Até a eleição presidencial de 2018, as "máquinas de spam" via WhatsApp eram ilustres desconhecidas no Brasil, ainda que já estivessem entre nós. Elas ganharam a fama que tem após repórteres de UOL e Folha mostrarem que eram usadas à direita e à esquerda para disparar mensagens em massa. Não teria problema, mas... ... Muitos dos posts continham notícias falsas, além de o uso das ferramentas contrariar as regras do WhatsApp, justamente o aplicativo por onde eram mandadas. Agora, estamos na seguinte situação: às vésperas de uma nova eleição, você não tem candidato — tá perdoado, só ontem soubemos em que ponto de 2020 a votação vai ser—, mas já dá para apostar que elas são candidatíssimas a protagonista. De novo. Como entramos nesse buraco? Como saímos dele? Tem tudo a ver com o Facebook. O que rolou?Nesta semana, Tilt publicou uma reportagem que eu fiz sobre o drible que uma empresa está dando na Justiça. Estamos falando dela: A Yacows era uma das "máquinas de disparo" de 2018 e, depois disso, passou a ser investigada pela CPMI das Fake News do Congresso. Além dos parlamentares... ...O WhatsApp também não gostou muito do que ela fazia, tanto que processou a empresa e conseguiu que a Justiça a proibisse de atuar. Vitória? Nem tanto, porque... ...Basta contatá-la por telefone para comprar disparos automatizados. Ao que parece, a Yacows criou uma outra operação, porque... ...Atua em seu lugar uma nova empresa. Tudo bem, não fossem detalhes como uma ex-funcionária ser a dona e modelo de negócio, estrutura e até o site serem os mesmos. Isso... ...Indica, segundo advogados, que se trata de uma "confusão patrimonial" (isso é um termo técnico, acredite!) para que a nova empresa use o conhecimento da antiga sem obedecer as amarras impostas pela Justiça.
Por que é importante?Acionar na Justiça empresas que usam sua plataforma para disparar mensagens automática foi uma estratégia encontrada pelo WhatsApp como alternativa para um beco sem saída. Acontece que o aplicativo já modificou algumas funções (número de encaminhamentos caíram, inclusões em grupos foram restringidas, comportamentos inadequados resultam em suspensão de conta), e o problema das fakes news persiste. No decorrer do processo, o app admitiu que essas "máquinas de spam" exploram uma deficiência técnica de seu sistema. De alguma forma, elas encontraram um jeito de continuar a enviar muitas mensagens sem serem afetadas pelas desativações do WhatsApp. Nem a lei está a favor do WhatsApp, já que enviar spam não é ilegal. Por isso, o app só conseguiu decisão favorável da Justiça porque argumentou que as empresas exploravam sua marca sem autorização. Agora, sabe-se que nem essa cartada anda surtindo efeito. Durante a eleição, vigorará uma lei que proíbe estas máquinas. Diante do que está em jogo, a multa de até R$ 30 mil para candidatos infratores pegos é tão irrisória que parece um tapinha na mão. Não é bem assim, mas está quase láA notícia de que essas empresas continuam fazendo disparos em massa não poderia chegar em pior hora para o Facebook, dona do WhatsApp. A empresa está sofrendo um boicote de anunciantes, que acreditam que sua verba publicitária depositada na rede social ajuda a financiar grupos que promovem discurso de ódio. O movimento está acontecendo em escala mundial. Aqui no Brasil, o momento para esquecer veio com aprovação do PL das fake news no Senado. Ironicamente, vem dele uma possível saída para o problema do WhatsApp com as "máquinas de spam". O projeto tenta desfazer um dos nós do complexo emaranhado de brechas a que essas recorrem para atuar. Apesar de todas as controvérsias, o projeto tenta endurecer o cadastro de perfis em redes sociais e limitar o número de contas por pessoa. Ele também proíbe a existência dessas ferramentas. Só que o WhatsApp tem sérias ressalvas sobre o texto, principalmente porque ele cria o registro de mensagens encaminhadas, algo que o app classificou como "tornozeleira eletrônica". Na Câmara, será curioso ver como o Facebook repudia uma lei a despeito de ela trazer algo que a rede social sempre quis. |
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