1 ano dançando com a vida no Rio de JaneiroHá um ano eu saí de casa, percorri 2.300 km e cheguei em casa.Me mudar pro Rio de Janeiro foi desafiador em alguns aspectos, mas uma parte nada difícil foi me sentir bem aqui. Construir uma rotina gostosa na cidade foi das coisas mais fáceis que já fiz. Ao mesmo tempo, foi difícil desapegar do Recifinho, mesmo sabendo que nada nessa vida é definitivo. No ano passado, depois de resolver ficar no Rio e alugar um mini apê aqui, voltei pro Recife e enfiei tudo que coube em duas malas. Chorei ao ver meu quarto vazio e pensei que era loucura abrir mão da comunidade em que vivia. Tive febre na véspera da partida. Meu corpo também sentia. De volta à recém alugada casinha, estranhei viver num espaço pequeno depois de ter habitado sozinha um apê bem maior. O gás ainda não tava instalado, e eu tava sozinha pra lidar com todos os BOs. Mas o estranhamento durou poucos dias. Pratiquei pedir ajuda e entendi o que uma amiga previu: consigo criar um lar onde estiver. Hoje amo tanto essa casinha quanto amei a antiga. Continuo amando ver a árvore mexer em frente à minha janela, tomar café da manhã com calma e ler na rede, como no Recife. Não tenho a menos de 20 minutos de mim as pessoas que mais amo, mas tenho a mim. Tenho feito mais exercícios, caminhado mais e me alimentado melhor. Tento organizar minha agenda em função dos dias de sol, e às vezes durmo com cabelo de mar em plena quinta-feira. Tenho minhas barracas preferidas na feira do bairro e tem semanas em que vou ao teatro dois dias seguidos. Quando amanheço amuada, vou pedalar no Aterro em busca de um respiro - nunca falha. Além da minha paisagem particular, como o beco do meu conterrâneo, a Glória, a baía e a linha do horizonte muito me importam. Assim como o grupo dos vizinhos do bairro que levam remédio pra quem tá doente e emprestam cooler pra quem nunca viram, a confeitaria que só vende cerveja e PF, o sino do Outeiro me avisando que são 12h e 18h, as flores do meu aniversário que levaram 15 dias pra murchar e essa versão de mim que aos domingos samba sem saber sambar. Temi que o encantamento durasse pouco, mas ele continua aqui. A música do metrô segue me fazendo sorrir, assim como os encontros serendipitosos com amigos na rua e as tardes em que o mar tá boiável. Ainda me espanto quando olho pela janela e vejo o pedaço do Pão de Açúcar, quando volto de viagem passando pelos Arcos da Lapa ou quando atravesso a Cinelândia depois do dentista: menina, num é que eu moro mesmo no Rio? Longe de onde cresci, me sinto um pouco mais livre pra escolher a pessoa que quero ser, como fazia mochilando por aí. Também tem sido mais fácil lembrar que a vida é feita de possibilidades, mesmo nos dias em que não as enxergo tão bem. Já fiz forró contemporâneo, uma aula divertida que nem nome tem e palhaçaria, que me dava muito medo. Às segundas, vou desenhar e dançar. Tou sempre conhecendo gente nova e quando saio de casa não sei onde vou parar. Sou muito grata por tudo que o Rio já me trouxe e gosto de pensar que é só o começo. Seja como for, que bom que eu vim. Depois de me ver saturada de muita coisa que me interessava, e que associava à minha identidade, venho tecendo novos caminhos – pessoais e profissionais. É difícil se despedir de partes de nós, mas é assim que abrimos espaço pro novo. Parafraseando Tamara Klink, no livro Mil Milhas: Quando parti do Recife, também parti de mim. (dessa que aceitou menos do que desejava dessa que esqueceu que podia ser tantas dessa que se espremeu pra caber onde dava). Desde que deixei meu último emprego fixo pra empreender, ainda tou aprendendo a me sentir confortável nesse lugar de escolher a vida que faz sentido pra mim. Tem dias em que me culpo pelo privilégio (inútil narcisismo), em outros tenho medo de que seja bom demais pra ser verdade (quando deixar de ser bom, darei um jeito), ou