Toda crise traz consigo os mais diferentes candidatos a herói. Enquanto os governadores de RJ e SP disputam com o presidente Jair Bolsonaro uma guerra de narrativas para indicar o vilão da vez, os cientistas elegeram seu campeão para enfrentar o coronavírus com algo mais além das palavras. São os supercomputadores. Para facilitar que a coisa vire história de herói, eles já têm "super" no nome, possuem poderes além da capacidade humana e já vêm dando resultado. Não chega a ser um exagero pensar que, se você precisar tomar remédio para se curar da covid-19, provavelmente o medicamento terá nascido de uma dessas máquinas. O que rolou?O bate-boca entre governadores e o presidente tem ocupado boa parte do noticiário político a respeito das ações para combater a pandemia. As ações concretas, por ora, são como os vírus. Não são vistas a olhos nus. Na academia, por sua vez, não há um cientista que não atenda meus telefonemas dizendo que está uma loucura. Já sequenciaram o genoma do novo coronavírus (SARS-CoV-2), estão criando testes, vacinas e... tentando encontrar medicamentos. É aí que entram os supercomputadores, afinal: - Como são capazes de fazer muitas simulações e cálculos complexos em curto tempo, essas supermáquinas estão "testando" virtualmente se os medicamentos existentes conseguem inibir a ação do vírus. Só isso já seria bom, mas...
- ... As maiores empresas de tecnologia no mundo começaram a ceder seus supercomputadores para agilizar o processo. Há pelo menos quatro frentes dessas iniciativas:
- Folding@home, coordenada pela universidade de Stanford e que tem a Petrobras entre as participantes;
- Covid-19 High Perfomance Computing Consortium, liderada pelo governo dos EUA;
- Seattle Coronavirus Assessment Network, da Bill e Melinda Gates Foundation e que recebeu apoio da Amazon;
- Iniciativas individuais das empresas, como as de IBM, Amazon e Google.
Por que é importante?Os supercálculos já estão surtindo efeito. O supercomputador Summit, da IBM, identificou 77 substâncias capazes de impedir que o coronavírus nos atinja. Os pesquisadores alimentaram a máquina com 8 mil compostos químicos diferentes, e ela tratou de ver qual deles funcionava. Um trabalho semelhante foi feito no Brasil pelos pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisas em Energias e Materiais (CNPEM), de Campinas (SP). Conforme o repórter de Tilt Gabriel Francisco Ribeiro conta aqui, eles começaram com 2 mil substâncias. Já reduziram a uma lista das cinco mais promissoras. Estão entre eles a cloroquina e a hidroxicloroquina, apontadas por Trump e Bolsonaro, ainda de forma exagerada, como a salvação. Não é bem assim, mas está quase láRepare que até agora só tratamos aqui da alta capacidade dos supercomputadores. Só que as máquinas não são operadoras sozinhas. São os pesquisadores por trás desses trabalhos quem têm vestido a capa e botado a cara na janela para salvar o dia. Eles são até agora a boia de salvação em meio a um mar de incertezas e de ações públicas desencontradas, quando não controversas. Curiosamente, são os profissionais cujo trabalho já foi desqualificado por figuras nefastas da esfera pública federal. Não sei quando, mas essa crise uma hora vai passar. Quando tudo isso acabar, lembrem-se de quem colocou a mão na massa para achar soluções. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário