| por Ivan Sant'Anna 29 de maio de 2021 |
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Caro(a) Leitor(a), Esta semana, assistindo ao episódio Raposas no Galinheiro, da 1ª temporada da série Rotten, produzida e exibida pela Netflix, descobri, acreditem, que a história ali narrada teve influência na economia brasileira e no mercado de ações da B3. Só que o caro amigo leitor não identificará isso na primeira parte desta crônica da coluna Os Mercadores da Noite. Mas saberá como tudo começou. A Carolina do Norte, estado da Costa Leste americana, tem como uma de suas atividades econômicas mais importantes a criação e o abate de frangos. No processo, há dois tipos de empresas: os frigoríficos abatedouros e os criadores das aves, também conhecidos como granjeiros. Estes costumam ser empresas familiares, não raro, dirigidas e operadas por uma única pessoa ou, no máximo, com a colaboração de um ou dois empregados, que trabalham oito horas por dia e depois vão para suas casas. Sonny Nguyen, por exemplo, é um vietnamita naturalizado americano que cuida de 16 galpões de sua propriedade, cada um deles com 152 metros de comprimento. Nessas instalações, ele engorda 320 mil frangos de cada vez. Nguyen recebe os pintinhos recém-nascidos dos avicultores e os entrega, prontos para o abate, em apenas seis semanas. Além das aves, o frigorífico fornece a ração e os remédios essenciais para o bom êxito do negócio. No processo de engorda, a temperatura ambiente é essencial, sob pena de morte dos frangos. Para que os galpões sejam mantidos permanentemente a 33 graus centígrados, eles dispõem de sistemas de ventilação, aquecimento e até ar-condicionado para os dias quentes do verão. Quatro grandes frigoríficos dominam o mercado de carne de frango nos Estados Unidos. São eles a Pilgrim’s, Sanderson Farms, Tyson e Perdue. Já os granjeiros podem ser contados aos milhares. A parte mais trabalhosa e menos lucrativa da indústria avicultora é justamente a criação. Daí o fato de ser terceirizada. Um granjeiro trabalha sete dias por semana, 365 dias por ano. Para ele não existe Natal, Thanksgiving, 4 de julho, etc. Não raro, vara a noite cuidando da criação. Trinta e sete centavos de dólar por quilo, é o que recebe o criador ao entregar o produto acabado ao comprador. Os Estados Unidos têm mais de 100 mil galpões de engorda de frangos, que proporcionam nove bilhões de aves anualmente. Parte delas é exportada para o México (450 mil toneladas). Até os pés das galinhas, que até alguns anos atrás eram descartados, hoje são vendidos para alguns países asiáticos, que consomem a “iguaria”. Sem que ninguém pudesse pressupor tal coisa, a indústria foi palco de um crime ocorrido em fevereiro de 2015. No espaço de uma semana, diversas granjas tiveram parte de sua produção dizimada. O método não podia ter sido mais simples. Durante a madrugada, após a última inspeção do criador, alguém, ou um grupo mínimo de pessoas, que com certeza tinha familiaridade com os painéis de controle, ligou ao máximo os aquecedores ao mesmo tempo que desligou os ventiladores dos galpões invadidos. A temperatura subiu em média para 55 graus centígrados, temperatura na qual nenhum dos frangos sobreviveu. Foram praticamente assados vivos. O vietnamita Sonny Nguyen perdeu aproximadamente 40 mil aves. Um dos seus colegas criadores, Bill Coker teve 140 mil frangos mortos. A distância entre as duas granjas é de 14 quilômetros. Randy Garrett, então xerife do condado de Claredon, se encarregou da investigação. Além de Nguyen e Coker, outros seis criadores tiveram aves mortas. O total de perdas somou 320 mil pintos e frangos. As primeiras investigações não apontaram para nada. Nenhuma impressão digital nem imagem de câmeras de segurança. Como linha de investigação óbvia, Randy Garrett saiu à procura de quem pudesse se beneficiar com aquele crime. Podia também haver algum ex-empregado que agiu em busca de vingança. Uma coisa era certa. Fosse quem fosse o criminoso, era alguém que conhecia muito bem como funcionavam os painéis de controle dos galpões. Enquanto os granjeiros cuidavam de se livrar de dezenas de milhares de frangos em putrefação, enterrando-os em enormes fossas cavadas com esse objetivo, a polícia investigava nas cidades próximas em busca de suspeitos. Em certo momento, o criador Bill Coker se lembrou de um jovem que vira exatamente no dia em que seus galpões foram atacados. O rapaz estava numa lanchonete da cidade, fazendo indagações sobre os locais das granjas. O xerife conseguiu identificar o suspeito. Tratava-se de James Lowery, um ex-criador. O frigorífico Pilgrim’s Pride o havia excluído de sua relação de fornecedores por incompetência e desleixo no trato com as aves. A polícia agora tinha um motivo para o crime. Restava encontrar provas de sua execução. Não foi muito difícil. A companhia telefônica tinha registros de GPS dos locais percorridos pelo celular de Lowery nas noites dos crimes. Eles batiam com as localizações das granjas atacadas. James Lowery foi preso e fichado no centro de detenção do condado de Claredon. Recebeu oito acusações de roubo e outras oito de matança de animais. Restava agora a decisão de um juiz para que ele fosse levado a julgamento. Só que isso fica para o próximo sábado. Um ótimo fim de semana para vocês. Um abraço, |
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| | | Editado por: Helga Bannwart |
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