A essa altura, você já deve saber que o celular conhece mais sobre seus hábitos do que ninguém. Até não muito tempo atrás, pegava mal falar em vigiar o aparelhinho. Aí veio a pandemia de coronavírus e, como já discutimos na penúltima newsletter, monitorar seus dados voltou a ser sexy. À medida que a doença avança, mais gente acha boa ideia extrair informações do eletrônico. E não adianta tentar se precaver — desligar o GPS não é sequer uma opção. Basta apertar um pouquinho, e o seu celular dedura por onde você andou e com quem esteve em um piscar de olhos. Muita gente torce o nariz para isso. Mas, enquanto estamos em uma crise de saúde, tudo tem sido colocado na conta do combate à doença. Mas e quando ela passar? Há riscos de entrarmos em uma crise de direitos civis? Especialistas acham que sim. O que rolou?Na semana passada, coloquei o assunto uso de dados durante a pandemia em stand by, e escrevi sobre as lives de sertanejos no YouTube. Não sei se você viu, mas na sexta Tilt mostrou como as operadoras de telecomunicação criaram um site para dar a qualquer capital, estado ou grande município do Brasil o poder de monitorar a população. Feito de forma orquestrada por Claro, Oi, TIM e Vivo, o projeto evita que elas tenham que criar algo do zero para cada prefeito que bata na porta querendo usar dados de celulares para saber o nível do isolamento social. Apesar de grande, o esforço soa redundante. Afinal, bastaria perguntar aos celulares, conforme explicou André Ferraz, CEO da In loco, durante o UOL Debate de Tilt nesta semana: A empresa criou uma tecnologia própria para saber onde é a casa das pessoas. Usa para isso os... ... Sensores do smartphone, como Wi-fi, bluetooth e até o giroscópio por trás da Bússola, que captam sinais de como é o comportamento da pessoa dentro de casa. Se isso muda... ... Esses componentes entendem que essa pessoa deixou sua residência. Tão simples que... ... A empresa atende bancos, que querem checar o endereço real de seus clientes. Certo é que... ... Você não baixou apps da In Loco, porque a tecnologia dela é embarcada em outros serviços. Só que... ... Para ela usar esses dados, você deve autorizar. Muita gente fez isso. Normalmente, são monitorados 60 milhões. Os acompanhados para averiguar o isolamento social não chegam a tanto, são 30 milhões. Para fugir... ... Não basta desligar o GPS, explicou Ferraz, porque a empresa possui mais instrumentos para monitorar um celular. Se alguém desativa a localização, a In Loco apenas considera que o consentimento foi revogado.
Por que é importantePode se preparar. A discussão sobre a extensão e os usos criativos ao monitoramento veio para ficar. Nesta semana, Apple e Google liberaram a API para desenvolvedores usarem o sistema delas de "contact tracing". Por meio da análise dos registros de bluetooth, é possível saber de quais aparelhos um celular se aproximou. A ideia inicial é avisar quando as pessoas tiverem contato com doentes de Covid-19. Assim como a tecnologia da In Loco existia antes da pandemia e foi adaptada para ela, o contact tracing de Apple e Google tem forte potencial para ganhar sobrevida quando o coronavírus já for passado. Não é bem assim, mas está quase láPara evitar esse tipo de coisa, algumas iniciativas de monitoramento ganham prazo de validade tão logo são criadas. O site das teles é um exemplo. Dura enquanto vigorar o estado de calamidade pública. É um sinal importante para a sociedade. Por outro lado, há indicativos de que muita gente quer que a liberalidade em relação aos seus dados perdure. Um deles é a MP 954, que obrigava teles a passar dados cadastrais de clientes para o IBGE fazer pesquisa e foi derrubada no STF. Outro é a MP 959, que adiou para maio de 2021 a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados. Os mais de 7 mil mortos por Covid-19 são prova de que o país tem outras prioridades, é claro. Mas privacidade e soberania sobre dados pessoais é algo que só faz falta quando já não existem. E a tecnologia não costuma esperar leis entrarem em vigor para avançar. |
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