O que é verdade e o que é mentira nas eleições? Difícil, né? O psicanalista Christian Dunker, colunista de Tilt, nos ajudou a encontrar provas para distinguir uma da outra. Para isso, em sua coluna, nos contou a parábola do encontro entre Verdade e Mentira, retratada na tela pintada por Jean-Léon Gérôme em 1896. O link para ler a história está aqui. Bem, e então, qual a verdade estará escondida neste poço que vai do Petrolão ao Mensalão, passando pela Nicarágua e Venezuela, chegando ao ex-presidiário e suas más companhias? Segundo Dunker, existe um critério simples e prático que nos ajuda a estabelecer o que é verdade. Pergunte a si mesmo: quem sentiu mais vergonha? A capacidade de sentir vergonha, de ficar constrangido, de sentir-se embaraçado é claramente o critério da verdade. O critério oposto também é válido para reconhecer um mentiroso. "Examine a tendência desta pessoa para envergonhar aos outros. Seja os outros que assistem ao teatro do mentiroso, seja os outros a quem ele quer envergonhar, seja ainda os outros em quem ele desperta este curioso sentimento que é a vergonha alheia", escreveu. Para Dunker, a verdade pode ser ingênua, enganada, pode até mesmo ser usada de forma mentirosa para humilhar os outros. Mas uma coisa não se pode negar: a Verdade sente vergonha. A Mentira exagera, torce e tripudia a vergonha da Verdade. E, se a transparência, é o critério da verdade, quem precisa de 100 anos de sigilo? A vergonha funciona como índice da verdade. Dunker também apresenta uma condição clínica conhecida como fabulação, na qual a pessoa discorre indefinidamente sobre uma história, misturando fatos e interpretações de forma a produzir memórias fantasiosas frequentemente de autoengrandecimento. "Quando a fabulação é temática e organizada dá se o nome de mitomania (vejam só que coincidência). Quando ela é caótica e ligada à memória é chamada de confabulação e quando acontece no indivíduo solitário e isolado pode ser chamada de pseudologia fantástica", explicou. O caso mais grave é o da mitomania maligna. Nela o sujeito distorce, exagera e supervaloriza fatos para prejudicar ou depreciar alguém. No mentiroso eleitoral não há vergonha alguma, pois uma parte dela é defletida em culpa do outro, e outra parte se transforma na obsessão por desmascarar a Mentira. Outra ponderação sobre a Verdade e a Mentira no sentido extra eleitoral nos ajuda a entender por que, depois de tudo o que passamos, pouco se falou de programas e agendas para o Brasil. Em vez disso, a disputa firmou-se em torno de quem é quem. Nesse terreno pantanoso fica difícil enfrentar a Mentira porque nosso julgamento é determinado pelas aparências identificatórias imediatas, tais como o calor do dia de hoje ou o sabor da água agora. Aqui há um teste possível. Esqueça quem fala o quê e escute o poço. Como diz a fábula, a Verdade é a voz baixa que sai de mansinho, murmurando do poço da vergonha. A Mentira é aquela forma barata de amar quem nos traiu, fazendo meme com uma mão e lacrando com a outra. Para saber a diferença, pergunte ao desesperado, faminto ou angustiado, o que ele quer ouvir: verdade nua, crua e dolorosa ou mentira mal cozida, vestida e embalada para presente de grego? "Responda a si mesmo: onde está sua vergonha? Se ela estiver por aí, grampeie junto da cola eleitoral e grude no título, antes que ela saia por ai vestida de medo, culpa ou ódio", escreveu Dunker. ******** Quer um jeito prático de se informar? Veja como receber notícias de Tilt em seu WhatsApp ou no Telegram! |
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