Acostumado, desde o seu primeiro dia na Presidência, a ter o controle da agenda pública de debates do Brasil, Jair Bolsonaro vive um momento de grande dificuldade no noticiário, a menos de quatro meses do primeiro turno da eleição. Menos por obra de seus adversários ou por decisões editoriais dos veículos de comunicação e mais por força das circunstâncias, o presidente se vê acuado diante de temas como o aumento dos preços dos combustíveis, a violência na Amazônia e a enorme e crescente quantidade de brasileiros que não têm o que comer nem onde morar. Em síntese, é possível dizer que a realidade começa a atropelar a fantasia bolsonarista neste ano eleitoral. No mundo dos sonhos do presidente e de seus seguidores e assessores, o Brasil, segundo "o Posto Ipiranga" Paulo Guedes, está decolando, a Amazônia está protegida, conforme disse Bolsonaro recentemente, e o aumento dos preços dos combustíveis é culpa da direção da Petrobras. Na vida real, porém, o noticiário, nacional e internacional, foi dominado pelo assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips em uma área onde o governo federal vem sendo omisso na defesa da floresta, dos povos indígenas e de quem os representa. Os exemplos de brasileiros sem dinheiro para se alimentar, o aumento da miséria e as péssimas projeções econômicas para o país neste ano se tornaram assuntos frequentes não apenas da imprensa, mas nas redes sociais e nas reuniões de amigos e familiares. Ao fim e ao cabo na queda-de-braço dos combustíveis, o que interessa para os brasileiros desprotegidos é que ficou mais caro encher o tanque da moto e comprar o botijão de gás. Isso significa que Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL, está derrotado? Que não conseguirá virar o jogo? Não, ainda é cedo para tal veredicto, até porque Luiz Inácio Lula da Silva, líder das pesquisas, conforme o Agregador de Pesquisas do UOL, e principal adversário de Bolsonaro, também tem momentos em que parece viver no mundo da fantasia (veja abaixo). O petista insiste na estratégia de jogar parado e, quando se movimenta, prega apenas para os convertidos. Bolsonaro e seus aliados continuam e dão sinais de que continuarão pelejando, seguindo em sua cruzada diária de culpar a Petrobras e os governadores pelos altos preços dos combustíveis, a pandemia pela crise econômica e de atacar a Justiça seja qual for o tema em questão. O presidente permanece rezando na cartilha do americano Steve Bannon, estrategista do ex-presidente Donald Trump, dos EUA, que, em linhas gerais preconiza: 1) a verdadeira oposição é a imprensa; 2) fale qualquer coisa para ocupar tempo e espaço; 3) quanto mais absurda for a declaração, melhor, porque ocupa mais tempo, mais espaço editorial e mobiliza mais respostas; 4) siga em frente, não importa quanto você for atacado. Foi com base nessa cartilha e em suas crenças que Bolsonaro, empossado na Presidência, mentiu sobre as vacinas contra a covid-19, elogiou torturadores, disse que não houve golpe militar no Brasil e atacou a comunidade LGBTQIA+, por exemplo. O país, mobilizado, passou dias discutindo esses temas, a imprensa profissional repercutiu os assuntos e trabalhou para desmenti-los. A oposição, por despreparo ou método, mordeu a isca, rebateu o presidente e ajudou a manter as "polêmicas" no foco. E assim passaram-se três anos e meio. Nos últimos dias, no entanto, essa prática, na melhor hipótese para o Planalto, serviu apenas para manter o time do presidente vivo no jogo eleitoral. Foi com base nela que Bolsonaro, com o apoio integral de Arthur Lira, partiu para cima da diretoria da Petrobras, em clara tentativa de transferir para a empresa o ônus pelos sucessivos reajustes. Conseguiu antecipar a saída do presidente José Mauro Coelho, mas, com isso, acabou por chamar ainda mais para seu colo a responsabilidade pela política de preços da Petrobras. Em privado, aliados de Bolsonaro no centrão reconhecem que a mágica dos factoides e das cortinas de fumaça pode estar perdendo seu efeito. Nem os constantes ataques (talvez por serem constantes) ao STF (Supremo Tribunal Federal), ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e às urnas eletrônicas parecem obter o mesmo resultado de outros tempos em termos de atenção do público. Se essa tendência se mantiver ao longo da campanha eleitoral, restará a Jair Bolsonaro radicalizar ainda mais o discurso, com a produção de mais polêmicas e guerra cultural aos borbotões, para tentar capturar o debate eleitoral e transformá-lo em uma discussão sobre costumes (kit gay e afins), corrupção e comunismo versus "liberdade". A outra opção será fazer algo que ele não vem fazendo desde 2019: governar com responsabilidade. Afinal, agora que o presidente da Petrobras pediu demissão, não há mais obstáculo para Guedes, Lira e Bolsonaro apresentarem uma solução pro aumento dos combustíveis, certo? Era o presidente que estava atrapalhando, não era? |
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