Quem não olhou apenas a telinha do celular, mas também observou os passos dessas gigantes gigantes sabia que esse dia iria chegar. Dona do iPhone, a Apple fez da privacidade um trunfo de seus aparelhos. Já o Facebook é uma máquina de coletar dados dos usuários para bombardeá-los com publicidade. Agora, o modelo de negócio de uma vai começar a restringir o ganha-pão da outra. E no meio disso tudo estão nossas valiosas informações. Engana-se, porém, quem acha que está em jogo apenas a justa defesa de nossa vida íntima e privada. Brigas comerciais não são abastecidas por boas intenções, ainda mais quando estamos falando do bilionário mercado da publicidade online. Se era uma guerra fria até então, a disputa esquentou de vez nesta semana, porque: - A Apple finalmente liberou o iOS 14.5, versão de seu sistema operacional que dá a donos de iPhones o poder de decidir se um aplicativo pode segui-los enquanto usam outros serviços. Isto é?
- ? A partir do momento em que você não der o OK, o app barrado vai saborear aquele gostinho amargo de receber um "ghosting": buscará, sem sucesso, ver o número identificador do seu aparelho e ainda será avisado de que o você cansou, não quer mais mais ser acompanhado. Não para aí, já que?
- ? Os apps impedidos de "stalkearem" você ainda até poderão obter dados sobre seu comportamento online, mas essa info chegará com certo atraso e de forma agregada, segundo empresas de marketing ouvidas pelo jornal Wall Street Journal. Isso porque?
- ? A Apple criou um mecanismo para impedir que espertinhos tentem driblar as restrições impostas pelos usuários. Além disso?
- ? Será possível ver quais tipos de informação um app mais consome a seu respeito e com que finalidade. Mais ou menos como uma tabela nutricional reversa -- é, amigo, aqui o produto é você. E a coisa é detalhada?
- ? Virá dividida em duas listas, uma com os dados coletados e outra sobre aqueles usados para rastrear você. Para ambas, estamos falando da sua localização, das suas informações de contato, seu histórico de navegação e até suas credenciais financeiras.
Essas mudanças entraram no ar agora, mas foram anunciadas em junho de 2020. Desde então, não dá pra dizer que o Facebook está jogando parado. A empresa já pagou anúncio nos jornais "New York Times, Washington Post e no WSJ para maldizer a medida. Já acionou, e perdeu, a entidade antitruste da França. Está tentando. Na primeira investida, o Facebook argumentou que a Apple prejudicará pequenas empresas, que são as suas maiores anunciantes. Na segunda, afirmou que a ação é anticompetitiva por ser um tiro nos concorrentes. Mas pelo que as duas rivalizariam? O que a empresa de Mark Zuckerberg sugere é que a fabricantes dos iPhones quer beneficiar seu próprio serviço de anúncios. Aqui temos uma discussão interessante. Antes de virar paladina da privacidade, a Apple tentou embarcar nesse mercado, mas não se deu bem. Hoje, seu negócio publicitário se resume a atender desenvolvedores que querem destacar aplicativos na busca da AppStore. Ainda que isso movimente US$ 2 bilhões, segundo as contas da consultoria Cowen & Co, é pouco perto dos US$ 274,5 milhões faturados em 2020.
Quem tem razão? Para a advogada Deborah Toni, especialista em direito digital e proteção de dados, é difícil cravar, mas já temos um gol de placa: Não estamos falando de duas amadoras. Derrubar a concorrência com uma bandeira dos direitos humanos é uma super jogada da Apple A Apple, que não é boba, diz justamente isso: Nós acreditamos firmemente que, como os dados pertencem às pessoas, são elas que deveriam controlar quando compartilhá-los e com quem Para analistas, ainda que a Apple esteja mesmo espantando a concorrência para garantir um quinhão da publicidade online, vai ser difícil contornar o argumento da proteção à privacidade. Se ela se aventurar pelos anúncios digitais, podem esperar um tremendo malabarismo para justificar o até agora condenável. Não seria uma surpresa: a Amazon entrou nessa e começou a incomodar. Se rolar mesmo, podem fazer a pipoca: na próxima temporada, a treta será entre Apple e Google.
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