(Olá, leitores, devido ao feriado do Dia da Consciência Negra, a edição da newsletter foi transferida da sexta (20) para esta segunda (23). Mas não se acostumem: continuamos às sextas.) Em domingo de eleição, qualquer coisinha é vista como pretexto para os céticos da urna eletrônica defenderem a volta do voto em papel. Neste ano, porém, dois ataques hackers e uma lambança do TSE deram fôlego aos terraplanistas eleitorais.
Aos poucos, os detalhes de cada um dos eventos vão sendo revelados. O que já dá para dizer com certeza é que: - Por volta de 9h do domingo (15), um hacker vazou dados internos do TSE em fóruns da internet e em uma conta no Twitter. Sem qualquer relação com o processo eleitoral...
- ... O vazamento continha informações de funcionários do tribunal. Inicialmente, pensava-se que compreendia apenas o período de 2001 a 2010, mas também há dados de 2020. Fato é que...
- ... Essa invasão surrupiou, por exemplo, registros de email de servidores, ocorreu em setembro e partiu de Portugal. Ainda no domingo...
- ... Lá pelas 11h, um ataque de força bruta atingiu em cheio o site do tribunal, que tornou o acesso ao app E-titulo uma árdua tarefa. Além de gente que buscava achar o local de votação...
- ... Os sistemas do TSE chegaram a receber 436 mil conexões por segundo, vindo dos Estados Unidos, Nova Zelândia e Brasil. Depois da votação...
- ... O supercomputador da corte eleitoral, novinho em folha, demorou horas para dar o resultado de algumas cidades, notadamente as de São Paulo.
A invasão e o ataque para tirar o sistema do ar foram ações coordenadas para "desacreditar a justiça eleitoral e eventualmente alegar fraude no resultado desfavorável a certos candidatos", disse à Folha de S.Paulo Thiago Tavares, presidente da Safernet, ONG parceira do Ministério Público Federal no combate ao Cibercrime. Acontece que o grupo hacker CyberTeam, autor do vazamento dos dados, possui integrantes que já colaboraram com bolsonaristas no passado. Mas isso é caso de polícia, e PF e MPF apuram a história. O terceiro evento de domingo, no entanto, passa ao largo da luta política e é uma tragédia anunciada de como a burocracia brasileira produz efeitos inesperados.
Confira no replay: - Em 2018, a PF sugeriu mexer no sistema eleitoral responsável pela soma dos votos
- Até aquele ano, cada um dos 27 TREs do país contava os votos do seu estado e encaminhava a soma ao TSE. A sugestão dos federais era contar tudo num lugar só
- O TSE topou, mas só fechou a aquisição do supercomputador em março de 2020
- O equipamento da Oracle, comprado sem licitação por R$ 26,2 milhões, só chegou em agosto
- Atrasado devido à pandemia e a três meses antes da eleição, a máquina passou por menos testes do que deveria
- Conclusão: a inteligência artificial da ferramenta aprendeu a contar os votos na hora e isso demorou um pouco porque, devido à pane, rolou aquele "liga e desliga"
O presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, atribuiu a demora da contagem ao atraso na entrega do computador, provocado pela pandemia. Se o cronograma tivesse sido cumprido, sobrariam alguns meses mais para testes. Nenhuma palavra foi dita sobre por que o tribunal sentou sobre a proposta da PF por quase um ano e meio. Em entrevista à colunista Carla Araújo, o general de Brigada Carlos de Oliveira Freitas, Assessor Especial de Segurança da Informação do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), disse que o governo precisa, ao menos, investir R$ 3 milhões para prevenir incidentes cibernéticos com mais eficácia. Casos do TSE mostram que, antes de lidarmos com hackers, é preciso dominar outra tecnologia. A do calendário, por exemplo.
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