terça-feira, 31 de agosto de 2021

Links do mês #065 e o que podemos aprender com uma sigla desconhecida

Links do mês #065 e o que podemos aprender com uma sigla desconhecida

Suponhamos que você se depare com uma sigla que você não sabe seu significado. Vou inventar uma aqui para dar de exemplo: FDN. Você está lendo um texto e pum, aparece a sigla FDN no meio da leitura. Para suprir a lacuna de informação, tentamos, na mesma hora, criar um significado que faça sentido para a sigla, geralmente sem sucesso. Recorremos ao Google e lá está: "Fundo de Desenvolvimento Nacional" (significado que eu também inventei).

Nessa nossa busca mental pelo significado, opções diferentes (e erradas) vem à mente. Fórum de Direito Náutico, Festival Dinamarquês de Negócios, Festa dos Deuses Neozelandeses, Fábrica de Doces Natalinos, e por aí vai. 

O ato de geração de significados para uma sigla dentro da nossa cabeça é bem mecânico: vasculhamos nosso cérebro em busca das palavras que começam com as mesmas letras da sigla e tentamos construir combinações até achar uma que funcione. 

Combinações como, por exemplo, Faísca de Dinossauros Notívagos são rapidamente descartadas por não fazer o menor sentido. Ao fim, analisamos as melhores combinações e vamos no Google ver se acertamos ou não.


O PROCESSO CRIATIVO

Essa história toda eu trago para tentar exemplificar como funciona o processo criativo. A criação de uma ideia nova passa exatamente pelas mesmas etapas. Todo processo criativo começa com um problema (etapa 1). Depois, buscamos informações relevantes para o contexto (etapa 2) a fim de encontrar combinações de informações (etapa 3) que respondam ao problema de forma satisfatória (etapa 4).

Etapa 1 - O problema: descobrir o significado da sigla FDN.
Etapa 2 - Busca de informações: vasculhar nosso vocabulário pessoal para encontrar palavras que comecem com F, D e N.
Etapa 3 - Combinar informações: associar as palavras encontradas para encontrar significados que façam sentido.
Etapa 4 - Resposta ao problema: olhar para tudo que criamos de combinações e decidir qual é o significado correto.

Obviamente, o processo criativo possui várias nuances e suas etapas não possuem separações tão perceptíveis assim. O que descrevo aqui é uma redução/simplificação para que consigamos entendê-lo melhor. 

Se vocês querem ser pessoas mais criativas, eu diria para focarem muito na etapa 2. Pra mim, a busca de informações é a etapa que temos maior "controle" e por isso é aquela que deveria receber nosso maior gasto de energia.  

Não temos controle sobre a maioria dos problemas que trabalhamos, tampouco sobre as sinapses que criam as combinações no nosso cérebro dentro da etapa 3. Eu diria que nessa etapa é onde acontecem diversos momentos Eureka. Esses momentos Eureka geram ideias factíveis e absurdas, que vão precisar de um olhar criterioso na etapa 4 para definirmos qual ideia gerada é a melhor.

Já a etapa 2 depende apenas do nosso esforço em estarmos bem abastecidos de informações. Se eu pedir para vocês criarem 50 significados para a sigla FDN, quanto tempo vocês levariam?

Acredito que algumas pessoas levariam horas e outras dias ou até semanas. As pessoas que chegarem em 50 significados em pouco tempo eu apostaria dinheiro que são pessoas que lêem bastante, que escrevem, que constantemente acessam seu vocabulário pessoal da língua portuguesa. Quem escreve e lê bastante, está sempre em contato com palavras diferentes. Logo, nesse exercício hipotético de criar significados para uma sigla, essas pessoas têm as palavras que precisam frescas na memória, mais acessíveis, e as combinações nascem mais facilmente. O resultado: mais momentos Eureka na etapa 3.


INFORMAÇÃO É ESSENCIAL
Caso você tenha um problema à sua frente e queira resolver ele criativamente, importa muito a quantidade de informações que você têm no seu cérebro para criar as combinações necessárias. Como fazer isso? A resposta é óbvia: consumindo informações.

A minha empresa, a Shoot, dobrou de tamanho nos últimos 6 meses. Isso gerou alguns problemas. Como integrar tantas pessoas novas entrando ao mesmo tempo? Como disseminar para elas a cultura da empresa em pouco tempo? Como lidar com um cenário financeiro diferente? Como fazer plano de carreira para as pessoas novas?

