Os escandinavos tem um jeito bem específico de lavar a louça. As cozinhas geralmente tem uma pia dupla, não muito grande para poder ser enchida com facilidade. Então eles tampam o ralo de uma das cubas, e nela colocam toda a louça suja, um pouco de detergente, e enchem de água quente até cobrir tudo. A solução dissolve toda a gordura, e a partir disso você só tem que passar rapidamente a bucha nos pratos, copos e talheres, e depositar tudo ensaboado mesmo na outra cuba, que depois leva um banho tipo lava-rápido para tirar o excesso de sabão. É um sistema mais ecológico pela economia de água e de sabão, mas esse não é o assunto dessa newsletter. Conto isso por causa do meu novo detergente. Não, ele não tem nada de especial, e não vai salvar o mundo. Mas ele é meu novo detergente favorito. Não sei nem dizer a marca, é um desses sabor limão e cor de Inka Cola com urânio. Mas esse detergente é especial porque ele me faz viajar um pouco a cada pia cheia depois do jantar. Explico-me: Estive algumas vezes no chalé de um amigo sueco (sabe o Ola?) na Noruega para temporadas de esqui, meu tipo ideal de férias. Lá, o dia-a-dia é bem simples e repetitivo. Acordar, café da manhã, esqui, pausa para uma cerveja, esqui, almoço, esqui, pausa para uma cerveja, esqui, banho, descanso, vinho, jantar, vinho, dormir. Rinse and repeat. Dias seguidos em que as suas únicas preocupações devem ser não se estrumbicar inteiro na neve, e as dores gostosas de ácido lático que vão dominando músculos seus que você ainda não tinha sido apresentado. É uma vida tranquila. Com o clima lá fora variando entre -1 e -20oC, não tem programa melhor que ficar em casa comendo e bebendo com os seus. Eu adoro tirar férias na neve, porque é o mais próximo que consigo chegar da paz plena. Na montanha não tem pressa nem horário, não tem sinal nem Instagram. Não tem muvuca nem o bonito com a caixa de som alta. Só tem o vento gelado e silêncio quase espiritual lá do topo. Durante o dia eu fico por minha conta naquela imensidão branca. A noite, eu quero ficar recolhido com meus amigos, com bom papo e boa comida. O exercício físico do dia faz o equilíbrio perfeito com queijos gordurosos e algumas taças de vinho a mais. Descanso em sua perfeição. No chalé do meu amigo, tudo é pequeno, então precisa ser tudo muito organizado. A geladeira tem menos espaço que a compra da semana - o resto você deixa congelado do lado de fora! Todos precisam colaborar para manter o banheiro limpo, o lixo recolhido e a comida na mesa. O número de pratos e copos é igual ao número de camas, então não dá para deixar a louça para depois. Então, toda noite, depois de passar o dia escorregando pelas pistas lisinhas, depois de muitos drinks e de jantares regados a manteiga e creme de leite, tem a função de lavar a louça. E seguindo a tradição escandinava, o detergente é despejado na água pelando da louça suja, levantando o bafo cítrico que domina a casa e anuncia que mais um dia de esqui acabou. Tudo isso que eu acabei de descrever me bateu em segundos quando senti o cheiro do meu-novo-detergente-favorito. Minha memória olfativa me acertou como uma injeção na veia de nostalgia. Já se vão anos que não tenho a chance de voltar para o chalé do outro lado do mundo, mas a lembrança dos dias que passei lá se condensaram em um único cheiro. E essas memórias nunca vão embora. Até hoje tenho sensações semelhantes ao sentir o cheiro do shampoo que eu levei quando fiz um mochilão, o curry verde borbulhando nas feiras da Tailândia, o pão frito que eu comia na casa de praia na infância, ou a dama da noite que acordava ao por do sol na casa do meu avô. O olfato tem um poder muito mais forte de disparar lembranças do que a visão ou a audição, para o bem e para o mal. Isso acontece porque o bulbo olfativo, a parte do cérebro que processa os aromas, está diretamente conectado com o sistema límbico, que é responsável pelas memórias e pelas emoções. Cientistas descobriram, inclusive, que as memórias olfativas são as mais duradouras. E mais, elas disparam com mais intensidade não só lembranças de eventos, mas também de sensações. Lavar a louça para mim tem sido uma viagem no tempo e no espaço. Estou paracendo a Tatá Werneck. Deu até vontade de ir ali esfregar uma panela suja. Mas antes eu quero saber: quais são as suas memórias olfativas de viagem? A Jack Daniel's está com uma linha de whiskeys com sabores diferentes que são ótimos para fazer drinks. E nós fizemos uma parceria com eles para pensar em bares de São Paulo que combinam com o mood de cada sabor. Com isso nós montamos 3 mini-guias de bares que tem tudo a ver com eles: bares para curtir o dia com Jack Honey (de mel), bares para começar a noite com Jack Apple (maçã verde) e bares para dançar com Jack Fire (canela). Em cada post tem ainda uma receita de drink super fácil para fazer em casa. Eu provei os três, e confesso que meu favorito é o Jack Apple & Tonic. Depois prova e me conta qual você gostou mais. Já estamos entrando em Peixes (meu signo!) mas nunca é tarde para descobrir qual é o destino ideal para cada signo em 2022. A Lu Guilliod ficou sumida na pandemia, mas agora ela voltou a escrever no canal Fit Happens, só com textos deliciosos para quem quer praticar exercícios viajando. Olha só esse rolê de bike na Ruta de Las Cascadas em Baños, no Equador! Eu fechei o ano prometendo que ia voltar a escrever a newsletter, mas tinha uma pedra no caminho. Uma pedra do tamanho de uma ilha mágica em Angra dos Reis. Não deixa de me escrever contando das suas memórias olfativas. Tô querendo conversar! Beijo! Comentários, elogios, sugestões, críticas e conversas aleatórias, mande um email para nós: hello@chickenorpasta.com.br Se você gostou da nossa newsletter Chicken Wings, compartilhe com os amigos! |
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022
CW#95 - Memória olfativa
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