Salve rapa! Hoje é nosso último dia juntos. Quero agradecer imensamente o pessoal do UOL por esse espaço 120% livre que desde 2018 eu uso para falar com vocês semanalmente sobre a música e o movimento que amamos: o rap e o Hip Hop. Espero ter sido um bom companheiro para você ao longo dessas incansáveis sexta-feiras em que estivemos aqui de alguma forma conversando - mesmo eu sendo o único falar. Você pode me achar no Instagram ou Twitter, sou @ronaldrios em ambos. Ao longo das últimas semanas vim falando dos clássicos dos anos 80, 90... e agora chegamos aos "anos 2000", a primeira década do século XXI - ok, eu sei que tecnicamente o ano 2000 ainda é no século XX, mas você entende meu ponto. Eu dei 5 dicas por semana de álbuns fundamentais para entender o que foram essas décadas. E foi tão difícil fazer a dos anos 2000. Não tem como fazer uma lista justa. É a época que eu cresci ouvindo rap - ao contrário das anteriores, onde eu ouvia em retrospecto, para entender melhor o jogo. Então é muita coisa que eu queria falar aqui. Muito CD que eu queria mandar você ir lá ouvir. Mas são 5. Só podem ser 5, tal qual os dedos da mão. E os 5 dos anos 2000 são: BLUEPRINT - JAY-Z Eu sei que o Jay-Z estava na lista dos álbuns dos anos 90. E ele vai estar na lista dos anos 2000 também. Com um time de produtores ainda testando seus melhores truques e antes de serem abraçados totalmente pelo mercado como viriam a ser após esse disco, como Timbaland, Pharrel, Kanye West, Just Blaze e Bink, e após se livrar de uma treta judicial pesada que poderia ter mudado sua vida, causada após uma treta numa balada; Jay-Z tinha muito o que dizer e as melhores bases que o rap tinha a oferecer. Dali saíram clássicos como Girls, Song Cry, IZZO e claro, a fuziladora Takeover, que marcava o ínicio de uma das maiores tretas do rap: Nas x Jay-Z. STILLMATIC - NAS Era a volta de Escobar. Depois de uma estreia triunfal em Illmatic, Nas foi capengando de lançamento a lançamento, a ponto de ter sido considerado uma época um "cavalo de um truque só". Mas a fúria para mostrar quem era o melhor MC de NY era tamanha que Nas colocou tudo que podia nessas rimas enquanto batalhava contra Jay-Z. Faixas clássicas saíram daí, como One Mic, Rewind (um dos raps de historinha mais insanos já feitos - é um contro de crime AO CONTRÁRIO), e é claro, Ether, a violentíssima diss contra Jay-Z que até hoje é sinônimo de "derrotar" alguém, pois na época Nas saiu como vencedor da treta. Muita gente volta atrás hoje e acha que Takeover envelheceu melhor. A verdade é que quem ganhou foi o Hip Hop com dois dos seus maiores representantes escrevendo letras pesadíssimas sem cair para a violência na vida real. E eles virariam colegas/associados no futuro e trariam contribuições gloriosas para gente. Melhor assim, uma treta que vira amizade. Normalmente a história funciona em... rewind. Entendeu? Ah moleque. MARSHALL MATHERS LP Polêmico e no topo do mundo. A obra-prima de Eminem é o MMLP, seu segundo álbum num selo grande. Sob extrema controvérsia e olhares da mídia, ele toca em vários assuntos no álbum, desde a sua influência nos jovens ao quão intoxicante foi atingir a fama após sua estreia um ano antes com o Slim Shady LP. Questões sobre liberdade de expressão permeiam o disco todo. Lidar com as acusações de ser fake também está lá. Violência exagerada, cartunesca, boa parte dos temas que percorrem a carreira do artista estão lá na sua melhor versão. Convidados de peso como Sticky Fingaz, Dr Dre, Snoop Dogg, Xzbit, Dido marcam presença nesse mundo distorcido, macabro e cheio de rimas bem talhadas e batidas secas que é a cabeça do Eminem. Vendeu mais de 1 milhão na primeira semana. O pesadelo do pop era bastante pop, se pensar. LATE REGISTRATION - KANYE WEST Ok, College Dropout é incrível. E muita gente considera "Graduation" o ponto alto da trilogia "colegial" de Kanye West. Mas Late Registration foi a primeira vez em que ele teve múltiplos hits, uma penetração internacional real através de "Gold Digger" e tinha um budget bem maior do que na sua estreia - então ele pôde contratar mais músicos para dar asas maiores a imaginação. É incrível colocar esse disco ainda hoje e conseguir tocar de ponta a ponta sem pular nada. Sério, eu desafio você a falar uma faixa que poderia ter ficado de fora desse projeto. Não há. Esse projeto fez Kanye West achar que pode tudo - e ele quase pode. Ninguém pode tudo. Mas se alguém já chegou perto disso foi Kanye West. A única coisa que ele tentou e não conseguiu aí foi bater o Jay-Z num rap, o remix de Diamonds - mas hey, é o Jay-Z e Kanye perdeu por pouco, o que está de bom tamanho quando, HEY, JAY-Z. Mas velho, ele conseguiu deixar o carinha do Maroon 5 soando cool! Tem noção? É lógico que ele teria um ego grande. CARTER III - LIL WAYNE Lil Wayne sempre sofreu muito preconceito por, numa visão turva, não ser um "MC intelectual". Isso é uma afirmação equivocada de alguns puristas. O que ele não faz é ser um MC pretensioso. Ele tem bastante piada e sim, entre um bocado em escatologia aqui e ali. Mas suas rimas são absurdamente criativas e as conexões que ele cria entre as palavras são dignas dum mestre membro de Academia Brasileira de Letras. Uma cabeça divertida e sagaz que passa o dia matutando esquemas de rimas que operem em vários sentidos. Um dos rappers mais prolíficos, Lil Wayne dá um banho na terceira parte - até então são 5 - da série "Carter", inegavelmente ele no seu "melhor eu". Assim, existe o "mixtape Wayne" e aí realmente estamos falando dum cara de outro mundo. Como um atleta no modo embaixadinha, jogando futebol de exibição. Mas na discografia oficial, no modo "álbum Wayne", valendo ponto no campeonato, Carter 3 é seu auge. A Milli, Dr Carter, 3 Peat, Mrs Officer... todo DJ que se preze sabe que precisa ter duas cópias desse disco em vinil. Se uma se perder ou arranhar, tem outra em casa. Porque até hoje você solta qualquer som desses numa festa e tem a pista na sua mão. A produção grandiosa garante uma boa festa, mas está ali e só é icônica simplesmente porque os melhores beatmakers queriam trabalhar com o melhor MC daquela época, e esse era Lil Wayne. Carter 3, vou até colocar para tocar. Adeus! Vou saindo pique Jay-Z no Black Album - droga! Tinha que ter falado desse também! Paz, Ronald Rios |
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