O debate sobre a ciência e a pseudociência voltou à coluna do psicanalista Christian Dunker nesta semana. Na sua coluna, em Tilt, Dunker alerta que devemos tratar não apenas as pseudociências, mas também as pseudotecnologias científicas. O psicanalista lembra que o brasileiro admira e respeita muito a ciência, mas que tem dificuldades em nomear os cientistas do país ou mesmo os principais centros de pesquisa no Brasil. Por isso, o saber da ciência possui autoridade no Brasil, mas seu poder efetivo depende da técnica, dos meios de ação a partir deste saber. Com tudo isso, a discussão sobre o estatuto da ciência voltou à tona. Dunker afirmou que as pesquisas de Popper sobre teoria da ciência, incluindo o problema da demarcação entre ciência e não ciência, bem como entre ciência e pseudociência, ocorre no contexto de sua colaboração com Friedrich Hayek, pensador central do neoliberalismo, entendido como teoria econômica de reação às planificações autoritárias. Resulta desta aliança um antídoto pelo qual o único conhecimento digno de crédito e autoridade se expresse em: - Uma epistemologia monista (que acredita em um único método);
- Unicista (que acredita em uma só Ciência);
- Que repudia sua própria história (acreditando apenas em seu último capítulo);
- Que desqualifica a cientificidade das ciências humanas;
- Que subalterniza os saberes que não se expressam em sua linguagem e;
- Que se globaliza em torno de consensos e critérios normativos em nome de um sujeito sem raça, sem gênero, sem etnia, sem classe, sem interesses.
Baseada exclusivamente em propriedades formais do método, em enunciados verificáveis, proposições falseáveis, tanto a epistemologia de Popper quanto o neoliberalismo de Hayek dependem de uma teoria da mente, capaz de ligar de modo universal estados psicológicos dos sujeitos, tais como certeza, confiança e crença com afirmações, verdadeiras ou falsas, sobre o mundo, a natureza ou os fatos. Para Dunker, percebida como administradora exclusiva, como monopólio das regras de produção de conhecimento e uso legítimo da razão, "A" ciência será odiada pela sua arrogância e por seu desprezo pelas outras formas de racionalidade, ainda que não científicas nestes termos. Essas outras formas de racionalidade, muitas vezes, são chamadas de pseudociências, como se todo o cosmos universal e toda razão consistisse em substituir o senso comum pela verdadeira ordem de conhecimento, real e científica. Curiosamente esta soberania da ciência é menosprezada pelas classes mais educadas (que parecem perceber melhor como ela não é exatamente neutra e desinteressada) do que pelas classes populares que ainda acreditam que formas mais elevadas de saber justificam formas elevadas de poder. Esta ideia de que as práticas humanas, com seus dilemas éticos, com os seus impasses de decisão e escolha, possam ser tratadas por teorias "automáticas" que excluem qualquer dúvida ou consideração feita pelos "mortais" torna-se um alvo fácil para o ressentimento cognitivo. |
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