Em algumas conversas que tive com amigos e amigas nesses últimos dias desde que o isolamento social começou, me chamaram a atenção para o fato de eu trazer otimismo para um cenário tão cheio de incertezas e medos. Fiz isso de maneira nada proposital. Afinal, eu sou um otimista de carteirinha. Confio em coisas que ninguém mais confia. Acredito que vai dar. Quebro a cara várias vezes, mas mesmo assim entro em campo sempre vestindo a camiseta do otimismo. É assim que eu sou e não sei como ser diferente. Deve ter sido por isso que venci um câncer sem chorar ou me desesperar. Simplesmente sabia que ia dar tudo certo, como acabou dando. A humanidade está caminhando para sua autodestruição. Isso é um fato. Aquecimento global, extinção de insetos, perda de diversidade na natureza, explosão de problemas mentais em pessoas de todas as idades, uma falhada guerra às drogas, aniquilação de povos originários, só para listar alguns problemas ao nosso redor. Todos esses problemas não são novos, não começaram ontem. Nos acompanham e, pelo visto, não nos incomodam a ponto de fazer com que a gente mude nossa vida para acabar com eles. Logo, eles não seriam resolvidos tão cedo. Se a gente sabe deles e não faz nada, o que me faz acreditar que resolveríamos essas coisas nos próximos anos? A humanidade precisava parar. O nosso modo automático estava muito muito forte. Estava difícil se questionar, estava difícil enxergar novos caminhos. Estava difícil olhar com um mínimo de distanciamento para tudo que estava acontecendo. O PIB estava batendo na porta e precisava ser maior. Precisávamos continuar fazendo e crescendo. A humanidade parou. Precisava ser com um vírus mortal? Obviamente que não, mas pelo visto era a única solução disponível. Um terço do planeta está em isolamento social nesse exato momento que escrevo essa news (dia 28 de março). Parar é uma dádiva. Ter tempo para refletir é algo muito escasso na sociedade capitalista que vivemos: pouquíssimas pessoas têm esse privilégio dentro de suas rotinas diárias. A grande maioria, por não conseguir parar e refletir sobre o que está fazendo ou para onde está indo, acaba em empregos que não gostam, relacionamentos horríveis ou estilos de vida nada saudáveis. Mas agora a parada chegou para geral, e já que é a única opção que temos no cardápio, partiu abraçá-la da melhor forma possível. Que essa pausa forçada nos faça refletir sobre nossas vidas em comunidades. Quantos novos grupos de Whatsapp de prédios e condomínios surgiram? Quantos novos vizinhos e vizinhas finalmente se conheceram? Quantos atos de cuidado e carinho surgiram espontaneamente entre pessoas que vivem próximas? Que essa pausa forçada nos faça refletir sobre como é importante a aproximação social. Como é bacana poder encontrar seus amigos, abraçar pessoas que você ama, sair pra jantar e ter uma boa conversa entre amigas. Menos celular e mais olho no olho. Que essa pausa forçada nos faça refletir sobre como a humanidade inibe a vida dos outros animais. Cisnes e golfinhos em Veneza, araras-azuis em grandes cidades, mais insetos ao nosso redor. Tudo isso aconteceu pouquíssimo tempo depois da humanidade recuar. Que essa pausa forçada nos faça refletir sobre como o aquecimento global tem solução e talvez ele não seja tão inatingível. Um mês sem atividades e a poluição diminuiu drasticamente em mega cidades ao redor da China e da Europa. Que essa pausa forçada nos faça refletir sobre a importância do Estado na garantia de condições básicas de vida das pessoas. Ao contrário de quem pensa que governo deve ser o menor possível, são aos Estados que eles clamam por ajuda na hora da treta. Renda universal é um debate importantíssimo. Dinheiro existe, talvez só precise ser melhor distribuído. Que essa pausa forçada nos faça refletir mais sobre um sistema que não se sustenta se as pessoas mudam seu hábito. Vivemos em uma economia alicerçada em uma fina camada de gelo, totalmente frágil. Será que isso tá certo? Quão bom é um sistema que não funciona se as pessoas ficam doentes? Que não funciona se tu deixa de sair de casa? Que essa pausa forçada nos faça refletir sobre a necessidade de vivermos uma vida entendendo ela como um jogo infinito. Ela não tem fim, não tem vencedores. O que precisamos é criar condições para que ela continue sendo possível. (já expliquei sobre jogos finitos e infinitos aqui) Eu acredito realmente que a gente vai sair dessa crise mais consciente de como podemos funcionar melhor como sociedade. Enxergo que momentos de pausa, de reflexão, de silêncio e de atenção podem despertar nas pessoas ideias que antes não tinham tempo para criar raízes. E que dessa reflexão virão atitudes que tanto precisamos. Se na news anterior eu encerrei com a pergunta "seria o coronavírus o começo do fim?", tenho grande esperanças de que estamos no começo de um novo início. Espero que gostem dos links. - E se? Uma rápida pergunta que pode mudar sua vida. - Dicas de como a vida no isolamento pode ser mais saudável. - Nos é vendida a história de que somos seres naturalmente competitivos e que um sistema que estimula a competição praticamente o tempo todo é uma coisa normal e necessária. Será mesmo que isso é real? - Um olhar para o fenômeno das startups que crescem a ponto de alterar a rotina das grandes cidades e por vezes somem deixando muita gente prejudicada pra trás. - A importância dos acordos entre sócios para não surgirem conflitos no futuro. - Vocês sabiam que o jogo de tabuleiro Banco Imobiliário foi criado por uma mulher e ela o criou para provar a tese de que o acúmulo de propriedades é um problema? Infelizmente isso não foi pra frente. - Pensando em largar algo? Então confere esses 20 relatos curtos de pessoas que abandonaram algo em suas vidas: carreira, o celular, fumar, consumismo, religião, um relacionamento, etc. - Que o coronavírus desperte a humanidade para as arapucas do capitalismo. - Já que falei de jogos finitos e infinitos: trago esse curto textinho sobre o tema. - Podemos ter prosperidade sem crescimento? - "Não pode haver um retrocesso maior que um banheiro especial para pessoas trans." - A versão digital de dois livros meus estão de graça em todas as plataformas de ebooks. Baixe O Poder do Tempo Livre e 333 Páginas para tirar seu Projeto do Papel e aproveite para seu isolamento ser mais criativo :) Não esqueça de mandar mensagens para amigxs que estão sozinhxs durante o confinamento (é mais difícil para solteirxs enfrentar o isolamento). Não esqueça de pegar sol. Não esqueça de comer vegetais. Não esqueça de ajudar pessoas do seu prédio se necessário. Não esqueça de fazer exercícios (o app Nike Training Club tem exercícios de graça). E não escutem o presidente: fiquem em casa. Vai passar. <3 |
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