Você está recebendo uma edição de cortesia da newsletter Carros do Futuro. Caso não queira receber os envios recorrentes deste boletim, clique aqui. Não há uma quilometragem definida para a troca dos pneus. Eles podem durar pouco ou muito, tudo vai depender de fatores diferentes, entre eles o estilo de dirigir. Mas os fabricantes de pneus estão apresentando novas tecnologias que prometem estender o tempo de vida, a durabilidade e, até mesmo, a dependência de recursos finitos na construção deles. Uma novidade chamou muita atenção nos últimos dias: a apresentação de um conceito de pneu feito pela Goodyear. Em uma empreitada em conjunto com a Citroën, o fabricante apresentou o Eagle Go Concept, um pneu capaz de durar cerca de 500 mil km. Ele foi revelado no concept car oli, um pequeno modelo urbano criado pela marca francesa, durante o Salão de Paris. Não é mágica, muito pelo contrário. O conceito da Goodyear usa uma carcaça renovável e pode ter a sua a altura da banda de rodagem de 11 milímetros renovada por duas vezes ao longo de sua vida útil. Ele também é equipado com uma tecnologia que monitora a saúde do pneu constantemente ao longo de sua vida. E quando você terá acesso a esse pneu? Não é certo, uma vez que se trata de um conceito - algo não muito diferente de um carro futurista apresentado nos salões automotivos. "Eagle Go é um pneu conceito, ele foi desenvolvido somente para o uso da Citroën no conceito oli e não está pronto para ser vendido no mercado da mesma maneira que o carro conceito não será parte do portfólio da Citroën. Conceitos de carros e pneus nos dão espaço para pensar futuras tecnologias e possibilidades no cenário da mobilidade. Nós fomos capazes de experimentar numerosas tecnologias no Eagle Go, tais como o uso de materiais sustentáveis, dados de inteligência e carcaças renováveis", explica Laurent Colantonio, Diretor Regional de Tecnologia da Goodyear nas regiões EMEA (Europa, Oriente Médio e África). "Porém, algumas dessas tecnologias estão mais próximas de serem utilizadas que outras, a Goodyear já está demonstrando um alto uso de materiais sustentáveis em outros produtos", completa Laurent. A companhia tem o objetivo de usar materiais 100% renováveis em seus pneus a partir de 2030. Sílica da casca do arrozO uso de materiais não dependentes de petróleo é um bom exemplo da mudança tecnológica na fabricação de pneus e, ao contrário de outras soluções, já faz parte da realidade de boa parte dos fabricantes. Um exemplo já estabelecido é a sílica derivada da cinza da casca do arroz, um insumo que seria desperdiçado pela indústria alimentícia na maioria dos casos, mas que serviu para mudar parte da dependência de derivados do petróleo. Normalmente, a sílica usada em pneus é extraída da areia, mas os fabricantes passaram a usar uma matriz diferente. A própria sílica foi uma revolução quando substituiu o negro de fumo, um derivado do petróleo muito usado na fabricação dos componentes do tipo. Para o consumidor, uma das principais vantagens é a redução da resistência do pneu em relação ao solo, o que gera menor atrito e, com isso, redução do consumo. "O desempenho do pneu é rigorosamente o mesmo. A sílica proveniente da queima da casca de arroz substitui o negro de fumo durante a manufatura. O que muda é este benefício indireto de utilizar um insumo sustentável de origem vegetal ao invés de um de origem fóssil, contribuindo para um meio ambiente mais saudável", ressalta Roberto Falkenstein, consultor da área de tecnologias inovativas da Pirelli. A tecnologia já é aplicada desde 2014 nos pneus da Pirelli produzidos no Brasil, onde já foram produzidas mais de 40 milhões de unidades desde então. E muda algo em relação ao composto de sílica extraída da areia ou negro de fumo? "Os consumos, tanto do pneu quanto o consumo de combustível de um carro, ficam inalterados. As características de um pneu que possui sua sílica proveniente de casca de arroz são idênticas às de um pneu com negro de fumo. Em um teste cego, por exemplo, mesmo um piloto de testes especializado em pneus não conseguiria distinguir os produtos", ressalta Roberto. Ter uma performance pior foi algo que preocupou muitos clientes na época que os primeiros pneus verdes chegaram ao mercado, um movimento que começou na primeira década do século. O objetivo das marcas é substituir, a longo prazo, o uso de matérias-primas não sustentáveis. No ano passado, a Continental apresentou o conceito Conti GreenConcept, que conta com características avançadas e que se vale de materiais reciclados, que vão da borracha, passam pela origem natural do látex e chegam à reutilização do aço. Óleos e resinas naturais completam o mix renovável. O fornecedor tem o compromisso de substituir materiais não renováveis até 2050, no máximo. De acordo com o fabricante, 17% dos materiais são reciclados, enquanto outros 35% são renováveis. A revolução impacta até a logística dos materiais. A borracha natural costuma ser extraída das seringueiras dos países tropicais - o Brasil é um ótimo exemplo -, mas a Continental deseja eliminar o custoso transporte e extrair o material em um lugar mais próximo das suas fábricas. A origem é curiosa: o componente será extraído de dentes de leão, algo exótico. "Para nós, os resíduos são os materiais de produção do futuro, porque nós enxergamos a economia circular como o modelo do futuro", reforça Claus Petschick, head de sustentabilidade da divisão de pneus da Continental, em comunicado oficial. Ter um pneu com o selo de responsabilidade social e ambiental será pré-requisito em toda a indústria automotiva muito em breve, o que está sendo impulsionado, principalmente, pelos fabricantes de carros elétricos. Não adianta nada salvar o meio ambiente sem atentar para todas as fases do processo. Sem descartar totalmente o látex extraído nos trópicos, a Continental e outros fabricantes exigem que todos os fornecedores estabeleçam a extração humanizada e ambientalmente responsável. O consumidor também contará com a mesma vantagem prevista pelo pneu conceitual da Goodyear: a possibilidade de renovação da banda de rodagem, um processo que reutiliza matérias-primas e requer pouco tempo para ser feito. As vantagens vão além da durabilidade e ecologia. De acordo com a Continental, o pneu pesa apenas 7,5 kg, cerca de 40% mais leve do que os pneus atuais. Isso permitirá novos ajustes de suspensão e menor consumo, além de diminuir o peso total do carro, um pré-requisito para diminuir o consumo. Além de possibilitar uma integração maior com sensores dos próprios carros, algo que permitirá entender o padrão de desgaste relacionado ao modo de direção de cada motorista. Em um futuro não muito distante, os pneus vão dar menos despesas a curto, médio e longo prazo. E o meio ambiente será tão beneficiado quanto você. **** MAIS SOBRE CARROS E AUTOMOBILISMO: NEWSLETTER DE FLAVIO GOMES Todo domingo, Flavio Gomes escreve sobre a F1 e outras competições do automobilismo e relata bastidores de sua longa carreira como jornalista. Para se cadastrar e receber a newsletter semanal, clique aqui. |
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