Está marcada para hoje, 27 de maio, a apresentação dos argumentos finais do julgamento dos atores Johnny Depp e Amber Heard. Se você minimamente checa suas redes sociais todos os dias, já deve ter visto posts com trechos dos depoimentos dos dois. Independentemente do que será definido pela corte do Condado de Fairfax, no estado da Virginia, nos Estados Unidos, é chocante perceber como no Instagram e TikTok, a batalha judicial é distribuída como entretenimento, humor e lacração. Tem até torcida: o tribunal das redes pende favoravelmente para o lado de Depp - e celebra suas expressões de gozo e deboche em meio às sessões do julgamento. "Conteúdos anti-Amber Heard estão sendo patrocinados por veículos conservadores nas redes sociais", apontou Isabela Del Monde, colunista de Universa, em sua coluna desta semana. A denúncia foi feita por jornalistas do site norte-americano Vice. Antes de dar likes e fortalecer algoritmos, entenda aqui o que está acontecendo: - Depp processa Amber, sua ex-mulher, por difamação, por causa de um editorial publicado no Washington Post, em que ela se apresentava como uma figura pública falando sobre violência doméstica. O ator aponta que, mesmo sem ter sido diretamente mencionado, o artigo danificou sua carreira e reputação. Ele pede US$ 50 milhões. Eles foram casados de 2011 a 2017.
- Amber devolveu a acusação. Pede US$ 100 milhões depois que o advogado dele disse que suas alegações eram falsas em três comunicados à imprensa.
- Em seu testemunho, no mês de abril, Depp admitiu que havia brigas, uso e álcool e de drogas, mas que nunca teria batido em Amber. E que era ela quem agia de forma violenta, com socos, chutes e objetos arremessados em sua direção. O júri viu uma foto do ator com arranhões no rosto, que ele alega terem acontecido em confronto com Amber. As testemunhas da defesa do ator, que conheciam o casal, dizem nunca ter visto Amber machucada. Uma psiquiatra forense, contratada por ele, diagnosticou transtorno de personalidade limítrofe (que causa instabilidade) e transtorno de personalidade histriônica (necessidade de ser o centro das atenções)
- No depoimento de Amber, ela falou da reviravolta no relacionamento: eles se conheceram nas filmagens de "Rum Diaries"; engataram um caso durante a divulgação do filme, em 2011. Depp, que no início do relacionamento a fazia sentir "mágica", se revelou ciumento, controlador e violento, física e sexualmente. Para comprovar, a defesa trouxe testemunhas de um Depp raivoso, inebriado por álcool e drogas.
- Os jurados viram trocas de mensagens de textos entre Depp e o ator Paul Bettany, que diziam. "Vamos afogar Amber antes de queimá-la. Eu vou foder seu cadáver queimado para ter certeza de que ela está morta"! A atriz Ellen Barkin, com quem ele se relacionava sexualmente, apareceu em vídeo para dizer que o ator vivia bêbado e já teria arremessado uma garrafa de vinho pelo quarto; para defendê-lo, a top model Kate Moss, com quem ele namorou nos anos 90, negou o rumor de que ele a teria empurrado escada abaixo.
Longe da esfera jurídica, Depp, aparentemente, já conseguiu o que queria: recuperar o amor dos fãs do capitão Jack Sparrow, que comparecem à corte para celebrá-lo, apesar de tudo o que tem sido dito ali. Amber e o movimento feminista #MeToo, por sua vez, foram desacreditados e condenados — uma perda terrível para as mulheres que buscam defender-se da violência doméstica. Mesmo que o júri decida a favor de Amber, nesse teatro da vida real, transformado em arena pública, todas nós, mulheres, já perdemos. |
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