"Eu só sou o pai que todos os pais deveriam ser" Thammy Miranda O babado da semana, pra quem por acaso conseguiu ficar ausente das redes sociais nos últimos dias, foi o anúncio da campanha do Dia dos Pais da marca de cosméticos Natura com a presença do ator Thammy Miranda como um dos pais. Qual seria o problema? Para algumas pessoas, como o pastor Silas Malafaia, que tentou iniciar um boicote contra a empresa, é uma "afronta aos valores cristãos" colocar "uma mulher para fazer papel de homem". A questão, para essas pessoas, é que Thammy é um homem trans —casado com Andressa Ferreira e pai do pequeno Bento de seis meses. E, então, a gente poderia continuar perguntando: qual é mesmo o problema? Mas a polêmica em torno da campanha com Thammy vai muito além de entender e aceitar que Thammy é, sim, homem e pai. E traz lições interessantes. 1. Já passou da hora de superarmos a transfobia. Como bem apontou nossa blogueira Luiza Sahd, era natural que, em um país conservador como o Brasil, uma campanha de Dia dos Pais com um homem trans provocasse reações exacerbadas. "O medo do desconhecido faz com que as pessoas reajam a pessoas cuja identidade é difícil de categorizar como animais reagem a predadores desconhecidos", escreve Luiza. O que a tradicional família brasileira não entende é que "tentar enfiar uma identidade de gênero goela abaixo de uma pessoa é tão estúpido como era a regra de que mulheres não podiam vestir calças". 2. É hora de valorizar os pais presentes. Esse é o mote da tal campanha publicitária, que implicitamente destaca que pais presentes não são tão comuns assim no Brasil. Como bem lembrou nossa colunista Nina Lemos, 5,5 milhões de brasileiros não possuem registro do pai na certidão de nascimento. "Quantas amigas vocês têm que foram abandonadas pelo pai? E quantas amigas foram abandonadas pelo pai de seus filhos e criam os filhos sozinhas?", questiona Nina, enquanto destaca que Thammy parece ser um pai apaixonado e dedicado. 3. Chega de se meter na maternidade e paternidade alheias. Cansamos de publicar, aqui em Universa, histórias de mães e pais que foram repreendidos por não seguir padrões impostos pela sociedade. Como o próprio Thammy enfatizou, "as pessoas, quando criticam, falam mais sobre elas do que sobre mim. Todas as críticas que eu recebi são uma forma de as pessoas exporem suas próprias frustrações", disse, em entrevista à revista Quem. "Só lamento não poder ser pai do filho de todos eles, porque eles teriam o melhor pai do mundo." 4. Campanhas de boicote sem sentido geram outras de incentivo. Após Silas Malafaia ter pedido um boicote geral à Natura pela campanha com Thammy, o youtuber Felipe Neto, que tem 39 milhões de inscritos em seu canal, ofereceu publicidade gratuita à empresa de cosméticos. "Colocarei inserção publicitária em alguns vídeos informando como comprar produtos e incentivando a marca", escreveu Neto. O tiro do pastor saiu pela culatra. 5. As empresas (espertas) lucram ao apostar em diversidade. As empresas que já despertaram pra necessidade de serem mais diversas e inclusivas, tanto em suas campanhas quanto em seus quadros de funcionários, estão ganhando dinheiro com isso. Não é à toa que, apesar de todo o bafafá nas redes (e também por causa dele), após a divulgação da campanha do Dia dos Pais, as ações da Natura dispararam na Bolsa de Valores. |
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