Brasileiro gosta de treta. Não há outra explicação para a permanência de programas como A Fazenda no ar. Conferi um fim de semana da atração da Record, esperando uma gincana entre uma turma de anônimos que acreditam ser famosos. O que vi foi um festival de agressões, baixaria, péssima educação e zero propósito. Brasileiro gosta de treta, beleza. Mas tudo tem limite. Reality shows, em teoria, são um barato. De Master Chef a RuPaul's Drag Race, competições que misturam provas e bastidores fazem parte da história da TV desde sempre. Existem regras, existe a mobilização em torno de um objetivo, existe um prêmio. Do lado de cá, as torcidas incensam seus favoritos, celebram as vitórias e lamentam as derrotas. É entretenimento! A Fazenda, por outro lado, é um animal diferente. O SBT começou a moda no comecinho do século com Casa dos Artistas, que atropelou a Globo antes do lançamento de Big Brother Brasil. A ideia era isolar uma turma em uma casa cenográfica e, ao longo de semanas intermináveis, acompanhar a eliminação um a um por voto popular até descobrir o campeão. Alguns chamam programas assim de "jogo", com "competidores" tecendo seus predicados para se sobressair no programa. Na prática, a turma confinada é submetida a pequenas sessões de tortura, às vezes passando fome ou sendo privadas de sono, para satisfazer um traço levemente sádico de quem ainda acompanha religiosamente a rotina da turma. Hoje, isso parece ser secundário. Em A Fazenda, ao menos no pouco que acompanhei, tudo parece girar em torno do clima bélico instaurado entre os participantes. Existe um componente psicológico clássico observado em grupos confinados, em que a razão logo dá lugar a animosidade, que na TV fica a um fio de partir para a agressão. "O Senhor das Moscas" versão light. Para quem participa, o prêmio em dinheiro é o grande atrativo. No mundo regido pelas redes sociais, contudo, existe também a ilusão da fama e fortuna que podem vir da exposição. Não existem famosos. São ex-participantes de outros reality shows, ex-namorados de alguma subcelebridade, filhos de outras, influenciadores (a "profissão" de quem não tem profissão), artistas classe z. São pessoas absolutamente desinteressantes desfilando sua inabilidade social para o Brasil ver. Quando todos estão em repouso e a conversa rola solta, somos brindados com a transmissão ao vivo de um vácuo. O maior mistério para mim é ver uma colega jornalista deixando o resto da casa em pânico pelo simples fato de saber falar como uma pessoa normal. Assustador. A Fazenda pode ser um programa curioso para desenhar um TCC em antropologia. Como entretenimento é uma nulidade completa, uma ilusão que salta de emissora em emissora a cada temporada. Ao menos aqui, entre um e outro barraco, a turma aprende a cuidar dos bichinhos. Para quem de fato ainda assiste ao programa, porém, isso é secundário. Brasileiro gosta de treta. |
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