O ouro é campeão de rendimento entre as principais aplicações há algum tempo. Na década encerrada em 2019, acumulou valorização de 240%, quase cinco vezes a alta do Ibovespa no mesmo período. E os ganhos do metal continuam em 2020. De janeiro a abril, a alta acumulada já bate 45%. Profissionais de mercado explicam que essa disparada acontece porque o ouro é um ativo típico de proteção, uma forma de resguardar o patrimônio em momentos de incertezas, como guerras e crises econômicas e de saúde, como a que estamos vivendo atualmente. Ainda vale a pena aplicar em ouro, depois de tanta valorização? Para especialistas, a resposta é sim. Mas o investidor deve levar em conta o papel do ouro em sua carteira. Ouro é para defesa, e não para ataqueComparando uma carteira de investimentos com um time de futebol, o ouro deve ser escalado como parte da defesa. Se eventualmente ele marcar gols, ou seja, se valorizar, melhor. Mas essa não deve ser a finalidade maior desse ativo. Isso porque o ouro tanto pode subir rapidamente, como agora, como cair rapidamente, como já aconteceu no passado. Entre janeiro de 2012 e janeiro de 2016, por exemplo, o preço do metal no mercado internacional chegou a recuar 32%. Ouro deve subir mais?Por enquanto, o cenário ainda é de valorização, dizem especialistas. Por alguns motivos: - Incertezas ainda predominam: alguns países estão retomando a atividade econômica, mas ninguém consegue prever quando tudo voltará ao normal. Ou seja, a crise pode durar mais tempo.
- Há muita moeda em circulação: os países estão emitindo muito dinheiro para enfrentar a crise econômica. Pela regra clássica, quanto maior a oferta de um ativo, menor o valor dele. "Se o mundo tem excesso de dinheiro, as pessoas querem segurança em ativo real", como o ouro, afirmou Roberto Motta, da Genial Investimentos. Segundo ele, esse excesso de dinheiro pode, futuramente, provocar inflação mesmo em países desenvolvidos, como os Estados Unidos. Ou seja, uma inflação em dólar. "O ouro então é um ativo de proteção nesse cenário", disse.
- Crise política no Brasil: existe ainda o receio de que as dificuldades econômicas sejam prolongadas por causa das brigas políticas entre o presidente Jair Bolsonaro, o Congresso e outros segmentos da sociedade. Isso pode aumentar o valor do dólar em relação ao real. E o ouro é um ativo que acompanha o dólar também.
Quanto investirSe ter ouro em carteira é uma dica quase unânime entre gestores, a forma de entrar nessa onda provoca discussão. Muito e de uma vez só: Há gestores que defendem uma fatia de até 30% para o ouro e uma entrada mais rápida nesse ativo. "Se a pessoa tem o capital disponível, não tem por que ir comprando aos poucos", afirmou o gerente de câmbio da Ourominas, Mauriciano Cavalcante. Segundo ele, em momentos de crise, a fatia de ouro na carteira pode ser maior. "Numa situação normal, pode corresponder a 10% a 15% da carteira, como parte de proteção. Mas em momentos de incerteza, como hoje, essa fatia pode chegar a 30%", disse. Pouco e gradualmente: Mas há quem recomende que o investidor seja mais cauteloso. Para José Raymundo de Faria Júnior, da Planejar, a melhor opção é ir comprando o metal aos poucos, e com um objetivo mais tímido, de no máximo 10% da carteira. "O grande risco para um novato é fazer um aporte único, querendo acertar o timing. Quem tem ouro deve manter, mas quem vai começar agora deve começar aos poucos", afirmou. Como investirHá basicamente três formas para o brasileiro investir em ouro. Ouro em barra: O primeiro passo é abrir conta em uma corretora autorizada pelo Banco Central e pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) a vender ouro em barras. Mas o investimento inicial é alto, pois cada barra (24 quilos) custa quase R$ 10 mil. Depois de comprar, o investidor ainda tem que escolher se leva a barra para casa —o que é muito inseguro—, ou pagar para uma empresa fazer a custódia —o que pode custar cerca de 0,2% do valor guardado. Contratos na Bolsa: Para quem não tem tanto para investir de cara ou não quer assumir os riscos e custos de ter sua própria barra de ouro, existe a opção de comprar contratos financeiros na B3. Isso pode ser feito por meio de uma corretora credenciada pela Bolsa. Há contratos mais em conta, partindo de 0,2 grama. Fundos de investimento: A opção mais simples para alguém começar a investir em ouro são os fundos de investimento que aplicam em contratos financeiros de ouro. As aplicações podem ser feitas a partir de R$ 1.000, com taxas de administração na casa de 0,2%. Pergunta da semanaO leitor Valderí Lima pergunta: "Tenho alguns investimentos em fundos DI e fundos imobiliários. Sobre quais investimentos devo pagar imposto mensal?" No fundo DI não é preciso se preocupar com o recolhimento mensal de Imposto de Renda. Ele acontece automaticamente. O IR desse tipo de fundo é recolhido no último dia útil dos meses de maio e novembro, no sistema conhecido como "come-cotas". Para esse recolhimento, será usada a menor alíquota de cada tipo de fundo: 20% para fundos de curto prazo e 15% para fundos de longo prazo. No momento do resgate, se for o caso, será realizado o recolhimento de IR complementar, conforme a alíquota final devida. A alíquota considera o prazo de permanência desse fundo e segue a tabela regressiva de IR para aplicação de renda fixa. Já para os fundos imobiliários, você pode ter que efetuar o recolhimento de IR. Não é preciso se preocupar em recolher IR sobre os rendimentos do fundo imobiliário, quando se tratar de fundos exclusivamente negociados em Bolsa, com mais de 50 cotistas e considerando que o investidor não possua mais de 10% das cotas desse fundo. Mas se você negociar suas cotas com valorização, será necessário recolher o IR. Todo lucro líquido com vendas de cotas paga tributação de 20%. Nesse caso, você precisa pagar o IR por meio do recolhimento de Darf (Documento de Arrecadação de Receitas Federais), até o último dia útil do mês seguinte ao da negociação. A resposta é de Arnaldo Carneiro Pinto Guimarães, planejador financeiro certificado pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros). Queremos ouvir vocêTem alguma dúvida ou sugestão sobre investimentos? Mande um email para uoleconomiafinancas@uol.com.br |
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