Se juntas já causam, imagina juntas. Quase que onipresentes nos celulares do mundo todo, Apple e Google se uniram com um propósito nobre. Usarão os recursos dos smartphones para avisar as pessoas quando forem expostas a alguém com Covid-19. E o Brasil já estuda se vira ou não um parceiro do projeto. A tecnologia parece cair como uma luva para quem defende uma reabertura — alô, Jair Bolsonaro. Imagine: ficaria em casa apenas quem fosse avisado ter esbarrado com algum doente. Lindo, não? Mais ou menos. Há uma detalhe crucial: estamos falando de uma solução digital que depende muito de meios analógicos. E o mais complicado deles somos eu, você e todos os que possuem um celular. O que rolou?Saber quem são os indivíduos com Covid-19 para evitar que contagiem outras pessoas tem sido um dos grandes desafios de governos pelo mundo. Para ajudar, Google e Apple criaram sua própria solução. Ela funciona assim: Os celulares usam Bluetooth para trocar chaves de identificação anônima. O código não é usado para nada até que... ... Uma pessoa que cruzou com o dono do celular pegue a doença. A partir daí... ... Um aviso é mandado para ele e para todos os que passaram perto do doente. A notificação contém dados como ... Dia que o contato ocorreu, se o esse contato foi longo e a força do sinal Bluetooth no momento do encontro (isso indica a distância). Para funcionar, ... ... Tanto quem recebe o aviso quanto quem diz estar doente tem de consentir com o uso do sistema. O doente tem ainda de informar estar com Covid-19.
Por que é importante?Inicialmente, a plataforma foi classificada como "contact tracing", algo como "rastreamento de contato". Logo, Google e Apple a renomearam a bem da precisão. Virou sistema de "notificação de exposição", já que o Bluetooth não indica ao certo se houve contato, mas pode apontar com certeza se alguém esteve no mesmo ambiente de um contaminado. Ou seja, se foi exposto à doença. Até quem geralmente vê riscos à privacidade em muitos dos produtos dessas empresas aplaudiu o sistema. Isso porque não há envio de nomes, número de telefone, identidade do celular ou qualquer identificador da pessoa doente. Nem o código enviado por Bluetooth é o mesmo. Além disso, há técnicas de anonimização para complicar a (dura) tarefa de quem quiser criar maneiras de identificar o doente. É bom saber de tudo isso, porque em breve essa plataforma pode virar a mais nova arma do governo federal contra a Covid-19. Após ser questionado pelo Rodrigo Trindade, o Ministério da Saúde informou: Está em conversa com as empresas de tecnologia para avaliar o projeto que baseado em Bluetooth dos dispositivos móveis (...) está em estudo como garantir a proteção à privacidade dos dados dos brasileiros, e como promover a interoperabilidade com as plataformas de gestão da Covid-19 Não é bem assim, mas está quase láO capítulo "privacidade" não deve fazer o governo perder muito tempo. Afinal, a atual gestão tentou forçar operadoras de telefonia a ceder dados de brasileiros (endereço, número de telefone etc) ao IBGE e adiou para 2021 a entrada em vigor da lei que protege as informações pessoais no Brasil. Já interoperabilidade não deve ser entrave para Apple e Google. Afinal, parte do sucesso das duas passa por fazer seus serviços capazes de se integrarem a outras ferramentas. O problema mesmo é esse arranjo ser efetivo. Para ser uma ferramenta válida de política pública, seu uso tem de ser massivo. Todos nós não só deveríamos aceitar usá-la como também sermos honestos ao receber um diagnóstico positivo para Covid-19. Os baixos índices de isolamento social mostram o tamanho do desafio. Acontece que a população já não está a fim de colaborar. Os leitores do UOL aprofundam a problematização: "Quem vai ser tolo o suficiente para por num aplicativo que esta com Covid?", pergunta Ari Junior. Caso levem a união adiante, Apple, Google e Ministério da Saúde tem adiante o desafio de convencer a população a participar, justamente quando ela está preocupada com a própria sobrevivência. |
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