me cobro por não dar conta de tudo (quem dá?). Vira e mexe preciso me lembrar de fincar o pé no presente, celebrar meus processos, ter paciência com a distância entre quem sou e quem desejo construir. Às vezes esqueço que a gente aprende em ciclos e é preciso retomar os mesmos temas várias vezes, como ressaltou uma das minhas professoras de ensino de Português pra estrangeiros - serve pra idiomas e pra tudo, né? “Tás vivendo a vida que tu sempre quis”, me disseram esses dias. “Nem sei se diria isso porque não sabia querer isso, mas tenho sido feliz”, respondi. E por aí, tens se permitido querer o que nem sabes possível? Me conta! O que tem rolado por aquiUm dos novos caminhos que, indiretamente, o Rio abriu pra mim foi o de ensinar português como língua estrangeira. Já tinha dado aulas quando morei na Espanha, no que parece outra vida, mas agora tou fazendo uma pós em docência de PLE e voluntariando na LGBT+Movimento, organização muito legal que acolhe pessoas refugiadas e imigrantes LGBTQIA+ aqui no Rio. Recomendo acompanhar o trabalho delas no Instagram e, se puder, fazer uma doação. Se souber de pessoas gringas querendo aprender nosso idioma lindo, me conta! No blog, tem post novo sobre voluntariado ambiental, um guia muito legal com roteiros pra mochilão no Nordeste do Brasil e duas entrevistas com meu amigo Richard, que ama uma peregrinação e percorreu sozinho centenas de quilômetros no Caminho de Cora Coralina, em Goiás, e na Estrada Real, de Ouro Preto a Paraty. Também tem dicas do que fazer em Vitória e Vila Velha, no Espírito Santo, e um texto explicando como funciona a Liberfly, empresa que facilita muito a vida de quem teve algum problema com companhias aéreas e quer receber indenização rapidinho. Ah, escrevi um guia de onde ficar em Valparaíso, minha cidade preferida no Chile, e atualizei meu post antigo sobre o que fazer por lá. No Instagram, tenho aparecido cada vez menos no “modo blogueirinha”, mas fiz um Reels pra guardar alguns dos melhores momentos desse 1 ano de Rio. Abri minhas janelas e viO Dia da Amazônia foi celebrado ontem e é uma boa deixa pra gente lembrar que a situação da floresta – e do meio ambiente como um todo – tá realmente gravíssima, e pedindo por ações urgentes. Essa entrevista da Revista Gama com Eliane Brum, autora do incrível livro Banzeiro Okotó e uma das melhores jornalistas que esse mundo já viu, tá excelente. Vale conferir também o podcast Pavulagem, que conta histórias folclóricas da Amazônia narradas por contadores de histórias do no Norte do Brasil. Muito legal! E o assunto “efeitos negativos do turismo” tá quase virando uma seção permanente dessa news. Dessa vez, vão links pros textos Por que o Instagram nos transforma em turistas piores, do Nexo; e Chega de turistas: destinos da Europa impõem proibições, multas e impostos, da Forbes. Ambos tocam em temas que abordei no meu livro. (Ah, essa foto aí em cima é do livro de fotografia Small World, de Martin Parr, que satiriza nossa busca por culturas autênticas enquanto destruímos essa tal autenticidade). Também vale conferir esse vídeo rapidinho do meu conterrâneo Caio Braz em que ele resume algumas das problemáticas envolvidas com o Airbnb, que teve seu uso ainda mais restrito em NY. Gentrificação, especulação imobiliária, viajar indo além do mais turístico, conseguir fontes de renda extra… Tem muitas camadas aí. Mudando de assunto, recomendo 200% o episódio Quem tem medo de mulher segura?, do podcast Bom dia, Obvious. Que doidice é a gente se dar ao direito de nos celebrar, né? Compartilhando descontinhos
Obrigada a quem leu até aqui, e boas viagens pra fora e pra dentro por aí. 🧡 Beijo, Luísa Curtiu esta newsletter? Compartilhe-a com alguém que pode gostar também🧡 |
quarta-feira, 6 de setembro de 2023
1 ano dançando com a vida no Rio de Janeiro
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