Maior festival de criatividade e publicidade do mundo, o Cannes Lions premia os melhores trabalhos desenvolvidos por agências e anunciantes de todo o planeta. Também traz palestras, workshops, networking, shows e ativações durante seus cinco dias presenciais na Riviera Francesa. É uma importante fonte de inspiração para novas ideias e negócios. Cada profissional participa de Cannes com um objetivo e enxerga o festival de uma maneira diferente, trazendo na bagagem, além dos Leões — os famosos troféus da premiação —, lições das mais diversas. Para entender melhor quais foram os principais aprendizados deste ano, conversamos com cinco representantes da indústria criativa. Preocupação com o futuro"Este ano vivemos o festival do reencontro. Depois de um 2020 sem Cannes e um 2021 com uma edição remota, foi muito importante poder trocar pessoalmente, olhar nos olhos daqueles que estavam por trás das ideias que passaram pelo Palais, além de sentir as principais preocupações que movem a criatividade agora", disse Juliana Leite, diretora criativa de projetos especiais da Africa, agência brasileira mais premiada deste ano em número de Leões, com 15. "A lição principal é que a criatividade é essencialmente humana, e a colaboração é parte fundamental do que somos e do que podemos produzir. Muitas das ideias premiadas trazem isso e, principalmente, manifestam a preocupação com o futuro em sua essência. Um reflexo de tudo que estamos vivendo", complementa a executiva, uma das principais responsáveis pela campanha "Cabelo Cremoso", para Brahma, ganhadora de sete troféus (1 ouro, 4 pratas e 2 bronzes). Mudanças climáticasA consideração se reflete na prática: dos 32 Grand Prix entregues este ano - os prêmios máximos de cada uma das categorias da competição, além de troféus especiais —, ao menos 21 tinham algum elemento considerável atrelado a temas sociais, ambientais e inclusivos. Um dos cases brasileiros mais premiados, "Los Santos +3ºC" é um bom exemplo. Criada pela VMLY&R para o Greenpeace, a ação levou ao ambiente online do jogo GTA V o que seria a cidade do game, inspirada em Los Angeles, se a Terra sofresse com apenas 3ºC a mais de temperatura pelo aquecimento global, dificultando o cumprimento das missões em meio ao caos e passando um importante recado sobre as mudanças climáticas às novas gerações. Experiência de trocas presenciais"Cannes 2022 deixa duas lições centrais. A primeira é sobre o quanto o encontro presencial é inspirador para a indústria criativa. Trocar em um ambiente informal, com clientes e pares de diferentes países e culturas, é uma experiência que impacta diretamente na nossa visão de mundo e, consequentemente, no nosso trabalho, além de fortalecer um senso de comunidade muito importante para o mercado. A segunda lição é sobre o papel cada vez mais ativista das marcas em relação a diferentes causas. Neste ano, a sustentabilidade liderou os debates, mas já vimos isso ocorrer também com foco nas questões de gênero e raciais, por exemplo", analisa Rafael Pitanguy, CCO (chief creative officer) da VMLY&R. Foi possível perceber uma pluralidade maior de pessoas do mundo todo durante esta edição, em relação ao histórico do festival — que nasceu há mais de 60 anos focado exclusivamente na área criativa das agências, um departamento mais masculino, branco e hétero. Precisa de mais diversidadeMas, apesar dos avanços, há na opinião de quem está ajudando a tornar esse ambiente mais diverso e inclusivo uma percepção de que ainda há muito a se fazer. "Na minha opinião, a maior lição de Cannes este ano é que ainda falta muito interesse real da nossa indústria branca pela diversidade. A praia mais diversa de Cannes, onde as conversas mais interessantes aconteceram, com presença gigante de negros (e o show do NAS), foi a Inkwell Beach. E eu vi muito poucos criativos brancos do Brasil passando por lá. Quase nenhum", afirma Felipe Silva, sócio e diretor de criação da agência Gana -nascida no primeiro semestre de 2021 com equipe 100% preta —, citando o espaço de ativações do coletivo Cannes Can, inaugurado em 2019 e que tem como objetivo destacar durante o festival cases que tragam como tema central equidade, diversidade e inclusão. A questão também foi levantada por Joana Mendes, presidente do Clube de Criação, como uma de suas principais lições tiradas do festival. "Foi incrível rever e conhecer tanta gente. A Inkwell Beach foi um dos melhores lugares para estar, muitos papos sobre mudanças reais e o melhor almoço. Para mim, é muito interessante que o maior prêmio de filme tenha sido sobre portadores de deficiência, mas o festival tenha tão pouca acessibilidade. Mesmo em cases sobre grupos de mulheres, LGTQIA+ e pessoas negras, ainda são os homens cis brancos que sobem ao palco. Estamos tendo discussões, mas poucas ações", considera a executiva, citando o trabalho "Super.Human.", do Channel 4 inglês, ganhador de um dos dois Grand Prix de Film Lions ao destacar os atletas da Paralimpíada 2020. Inspiração direto da fonteDedicado a inspirar e formar os futuros líderes criativos da indústria, Cannes realiza todo ano o Young Lions, projeto que incentiva profissionais com menos de 31 anos a participar do festival e ter acesso a diversas experiências para amplificar esse processo. Este ano, o Brasil teve 12 jovens profissionais selecionados. Letícia Kohanoski, diretora de arte da Tech and Soul, teve sua primeira participação no evento este ano e destaca como é muito mais completa a experiência de quem está lá, in loco, aproveitando cada oportunidade oferecida pelo festival. "Estar em Cannes é como beber água direto da fonte. A experiência de ter participado desse evento tão grande e importante para a gente que trabalha com publicidade foi incrível. É como se fosse uma imersão nos trabalhos que posteriormente viram nossas referências. Além da oportunidade de acompanhar as palestras e ver as premiações de perto, conhecemos pessoas do mundo inteiro, que na minha opinião acabam sendo nossa maior fonte de inspiração", analisa. |
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