O governo Jair Bolsonaro apresentou até agora somente uma parte da sua proposta de reforma tributária, com o plano de unificar PIS e Cofins com alíquota mais alta. Mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, já adiantou outras mudanças que devem vir por aí. Uma delas afetaria diretamente o bolso de quem compra ações: a criação do imposto sobre dividendos. Dividendo é uma forma de a empresa distribuir lucros aos acionistas, que é quem tem ações daquela companhia. Por exemplo, se uma empresa diz que vai distribuir 25% dos lucros de um ano, de cada R$ 1.000 de lucro líquido, R$ 250 serão enviados aos acionistas. Hoje, quando uma empresa distribui dividendo de R$ 1 por ação, quem tem 1.000 ações vai receber R$ 1.000 em sua conta na corretora, sem nenhum desconto de imposto. Dividendos pode servir como renda a aplicadorAlgumas empresas são conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos. Por isso, atraem investidores interessados em ter uma renda como parte de uma aposentadoria, por exemplo. Dessa forma, eles conseguem um ganho independentemente da valorização da ação e sem ter que se desfazer dos papéis. Guedes quer taxar dividendos em 15%Os dividendos estão isentos de imposto no Brasil desde 1996. Mas agora o ministro da Economia, Paulo Guedes, quer aplicar uma taxa de 15% sobre os dividendos. Como contrapartida, o governo reduziria o Imposto de Renda das empresas. A lógica, diz o ministro, é reduzir os impostos da pessoa jurídica e cobrar mais do acionista para que as companhias tenham mais recursos para investir e crescer. Para a advogada tributarista Ana Cláudia Utumi, a mudança é positiva, mas apenas se a redução do IR compensar o novo tributo. Quem compra ação por causa do dividendo pode perderInvestidores que escolhem ações com foco no pagamento de dividendos, para embolsar a renda todo ano, podem sair perdendo. Como a tendência é que as empresas reduzam os dividendos e usem o dinheiro para investir, as que não o fizerem devem ficar menos atrativas, especialmente se o governo não calibrar muito bem o novo imposto com a redução do IR, segundo o advogado tributarista Lucas Dollo. Ou seja, além de levar para casa um dividendo menor após a "mordida" da Receita Federal, esse investidor terá em sua carteira uma ação com menor potencial de valorização. "O mercado avalia uma ação em função do fluxo de caixa da empresa. Se o imposto sobre dividendos afetar esse fluxo de caixa e isso não for compensado por redução de imposto, a empresa vai valer menos. Reinaldo Lacerda, sócio da Hieron Patrimônio Familiar e Investimento Quem mira valorização no longo prazo pode ganharInvestidores que escolhem ações mirando a valorização da empresa no longo prazo, e não a renda do dividendo, podem sair ganhando. As empresas que reduzirem o dividendo deverão reter mais dinheiro em caixa, tendo mais fôlego para investir e ampliar o potencial para vendas e lucros no futuro. A expectativa de mais dinheiro para investir tende a valorizar uma empresa, com reflexos na ação negociada em Bolsa. Para quem compra ação com objetivo de revender o papel no futuro, no longo prazo, essa mudança pode ser positiva. Carollyne Mariano, sócia da empresa de consultoria financeira Redoma Invest Fundos de ações podem sofrer impacto maiorQuando uma empresa distribui dividendos para ações que estão em um fundo, aquele dinheiro aumenta a cota do investidor. Para a Receita, isso representa um ganho, um rendimento. Por isso, é cobrado IR de 15%, uma fatia que o próprio administrador da carteira retém. Por exemplo: um fundo de ações que possui papéis da Petrobras tem direito a dividendos de R$ 1 milhão da petroleira. Desse valor, R$ 150 mil (15%) nem chegaria aos cotistas do fundo —seriam separados para pagamento de imposto. Ao criar o imposto sobre dividendos, se o governo não detalhar como fica a situação dos fundos, essas carteiras acabarão tendo um custo maior com tributos: vão pagar 15% pelos dividendos e, do que sobrar, mais 15% de IR pelo ganho da cota. Pergunta do leitorO leitor Domingos Menezes pergunta: "Tenho um investimento em previdência privada. Como o real está se desvalorizando ante o dólar, seria melhor investir na compra do dólar comercial?" Investimentos em previdência possuem prazo de maturação longa e objetivam a aposentadoria. Recomenda-se que alterações ou novas decisões de investimentos sempre sejam tomadas após avaliação de seus objetivos, horizonte de tempo da aplicação e tolerância a riscos e perdas. Comprar dólar ou ativos com exposição ao dólar é uma decisão recomendada em uma visão de longo prazo e que complemente portfólio diversificado. No entanto, este tipo de investimento possui alta volatilidade e alto risco de perdas. Consulte sempre um especialista para tomar a decisão correta, que permita atingir seus objetivos financeiros. A resposta é de Fábio Liberatti, planejador financeiro certificado pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros). Leia também: Dólar já subiu bastante em 2020, mas ainda dá pra investir na moeda norte-americana? Queremos ouvir vocêTem alguma dúvida ou sugestão sobre investimentos? Mande um email para uoleconomiafinancas@uol.com.br |
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