A busca por uma suposta tecnologia alienígena feita por um astrônomo de uma das mais bem conceituadas universidades dos Estados Unidos pode se transformar numa ameaça à ciência. Esse é o argumento apresentado por Thiago Gonçalves, em sua coluna em Tilt. O pesquisador, que é ligado à Universidade de Harvard, organizou uma expedição a Papua Nova Guiné, na Oceania, para recuperar um objeto que caiu no mar perto da costa do país em 2014. Segundo ele, esse objeto teria vindo de fora do nosso Sistema Solar, e análises preliminares indicariam que sua composição físico-química seria mais resistente que meteoros comuns. Traduzindo: o tal objeto poderia ter uma origem extraterrestre. A hipótese é controversa e a maior parte da comunidade não concorda com a argumentação, o que torna o financiamento do projeto por agências governamentais essencialmente impossível, já que há propostas mais interessantes e muito mais confiáveis competindo pelo mesmo pote de dinheiro, explica o colunista. O problema é que o tal cientista é popular e consegue espaço na mídia com suas várias teorias especulativas sobre a origem alienígena de vários objetos astronômicas. Dessa forma, ele conseguiu o apoio de US$ 1,5 milhão (além do empréstimo de um jato particular) de um milionário de criptomoedas para financiar a expedição. Pode ser que a aventura não dê resultado algum. Mas, assim mesmo, o cientista abocanhou apoio financeiro e o mecenas conseguiu a visibilidade que buscava. E quem perde com isso é a ciência, destaca Gonçalves. É por isso que valorizamos tanto a revisão por pares, já que o processo de avaliação de projetos por outros cientistas busca o investimento em pesquisas mais promissoras e de maior impacto. Claro que a revisão por pares também têm seus problemas, e muitos. Cientistas são humanos, e todos os vieses de gênero, raça etc. acabam privilegiando grupos que já tinham seus privilégios antes. São desafios que temos que enfrentar, claro. No entanto, quando um cientista recebe tanto dinheiro devido à sua visibilidade e não à qualidade de sua pesquisa, não há qualquer pretensão de apoiar a ciência mais promissora. É um concurso de popularidade, puro e simples. Nesse concurso, ganha o mais polêmico, o mais chamativo, o mais controverso. Sabemos que, em tempos de redes sociais, a treta é a melhor forma de aumentar o alcance. Devemos ter cuidado para não criar mais caçadores de extraterrestres e garantir que a ciência continue seguindo o caminho das evidências, e não o caminho dos likes. **** CONFIRA TAMBÉM UOL CARROS DO FUTURO Toda quarta-feira, a newsletter UOL Carros do Futuro traz tendências e debates sobre as novas tecnologias da indústria automobilística. Nesta semana, a newsletter conta que o Google vai controlar tempo de semáforos para reduzir congestionamentos. Quer se cadastrar e receber o boletim semanal? Clique aqui. |
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