Finalista das últimas cinco edições do Campeonato Mundial masculino de vôlei, a seleção brasileira chega ao torneio deste ano, que começa na sexta-feira (26), sob desconfiança. O técnico Renan Dal Zotto disse ao Olhar Olímpico que considera o time um dos muitos favoritos ao título e estava empolgado com a preparação, há pouco mais de uma semana. Mas o sentimento da torcida e os resultados recentes levam ao caminho oposto. Nas casas de aposta, o Brasil passa longe de ser azarão. Em dois dos maiores sites de aposta do mundo, um título da seleção brasileira só é menos cotado do que a taça indo para a Polônia, atual campeã mundial e que vai jogar em casa (também haverá jogos na Eslovênia), e para a França, campeã olímpica no ano passado. Em uma dessas casas, o título do Brasil paga o mesmo que o dos EUA. A confiança vem do histórico. O Brasil foi campeão mundial em 2002, 2006 e 2010, e vice em 2014 e 2018, perdendo as duas finais para a Polônia. No século, são 46 vitórias e só oito derrotas. Apenas a Polônia (três vezes), a Holanda, a França, os EUA, a Bulgária (em um jogo entregue pela seleção) e Cuba venceram o Brasil na competição desde 2000. Por essas e outras, o Brasil tem a camisa mais pesada do vôlei mundial e a fama de se reinventar, com o poder de bater de frente com todo mundo mesmo mudando jogadores, gerações e treinadores. Foi assim, por exemplo, no começo da caminhada de Renan como técnico da equipe: ele venceu a Copa dos Campeões de 2017, foi vice do Mundial em 2018 e campeão da Copa do Mundo em 2019. Em 2021, sob o comando distante dele (que estava se recuperando da covid), o Brasil ganhou a Liga das Nações encerrando 11 anos de jejum. O problema é que essa confiança que faz o Brasil olhar qualquer adversário de cima parece estar indo embora. Na Olimpíada de Tóquio-2020 já foi assim, com a seleção perdendo duas vezes para a Rússia (que não joga o Mundial por estar suspensa) e deixando escapar a medalha de bronze com uma derrota para a Argentina. O quarto lugar em Tóquio seria visto apenas como uma pedra no caminho não fosse a campanha ruim na Liga das Nações deste ano, com quatro derrotas em 12 jogos da primeira fase e a eliminação na primeira rodada de mata-mata para os EUA. E o que foi mais problemático: contra as equipes fortes, especialmente França e Polônia, não conseguiu competir. No fim de semana, o Brasil reencontrou os franceses em amistoso e perdeu os quatro sets disputados. Mesmo assim, Renan vem mostrando otimismo. O treinador conta com dois reforços na comparação com o time que jogou a Liga das Nações. Se no primeiro torneio ele tinha só Darlan como oposto na fase final, depois de Alan se machucar, agora ele conta também com a volta de Wallace (que abriu mão da aposentadoria da seleção) e de Felipe Roque, que estava há um ano sem entrar em quadra. Renan, porém, fez uma aposta arriscada, que pode acabar sendo revista. Para ter os três opostos (Wallace, Roque e Darlan), o treinador abriu mão de um central na lista de inscritos e divulgou uma convocação final com só três meios de rede: Lucão, Flávio e Aracaju. Léo Andrade, de 20 anos, revelação do Sesi, foi dispensado na sexta-feira retrasada e chegou a jogar pelo clube no mesmo dia. Na quarta, foi reconvocado, porque Lucão, de 36 anos, sofreu uma entorse no tornozelo direito. O veterano voltou a treinar nesta segunda-feira, mas é arriscado, naturalmente, levar ao Mundial só três centrais, sendo que um deles está em condição física incerta. A dúvida é como Renan vai sair desta sinuca de bico. Vai cortar Lucão, mesmo sem fratura diagnosticada, e sabendo que ele é um dos líderes do grupo? Vai cortar Léo, pela segunda vez, e ir ao Mundial com só três centrais e o risco de não ter variações? Ou vai cortar um dos três opostos que estavam convocados e que já contavam com a inscrição no Mundial? O torneio começa para o Brasil contra Cuba, na sexta (26), às 6h de Brasília, em Ljubljana, na Eslovênia. A seleção joga lá de novo no domingo (28), contra o Japão, às 9h, e na terça (30), diante do Qatar, novamente às 6h. Passam às oitavas de final os dois primeiros colocados de cada chave, e mais os dois melhores terceiros. A partir dessa fase, todos os jogos são mata-mata. Será um Mundial de tiro curtíssimo. Um time, para ser campeão, fará só sete jogos, ante as 12 partidas necessárias em 2018 e 13 em 2014. Na história dos Mundiais, só em 1990 se jogou tão pouco. Como os chaveamentos serão definidos pela campanha na primeira fase, vai se dar bem quem vencer os três jogos sem ceder sets. Para o Brasil, isso passa por uma boa estreia contra Cuba, que já não é a potência que foi no passado e perdeu muitos jogadores por naturalização (como o brasileiro Leal). Este ano, os cubanos venceram a Challenger Cup, uma espécie de segunda divisão da Liga das Nações, e também a Copa Pan-Americana, torneio anual da confederação das Américas Central e do Norte. |
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