No ano passado, o estudo "Percepções Sobre o Agro. O Que Pensa o Brasileiro", feita por entidades do setor, apontou que cerca de 70% da população tem uma percepção positiva do agronegócio nacional. E os 30% restantes? Como fazer com que esse número de simpatizantes cresça? Pensando nisso, a ABMRA (Associação Brasileira de Marketing Rural e Agronegócios) resolveu lançar o projeto "Marca Agro do Brasil". A iniciativa pretende valorizar o produtor, por meio de uma série de campanhas publicitárias para que a população entenda - e se aproxime, inclusive fisicamente - do agronegócio. Entre 2002 e 2022, o PIB agrícola do país saltou de US$ 122 bilhões para US$ 500 bilhões - o equivalente a uma Argentina. A safra recorde de mais de 300 milhões de toneladas esperada para o Brasil neste ano evidencia a proporção que o agronegócio tomou dentro da economia brasileira. Para entender como funcionará a iniciativa, o UOL Mídia e Marketing conversou com Ricardo Nicodemos, presidente da ABMRA. Confira: O projeto nasceu do resultado da pesquisa que aponta que o agro pode ser mais querido pelos brasileiros. Como definir os próximos passos? Tudo começou com a pesquisa do Movimento Todos a Uma Só Voz, do qual a ABMRA também faz parte. Nosso propósito é conectar a cidade ao campo - e não o campo à cidade. Às vezes, a gente faz essa troca. A gente quer levar a cidade para o campo. Estou dizendo isso porque, na pesquisa, um dos indicadores é que todas as pessoas com tendência a boicotar o agro estão distantes do produtor rural, seja física ou socialmente. "Nossa ideia é estimular a empatia da sociedade urbana pelo produtor rural e por todo o trabalho que é realizado no campo. Precisamos mostrar para a cidade quem é que está por trás do leite e do café que tomamos, por exemplo". Como vocês vão trabalhar isso? | Ricardo Nicodemos, presidente da ABMRA | Imagem: Divulgação |
Dividimos o resultado do estudo em três grandes blocos. Em primeiro lugar, as boas notícias: a cada 10 brasileiros, sete têm uma atitude positiva em relação ao agro. O agro é um dos setores mais admirados pelo brasileiro - atualmente, ele só perde para a saúde. O segundo bloco é formado pelos sinais de alerta. Aqui, temos um ponto muito importante: daqueles 30% que não têm uma atitude positiva em relação ao agro, mais da metade (51%) são jovens de 19 a 29 anos. Isso representa cerca de 47 milhões de brasileiros que têm uma propensão a boicotar o agro, a difundir informações negativas sobre o setor. O terceiro inclui as janelas de oportunidade: estamos em um momento muito propício para fazer um grande projeto de posicionamento do setor. Há uma quantidade muito grande de brasileiros que estão abertos a receber informação sobre o setor. A ideia, então, é trabalhar ações e motivar que a sociedade vá para o campo. Não estou falando só de uma campanha: estamos estruturando um projeto integrado, com muitas iniciativas. Uma delas, por exemplo, é incentivar o turismo rural. "Precisamos proporcionar a experiência das pessoas no campo. As pessoas precisam ver como os tomates são plantados, como o café é colhido". O projeto "Marca Agro do Brasil" vai alcançar diferentes públicos. Para isso, criamos 10 conselhos diferentes, formados por 95 pessoas, para nos ajudar a construir essa estratégia. Quando vocês pretendem colocar essa campanha no ar? A ideia é criar uma biblioteca de ações. Eu vou falar com crianças, vou criar uma linguagem para falar com professores. Para os jovens, por exemplo, a gente vai ter comunicação nas plataformas de vídeo rápido. Para os adultos, a gente vai falar na TV, no rádio. Teremos uma equipe que trabalhará nesses conteúdos, que fará uma adaptação dessas linguagens para cada um dos públicos, sempre com uma visão a médio e longo prazo. Um exemplo: o produtor, muitas vezes, planta algo para colher daqui a três anos. Maçã e uvas são exemplos disso. É chegada a hora de nós estruturarmos um projeto assim também, e fazer o que países como Estados Unidos e Colômbia já fazem há algum tempo. E quem que vai pagar essa conta? Nós estamos construindo isso. A ideia é que o custo dessa campanha seja dividido em cotas, que serão pagas pelas indústrias de dentro e de fora do agro, além das associações. A gente também vai fazer algo diferente, mas que é comum fora do Brasil: vamos chamar o produtor para contribuir também. Ele precisa entender que marketing faz parte da rotina dele. Que marketing o ajuda a agregar valor no que ele entrega. "O objetivo final dessa longa jornada é tornar o agro uma grande paixão nacional. Fazer com que o brasileiro entenda que o Brasil é vocacionado para o agro e que ele tem que aproveitar isso, assim como aproveita o Carnaval e o futebol". Hoje, nós temos 30 mil vagas abertas no agro. Parte dessas posições não são preenchidas por questões de preconceitos, de pessoas técnicas, seja de tecnologia e comunicação, que têm uma imagem deturpada do setor. Quando o público vai começar a perceber essa campanha na mídia? Nossa previsão é que o projeto comece a impactar a população no final do primeiro semestre. De agora, até o final de junho, a gente entra com planejamento, criação e captação de recursos. O grande desafio é identificar como eu crio essa narrativa para que as ações toquem o coração das pessoas. A gente precisa que as pessoas da cidade olhem para o produtor rural e falem: "você é meu herói". Isso acontece nos Estados Unidos, por exemplo. Tivemos uma grande polarização política do setor na última eleição. Como fica com o novo governo? Isso vai facilitar que o agronegócio seja visto com olhos diferentes? Entendo que o setor, hoje, é a locomotiva da economia do país. Ele anda a grandes passos, independente do líder que esteja no comando da nação. Você pode ter pontos de vistas diferentes entre os líderes, mas a gente já observa no movimento dos ministros, por exemplo, que você não deve mexer numa locomotiva que hoje puxa a economia. Hoje, é a grande fornecedora de alimentos, é a grande fornecedora de matéria-prima, é a grande conexão do país com o mundo. Continuaremos nessa curva ascendente de crescimento, essa locomotiva precisa seguir nesse trilho - e, até, aumentar essa velocidade. Isso trará dividendos e ajudará em todas as frentes que o país precisa. |
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