Não ter nada para fazer é chato? Os italianos estão errados ao adotarem o "dolce far niente"? O "desagradável não fazer nada" é o tema da coluna do psicanalista Christian Dunker, em Tilt. O colunista fala em uma "síndrome de domingo à noite", que nada mais seria do que um momento de despedida do ócio, de cálculo dos afazeres e dívidas ocupacionais. Segundo Dunker, quando se tem o tempo livre é preciso desfazer-se dele urgentemente, na realização de algum projeto suspenso. Na sua falta é preciso sonhar com ele, planejá-lo, administrá-lo em sua virtualidade. E quando se é inesperadamente forçado a tê-lo, como no desemprego, na velhice ou na doença, é o pior dos males que nos toca. O problema é que o tempo é justamente a única coisa que provavelmente sobrará nos próximos anos. E o que fazer com ele é um problema. FériasNa nossa vida rotineira, o momento culminante em que o cotidiano é rompido são as férias. Ápice do consumo reprimido, decidir o que fazer nas férias tornou-se tarefa para especialistas: agências de turismo, roteiros, preparação da preparação para a surpresa. Surpresa administrada, gerenciada, tal como pânico em filme de terror. Dunker chama as férias de uma espécie de "síndrome de domingo" ampliada, misturada de saudades do cotidiano, desespero diante do que fazer e iminência ansiosa da retomada. Durante as férias, é preciso reter o tempo: fotos, impressões, preciosas lembranças, ter o que apresentar ao final da gloriosa jornada. É preciso olhar para si mesmo com a sensação de dever cumprido, com a imagem acabada de uma boa aplicação de poupança de tempo-prazer Mas, se tudo se pré-realiza antes do acontecimento e se pós-avalia depois do acontecido, o que haveria afinal para acontecer? Se todos os prazeres estão em seus lugares e todos os lugares estão em seus prazeres, qual a diferença essencial disso para o próprio cotidiano? A elaboração coletiva de acontecimentos disruptivos, como os que localizamos nas férias, é um dos aspectos mais comprometidos pelo cálculo de satisfações próprio do cotidiano. Ao hiperplanejar as férias, nota-se uma corrupção da sua diferença essencial com o cotidiano, o que explica a relativa decepção que acompanha muitos finais de férias. O trabalho invade as férias, os preparativos que se transformam nas próprias férias, a viagem sem transformação subjetiva, o esquecimento do mais importante. As férias transformam-se, assim, na própria eternização do cotidiano. **** CONFIRA TAMBÉM UOL CARROS DO FUTURO Toda quarta-feira, a newsletter UOL Carros do Futuro traz tendências e debates sobre as novas tecnologias da indústria automobilística. Nesta semana, a newsletter fala sobre os carros do futuro podem ser perigosos para motoristas inexperientes. Ou quase isso. Quer se cadastrar e receber o boletim semanal? Clique aqui. |
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