Mesmo sem evidências científicas e contra as recomendações da OMS (Organização Mundial da Saúde), o Ministério da Saúde autorizou, nesta semana, o uso das substâncias cloroquina e hidroxicloroquina no tratamento precoce de pacientes com covid-19. A orientação é que o uso seja feito apenas após prescrição médica e o paciente assine um termo de consentimento — que diz, entre outras coisas, que "não há estudos suficientes para garantir certeza na melhora clínica" e que o uso desses medicamentos pode causar "redução dos glóbulos brancos, disfunção do fígado, disfunção cardíaca e arritmias, e alterações visuais por danos na retina." Utilizadas para tratar doenças como lúpus eritematoso sistêmico e discoide, artrite reumatoide e juvenil, doenças fotossensíveis e malária, as duas substâncias de uso controlado já são velhas conhecidas da medicina — sabe-se, por exemplo, que a hidroxicloroquina tem menos efeitos colaterais e por isso é considerada mais segura. No entanto, os efeitos existem: o mais perigoso é o risco de arritmia cardíaca, o que torna seu uso em casa muito arriscado. E, para completar, o custo-benefício não é, como o próprio Ministério da Saúde avisa, comprovado cientificamente. O mais recente estudo sobre a substância, publicado na renomada revista The Lancet, envolveu a observação de 96 mil pacientes nos Estados Unidos que foram tratados com o medicamento. O time de pesquisadores não só não encontrou nenhum benefício para o tratamento da doença, como ainda relacionou o seu uso a um risco maior de morte por problemas cardíacos. Ou seja, ainda precisamos de mais dados para ter confiança no uso desses medicamentos na luta contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2). E a azitromicina? Antibiótico considerado de espectro amplo (ou seja, utilizado no combate a diversas bactérias), a azitromicina vem sendo utilizada em conjunto com a cloroquina no tratamento dos pacientes graves da covid-19 — especialmente naqueles com pneumonia, doença pulmonar e doença respiratória aguda, desde que relacionadas ao vírus Sars-CoV-2. O problema é que seu uso frequente ou sem orientação médica pode colaborar para a resistência bacteriana. Isso significa que o antibiótico poderá não fazer efeito quando for necessário usá-lo em outra oportunidade. A corrida pela vacina continua Nesta semana, a empresa de biotecnologia Moderna anunciou que testes preliminares de uma possível vacina para o novo coronavírus tiveram resultados positivos. Embora a amostragem tenha sido pequena — apenas 8 pessoas — e o estudo original não tenha sido publicado, a notícia aumentou as esperanças de que teremos uma forma de imunizar as pessoas contra o vírus ainda este ano. A empresa informou que os indivíduos que receberam as doses da vacina desenvolveram níveis de anticorpos semelhantes ou superiores aos encontrados em pacientes já recuperados da doença, e novos testes com mais pessoas devem ser iniciados em julho. Enquanto isso, efetividade da vacina que vem sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, foi questionada após a publicação do estudo que mostra a fase de testes em animais. De acordo com a publicação, que ainda precisa ser revisada, embora a vacina não tenha causado nenhum efeito colateral severo e os macacos imunizados não tenham desenvolvido sintomas da doença, eles tiveram RNA viral detectado em suas vias respiratórias — indicando que a vacina pode ser parcialmente efetiva. Entidade alerta para sintomas da covid-19 em crianças A SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), em parceria com o Ministério da Saúde, a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) e a SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia), divulgaram no dia 20 um documento alertando para uma síndrome inflamatória em crianças e adolescentes associada à covid-19. Chamada de síndrome inflamatória multissistêmica, a doença foi identificada inicialmente no Reino Unido, mas já possui relatos de casos na Espanha, na França e nos Estados Unidos e tem como principais sintomas febre alta e persistente (entre 38°C e 40°C), erupções na pele, conjuntivite não purulenta, edema de mãos e pés, dor abdominal, vômitos e diarreia. Os médicos reforçam que o número de casos ainda é pequeno e a grande maioria se recupera após hospitalização, mas alerta tanto os pais como profissionais da saúde para buscarem ativamente por esses sintomas em pacientes em idade escolar. |
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