Os entregadores de aplicativos de delivery viraram a mais nova classe trabalhadora a reivindicar por direitos. Fizeram greves, protestos e chamaram a atenção para a vulnerabilidade de sua condição, amplificada por terem de arrisca a própria pele em tempos de pandemia. Tempos depois, o iFood consegue aval de autoridades regulatórias para tirar do papel o plano de fazer entregas com drones. Quem concatena as duas informações chega a uma conclusão aparentemente óbvia: a empresa quer trocar os barulhentos motoboys pelas obedientes máquinas voadoras. Antes de distribuir essa teoria pelo WhatsApp, é bom ter calma. Há detalhes na iniciativa aérea do iFood que inviabilizam abrir mão dos seres humanos. Pelo menos, por ora. Mas vamos por partes. O que rolou?Nesta semana, a Agência Nacional da Aviação Civil (Anac) emitiu um certificado inédito no Brasil. O documento é uma revolução para o nosso espaço aéreo, pois: - Permite que uma empresa brasileira teste entregas de produtos com drones. A agraciada é a...
- ... Speedbird, companhia de Campinas, que desenvolve junto do iFood um sistema de delivery voador e já tem data de estreia, afinal...
- ... a estrutura já estava pronta para decolar desde o ano passado. Como o aval só veio agora, o início do serviço deve ficar para setembro. Além disso...
- ... os primeiros clientes devem ser os residentes de um complexo de condomínios próximo ao Shopping Iguatemi, de Campinas. Aliás...
- ... a comida a ser entregue sairá das lojas presentes neste centro comercial. O drone decolará do topo do prédio.
Por que é importante?Os entregadores são, ao mesmo tempo, os motores dos restaurantes que recorrem ao iFood e uma fonte inesgotável de dor de cabeça para a empresa. Ela é chamada a agir sempre que há alguma encrenca com eles. Foi o caso quando um deles foi alvo de ofensas racistas proferidas por um contabilista, morador de condomínio rico em Valinhos (SP). O app desligou o agressor e ofereceu ajuda ao motoboy. Ainda assim, esses profissionais não têm vínculo empregatício com o iFood, segundo reiteradas decisões da Justiça do Trabalho. E é dessa relação precária que surge a fonte de insatisfação da classe. Afinal, ela não goza de férias, 13º salário, remuneração mínima, para ficar no básico. Isso a faz ter de trabalhar por horas a fim para ter o que comer no fim do dia. Cortar o entregador da equação pouparia custos para o iFood. E permitiria que a empresa focasse na relação com os restaurantes, que, em alguns momentos, não é dos melhores. Mas isso parece estar distante. E não é porque o iFood é bonzinho ou algo do tipo. Não é bem assim, mas está quase láAcontece que a ideia de que a tecnologia, em algum momento, substituirá todos os humanos é algo que não sobrevive a um banho rápido de realidade. Este é o caso dos drones do iFood. As aeronaves terão de decolar de um "drone porto" e pousar em outro. Essa estrutura não poderá ser implantada em todo lugar, afinal estamos falando de um "heliponto" em escala reduzida. Além disso, os entregadores tem de levar a comida da loja até o primeiro drone porto e do ponto de desembarque até a casa dos clientes. No trajeto feito internamente no shopping, o iFood já está testando um robozinho entregador. Ainda assim, sua ação será limitada. Conta a favor do iFood o fato de autorização da Anac permitir que o piloto possa controlar o drone sem ter contato visual com ele. Isso permite viagens mais longas. Ainda assim, o iFood teria de arcar com os honorários do piloto, com os custos de compra e manutenção do drone e da instalação do drone porto. Parece um custo impeditivo para o projeto se tornar massivo, já que atualmente todos estes gastos são assumidos pelo entregador. |
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