O que eu fiz? Fui ler livros sobre empresas de tamanho semelhante e que passaram por experiências do mesmo tipo. Me abasteci de diversas histórias e relatos de organizações parecidas e isso me ajudou muito a ter ideias que funcionassem pra Shoot. Isso é meio óbvio, não é? É muito! Mas até pra mim, que trabalho com criatividade, às vezes me esqueço de ir atrás de outras fontes e tento resolver um problema partindo de uma página em branco. Pode até dar certo, mas certamente demora mais.

No processo criativo, quantidade faz diferença. Quanto mais combinações criarmos, maior a chance de uma delas ser a resposta certa. E para termos muitas combinações, nos munir da maior quantidade possível de informações é essencial.

E não apenas de informação que pertencem ao universo do problema. Para encontrar soluções para os problemas que citei acima do novo contexto da Shoot, talvez eu não precisasse ler apenas conteúdos relacionados a empresas. Eu poderia ler como as plantas se comportam em relações de entre espécies diferentes, ou até como antigos povos usavam a colaboração para criar novas estratégias de sobrevivência. É possível enriquecer bastante o meu repertório de informações seu eu bebo de fontes que nem todo mundo costuma beber. Geralmente é assim que ideias inovadoras surgem. Quando combinamos coisas de formas não óbvias.

Se você só conhece, sei lá, 2 mil palavras, a capacidade de momentos Eureka fica reduzida, e o resultado final será maior dificuldade para ter ideias e combinações mais pobres. Já se você conhece 15 mil palavras, a brincadeira fica mais fácil e mais rica. Se você conhece palavras de outras línguas, a riqueza das combinações pode escalar exponencialmente.

Agora tente levar essa lógica para vida real. Se você quer criar algo diferente, seja uma aula, um trabalho de faculdade, uma música, um nome para um negócio, um currículo, um email ou qualquer outra coisa, quanto mais informações você tiver, maior a probabilidade de novas combinações ao final. Fica muito mais fácil criar um cardápio de restaurante diferenciado quando conhecemos mais tipos de comida.


PRÁTICA TAMBÉM FAZ DIFERENÇA
Voltando ao exercício, sabe o que é mais louco? É bem provável que a pessoa que levar semanas para criar os 50 significados conheça todas as palavras usadas pela pessoa que levou apenas horas para criá-los. 

Ou seja, ela poderia ter chego aos mesmos resultados, e talvez até chegue, mas a falta de prática com o universo de informações (no caso, as palavras) pode ter atrapalhado e feito com que ela demorasse mais para criar as combinações necessárias. Vamos supor que a pessoa que terminou o exercício em algumas horas tenha inventado o significado Fórum de Docentes da Noruega. A pessoa que levou semanas poderia ter pensado nisso, pois ela conhece as palavras Fórum, Docente e Noruega. Mas ela não chegou. Não pensou nessa possibilidade e as que pensou demoraram dias para serem formadas na sua cabeça. Faltou o que para isso acontecer mais rapidamente? Prática. 

As pessoas que chegam em pouco tempo nos 50 significados devem praticar a etapa 3 no seu dia a dia, em diferentes situações. Devem ser pessoas que constantemente tentam solucionar problemas e pensar em ideias novas, deixando seus cérebros "treinados" para fazer combinações com mais velocidade que o cérebro normal.

Dito tudo isso, hoje tem tema de casa: abram um bloco de notas no celular ou separem uma página no caderninho de vocês e criem 50 significados para a sigla FDN. Quero até segunda no meu email. Tô falando sério.

Vamos praticar essa nossa criatividade ;)


 
Espero que gostem dos links.

- Amei esse jogo que nasceu para melhorar a relação entre sócios(as) através de simples perguntas: Combinados
- Informação importante: acelerar áudio de WhatsApp impulsiona a ansiedade. Aqui e aqui.
- Precisamos saber o que está acontecendo na Amazônia se queremos salvá-la de nós mesmos.
- Laurentino Gomes trazendo um retrato detalhadíssimo de como a escravidão aconteceu no Brasil e como isso impacta no racismo da sociedade atual.
- Precisamos mudar a lógica para resolver os problemas do mundo sem gerar os mesmo problemas que estamos enfrentando agora.



Bom novo mês para vocês.
<3


 

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