Pular corda, subir no muro, na árvore, dar estrela, jogar bola, frescobol, brincar de elástico. Sem telas de celular, minha infância foi hiperativa. Acho que não fui diagnosticada com TDAH porque não existia esse distúrbio nos dicionários de Medicina daquela época e porque tudo que pulsava em mim virava movimento. Fui uma criança de apartamento e, mesmo assim, achava um jeito de extravasar: fazia uma parada de mão no sofá toda vez que ia da cozinha em direção ao quarto (e vice-versa), ou escalava umas quinhentas vezes o batente da porta. Minha hiperatividade era enorme, mas, sem celular, eu dava conta de gastar essa energia para, depois, conseguir prestar atenção em algo quando precisava ficar sentada na escola. Por volta dos 11 anos fui diagnosticada com distúrbio de atenção, fiz psicoterapia nessa idade e tudo foi melhorando aos poucos. Acho, também, que fui sabendo lidar melhor com isso enquanto crescia.
Não tive um filho diferente de mim nesse sentido. E talvez pela minha falta de atenção, esqueci como eu era quando criança e demorei para perceber que ali, diante de mim, tinha um serzinho hiperativo. Trancado em casa na pandemia, ficou muito claro que tudo que ele precisava era gastar energia desesperadamente. Fugi do apartamento e fomos para a natureza. Melhorou, mas não resolveu. Era preciso direcionar a atividade. Não era correr simplesmente; tínhamos que inventar um propósito para correr. Jogar bola junto, nadar junto, porque se não houvesse interesse naquilo, o que ele mais queria era ficar nos jogos eletrônicos. Quando voltamos para a cidade, retomamos o skate com afinco. Ele poderia andar sozinho, manter o distanciamento necessário das pessoas e, além de consumir a energia loucamente, o ajudava a ter foco --no skate, só existe o tempo presente: se você pensar no que foi ou no que virá, o tombo é certo. Demoramos, mas achamos um caminho de serenidade para a hiperatividade. Hoje em dia, quando ele fica aflito sentindo a bateria cheia, ele diz: "Mãe, preciso gastar energia", e rapidamente partimos pra fazer algo.
Sei que tem crianças com o índice de hiperatividade bem sério, e que só gastar energia não é suficiente. Ao mesmo tempo, vemos tantos pequenos sendo diagnosticados com TDAH atualmente, e acho que se elas saíssem das telas e fossem pular corda, por exemplo, o vulcão interno dormiria um pouco mais em paz. |
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