Então. Descobri esses dias a fundação The Long Now, uma iniciativa que tem como objetivo fazer um contraponto à cultura da aceleração/pressa da sociedade atual e disseminar a cultura do pensamento de longo prazo entre a humanidade. Além de realizarem vários projetos para aumentar a consciência sobre esse tema, essa galera está simplesmente construindo um relógio feito para funcionar por 10 MIL ANOS. Sim. 10 MILÊNIOS. O relógio está sendo montado dentro de uma montanha (ele vai ter um tamanho monumental) e será programado para tocar uma música diferente cada vez que fizer "tic" e "tac". Só que esse "tic" só acontecerá uma vez por ano. Logo, cada ano terá uma música diferente, que tocará só uma vez. E isso se repetirá por 10 mil fucking anos. 10 mil anos atrás a gente recém começava a construir cidades e a formar civilizações mais fixas. 10 mil anos pra frente é um cenário inimaginável para qualquer pessoa. Prever quem ouvirá essas músicas é um exercício impossível. O idealizador do relógio, Danny Hillis, disse: "Não consigo imaginar o futuro, mas me preocupo com ele. Sei que faço parte de uma história que começa muito antes de eu conseguir me lembrar e continua muito além, quando alguém vai se lembrar de mim. Sinto que estou vivo em um momento de mudanças importantes e sinto a responsabilidade de garantir que a mudança seja bem-sucedida. Planto minhas nozes sabendo que nunca viverei para colher carvalhos." Não sei vocês, mas eu achei extremamente incrível essa empreitada. Um relógio para funcionar por 10 mil anos! Que inocência e ousadia lindas. Ele pode estragar e ninguém se importar em arrumar, ele pode ser destruído por um asteróide. Ele pode funcionar por 10 mil anos e produzir melodias belíssimas a cada toque e ninguém estar lá para ouvir nada. Admiro o cara que teve a ideia. Admiro a coragem em criar uma criatura que não será aproveitada enquanto sua vida durar. Quantos de nós realizam algo para a vida depois da nossa vida? Sofremos ouvindo histórias de artistas que ficaram conhecidos apenas depois da sua morte. "Viveu sem saber que era gênio, coitado." Como se a pessoa não se desse por plena apenas por estar fazendo aquilo que gostava de fazer. Como se não tivesse valido a pena fazer algo que não fora instantaneamente reconhecido. A mentalidade "tudo pra ontem" que nossa cultura prega e vende aos quatro ventos sempre me incomodou. Tempo é dinheiro. A vida é muito curta. O PIB precisa crescer urgente. Tirar ano sabático é loucura. Ano sem crescimento é um ano perdido. Fazemos as coisas para darem resultados o mais rápido possível e não parece que pensamos no todo. Não pensamos nos 10 mil anos. Não pensamos sequer nos próximos 50 anos. Dentro da nossa sociedade moderna, a cultura do longo prazo vence sempre a batalha contra o longo prazo. Os Iroqueses, civilização indígena que ocupou a região dos Grandes Lagos na América do Norte, ao tomar uma decisão, tinham o costume de levar em consideração o impacto que ela teria sobre as próximas sete gerações. SETE gerações. São mais de 400 anos para se levar em consideração. Haja calma, haja tranquilidade, haja pensamento de longo prazo. E nós aqui, elegendo pessoas para em 4 anos resolverem tudo pois se elas perderem as eleições seguintes entra outra pessoa para tentar resolver tudo em mais 4. Isso precisa ser revisto e recomendo esse texto sobre o assunto. Se tivemos um mínimo de pensamento de longo prazo presente nas nossas atitudes o aquecimento global não seria um problema. Pensar no futuro requer pensar em planos. Requer alinhamento de expectativas. Requer trabalho em grupo. Requer senso de comunidade. Requer empatia com quem viveu antes de nós e confiança naqueles que nos sucederão. Requer fazer sacrifícios. Requer calma, ao mesmo tempo que requer querer seguir em frente. Nada disso temos em abundância na sociedade hoje. Temos vários futuristas nos metralhando com previsões, mas poucas pessoas vivendo para que o futuro aconteça da melhor forma possível, estando a gente aqui ou não. É óbvio que 1 dia para nós vale muito mais do que para um relógio que vai viver 10 mil anos e que temos que acelerar coisas em alguns momentos da vida. Mas não é sobre isso o meu ponto. É mais sobre entender que não importa o que aconteça com a gente, o tempo vai continuar se movendo para frente. Entender isso nos permite não apenas viver de forma plena a nossa passagem nesse plano, sem se preocupar tanto com alguns pequenos problemas, mas também agir como bons habitantes desse planeta para "passar o bastão" sabendo que fizemos a nossa parte para a vida da humanidade. Se todo mundo viver sua vida pensando apenas em si mesmo, daí não adianta ter relógios que durem 10 milênios, pois não haverá ninguém para ouví-lo. Acredito que se a gente começar a levar em consideração os próximos 10 mil anos para tomar decisões, muita coisa já mudaria. Que tal a gente começar com os próximos 400? Espero que gostem dos links. - Quem diz para você o que é liberdade é o individualismo ou o senso de comunidade? Aconselho seguirem o perfil do @FuturoPossível no Insta :) - Um compilado incrível de grupos étnicos com vidas completamente diferentes da nossa. - Está crescendo na Europa o movimento que luta pelo fim das propagandas em lugares públicos com o objetivo de diminuir a poluição visual das cidades e estradas e os efeitos que as mensagens publicitárias causam. - Estaria a empatia acabando? Ou melhor, estaríamos usando essa ferramenta para ajudar apenas as pessoas que pensam como a gente? - Dois vídeos bem interessantes que mostram como a democracia de hoje possui sérios problemas e como poderíamos viver em um sistema mais democrático. - Ela saiu das redes sociais 3 anos atrás, escreveu um textão que bombou e agora volta ao mesmo texto para revisar o que pensava. - O que o aquecimento global tem de urgente, ele tem de duradouro: "Os benefícios de aceitar a crise climática como nossa eterna emergência". - Quando a publicidade acerta, comerciais como esse nascem. #PraChorar "A step backward, after making a wrong turn, is a step in the right direction." - Kurt Vonnegut <3 |
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