"Digo com toda a tranquilidade: não existe racismo no Brasil. É uma coisa que querem importar, mas aqui não existe", disse o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) no Dia da Consciência Negra. Há quatro dias, em reunião dos líderes do G20, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) acusou a tentativa de "colocar divisão entre raças no Brasil": "Enxergo todos com as mesmas cores, verde e amarelo". No sentido oposto, um relatório oficial submetido à ONU (Organização das Nações Unidas) e organizado pela pasta de Damares Alves — com 12 anos de atraso —, descreve a abordagem policial brasileira como "seletiva e subjetiva, baseada em estereótipos associados às culturas afro-brasileiras urbanas periféricas". Além de atrasado, o informe descreve a situação do país apenas até 2017 — dois anos antes do primeiro ano da gestão Bolsonaro. Em sua coluna hoje no UOL, Jamil Chade explica que o documento deveria ter sido entregue em 2008 ao Comitê da ONU para a Eliminação do Racismo. Trata-se de uma das obrigações da convenção sob o mesmo assunto, assinada e ratificada pelo Brasil. Mas nem os governos Lula, Dilma ou Temer cumpriram o que estipula o tratado. Anteontem, Chade já havia publicado que a agência da ONU para Direitos Humanos criticou o negacionismo do governo brasileiro diante do racismo estrutural. Num recado claro à cúpula no Palácio do Planalto, a entidade insiste que as autoridades precisam reconhecer o problema da discriminação como "primeiro passo" para lidar com a realidade. Negros no Brasil sofreram todos os tipos de violência e injustiças. Negar o problema é perpetua-lo. O importante, portanto, é que a liderança no mais alto escalão reconheça o problema e tome medidas para lidar com ele. Esse não é um novo problema no Brasil." Declaração do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos Enquanto isso, o Brasil ainda vive o luto e espera as investigações da morte de João Alberto Silveira Freitas, negro de 40 anos espancado por dois seguranças no supermercado Carrefour em Porto Alegre.
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