravessam um rio turvo. Não é fácil me sentir tão impotente. Não é fácil equilibrar desejos, medos e culpa. Não é fácil me sentir mais viva longe de onde mais amo e sou amada. Morar no Rio é uma das coisas mais fáceis que já fiz. Mas quis a vida que fosse também das mais difíceis. Curtiu esta newsletter? Compartilhe-a com alguém que pode gostar também🧡 |
sexta-feira, 27 de dezembro de 2024
O ano em que vivi apesar de.
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