Tilt foi palco para uma discussão — de alto nível, diga-se — entre o psicanalista Christian Dunker, nosso colunista, a microbiologista Natalia Pasternak e o jornalista Carlos Orsi. Tudo porque Pasternak e Orsi escreveram um livro em que afirmam que a psicanálise é uma pseudociência. Em três posts, Dunker refutou os argumentos apresentados por Pasternak e Orsi no livro "Que Bobagem! Pseudociências e Outros Absurdos que Não Merecem Ser Levados a Sério" (ed. Contexto). No primeiro post, Dunker elogia o trabalho feito por Pasternak e Orsi na defesa feita à vacinação e, por isso, diz que esperava mais quanto ao livro recém-lançado. Dunker destaca que, no caso da psicologia, os divulgadores científicos são importantes para mostrar os sofrimentos psicológicos como uma realidade autêntica e, assim, combater a visão reducionista de "bobagem" frequentemente associada a eles. Para o psicanalista, existe uma dificuldade de falar em nome de todas as ciências, de se encontrar uma língua-mãe. Segundo ele, definir o que é ciência em geral não é um empreendimento científico, mas filosófico, mais conhecido como epistemologia ou teoria da ciência. Dunker aponta que o livro traz um erro de perspectiva, já que acompanhar muitas áreas da ciência é muito difícil. "A tentação a 'forçar o outro a falar a sua língua' é proporcional a abstrair sua versão das regras do jogo. Isso aumenta ainda mais quando a intenção é diminuir a autoridade do outro", escreveu. Para Dunker, o livro traz erros e imperícias cometidos não apenas do ponto de vista da psicanálise, mas do ponto de vista da "língua geral" da ciência. No segundo post, Dunker detalha mais as imperícia e aponta nove erros cometidos no livro em relação à psicanálise: 1. Quanto à eficácia da psicanálise: já que há centenas de estudos controlados que provam a eficiência da psicanálise; 2. Conhecimento e antiguidade: já que desde os anos 1950 a psicanálise é dada como exemplo de pseudociência e que nenhum conhecimento é mais verdadeiro ou mais falso pela sua antiguidade; 3. Quanto aos casos clínicos de Freud, já revisitados por diversos pesquisadores; 4. Em relação a uma suposta religiosidade da psicanálise; 5. Um misto de preconceito e desinformação com as ciências humanas; 6. Erros conceituais como, por exemplo, em relação ao inconsciente; 7. Uso do biógrafo de Freud como uma fonte confiável; 8. Enumerações que homogenizam preconceitos; 9. Colocar os psicanalistas como manipuladores e poderosos. Finalmente, no terceiro post, Dunker aponta que os autores não souberam avaliar as psicoterapias. No texto, o colunista traz considerações sobre a dificuldade de avaliar psicoterapias. Segundo ele, existe controvérsia na literatura sobre o que constituem evidências de boa qualidade, quais métodos devem ser empregados para estabelecer a eficácia de uma terapia, quais as melhores formas de medir resultados. Além disso, há apenas algumas áreas da medicina em que os estudos mostraram uma boa qualidade de pesquisas. Pasternak e Orsi responderam em um texto também publicado em Tilt. Segundo eles, "é de conhecimento público a reação intensa da comunidade psicanalítica, que no Brasil, especialmente, não está acostumada a ser questionada - nem mesmo dentro da academia." Os autores afiram que não pretendem prescrever como as pessoas devem cuidar de sua saúde ou onde devem investir seu dinheiro. E convidam o público a refletir sobre o conteúdo apresentado. **** LEIA TAMBÉM: Por que livro de Natália Pasternak está causando revolta de psicanalistas? |
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