Na manhã desta sexta-feira, Bolsonaro anunciou que a nova orientação da Pasta da Saúde estava para sair. Ele quer algo na linha de "o ministério recomenda...". Teich relutou por falta de segurança nos estudos da eficácia do medicamento.
Bolsonaro já deu várias demonstrações de que, no governo, quem manda é ele. Não vale discordar ou sustentar que o rumo projetado pelo presidente pode estar errado. Vale para Bolsonaro a ordem que ele dá. Por isso, a insistência de que é preciso relaxar o isolamento social imposto pela doença, e de que é preciso utilizar medicamentos, mesmo a aplicabilidade dessas medidas ainda seja de comprovação duvidosa.
Quando estava para cair do cargo, o então ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta deixou um recado cifrado sobre a percepção que Bolsonaro, segundo o ex-ministro, tem da pandemia. Chamou Bolsonaro de "extremamente humanista".
"Em outras palavras, eram humanistas: não acreditavam nos flagelos. O flagelo não está à altura do homem; diz-se então que o flagelo é irreal, que é um sonho mau que vai passar. Mas nem sempre ele passa e, de sonho mau em sonho mau, são os homens que passam, e os humanistas em primeiro lugar, pois não tomaram suas precauções”.
Procurado pela repórter, Mandetta contou ter lido o livro recentemente e reconheceu que a citação não foi ao acaso. "Deixei uma mensagem subliminar para vocês", comentou.
Às voltas com o conteúdo do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, alvo de investigação do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Jair Bolsonaro passou a semana dando meias explicações sobre o episódio. No cerne das idas e vindas do governo sobre liberar ou não o vídeo para conhecimento público está a apuração que coloca o cargo do presidente sob ameaça.
O presidente começou a semana jurando que não falou em Polícia Federal no fatídico evento de governo. Alegava que era invenção do ex-ministro Sergio Moro, seu neoadversário.
Vieram a público os depoimentos dos ministros palacianos. Dois deles, Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e Luis Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, disseram o contrário. Bolsonaro falou sim na Polícia Federal. Mas, segundo eles, o presidente referia-se a relatórios de inteligência produzidos por vários órgãos, incluindo a PF.
A versão que o presidente tenta impor é a de que apenas queria se informar do que o governo produz de documentos. E não seria um político querendo interferir nas ações de investigação da PF que poderiam atingir seus parentes.
Os fatos anteriores à reunião do dia 22 e também os que vieram após a demissão de Moro não contribuem para a versão que Bolsonaro apresenta. Mesmo que agora, diante de trechos degravados pelo próprio governo, o presidente dê uma explicação que não combina com a seriedade do momento: que não falou em Polícia Federal, mas em "PF". A sigla do órgão.
A MP que dá indulto
O governo editou Medida Provisória para evitar que agentes públicos sejam administrativa e civilmente processados por atos relacionados à pandemia. O texto praticamente impede a responsabilização de autoridades sob o argumento de que as incertezas sobre o Covid-19 são tantas que não seria possível culpar um gestor por ter agido dessa ou de outra maneira. O governo se encarregou de sustentar que a medida fora feita por conta da preocupação do setor econômico do Executivo de não ser responsabilizado por estar liberando recursos para o combate à pandemia, mesmo com os cofres do Erário vazios. Mas o texto é tão amplo que houve reação no Congresso, na desconfiança de que a MP serviria para livrar da responsabilidade agente público que possa ter exposto a população a risco. No STF, ministros viram no texto da MP uma espécie de indulto prévio para eventuais delitos.
Enem pode ser adiado
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, desde o início da pandemia bate o pé: o Enem, previsto para novembro, não será mudado. Reforçando o discurso do presidente da República de que a vida tem que voltar ao normal, fazia sentido o MEC insistir que não tinha motivo para alterar a data do exame que assegura o acesso de estudantes ao ensino superior. Mas esta semana, pela primeira vez, Bolsonaro admitiu alterar o dia da prova. Weintraub não costuma contrariar o chefe.
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