O STF decidiu acender as luzes, baixar a música e começou a varrer o salão. A festa do Orçamento secreto, a manobra que o governo vinha usando para comprar apoio dos parlamentares, acabou.
Orçamento secreto é o apelido do instrumento de "emendas do relator", o único dinheiro público liberado em que não aparece claramente quem foi o político beneficiado. Daí o secreto. Nós explicamos tim-tim por tim-tim neste
texto aqui.
Só que, no desespero para aprovar a PEC dos Precatórios, essa torneira de dinheiro correu sem freios. Foi quase R$ 1 bi em pagamentos em coisa de dois dias da véspera da votação. E deu certo: o governo conseguiu 312 votos, dos 308 necessários para fazer o projeto andar.
A compra de apoio foi tão descarada que a ministra do Supremo, Rosa Weber, decidiu acabar com a festa. Primeiro, por uma liminar. Agora, os colegas do Supremo endossaram a decisão. O julgamento segue até o final do dia, mas a maioria dos votos foi por suspender imediatamente os pagamentos. Além disso, o governo deverá tornar público quem foi o destinatário de cada pagamento.
Tem um detalhe: a decisão saiu antes de a Câmara dos deputados votar em segundo turno a PEC (para uma emenda à constituição ser aprovada, ela precisa passar por duas votações na Câmara e mais duas no Senado). Desde que a primeira votação terminou, houve revolta entre alguns partidos, contrários à PEC, e aí analistas políticos passaram a prever uma chance real de derrota do governo.
A proposta pedala o pagamento de dívidas que o governo tem e a já Justiça mandou pagar. Bem, com a PEC, o governo adiará pagamentos até então inadiáveis, deixando a conta para depois de 2024. Essa manobra é crucial para abrir espaço no Orçamento para o Auxílio Brasil, o programa que o presidente Jair Bolsonaro colocou no lugar do Bolsa Família em busca de uma bandeira para a reeleição.
Sem a PEC, o governo ficaria preso no teto de gastos, o instrumento que limita o crescimento dos gastos públicos à inflação. No fundo, trata-se de um jeitinho. É como se o mercado financeiro tivesse preferido um teto cheio de goteiras a dormir ao relento.
Daí porque a bolsa subiu nesta terça-feira, apesar de um dia negativo lá nos Estados Unidos. Eram os investidores na expectativa de um desfecho menos pior para o problema. O Ibovespa subiu 0,72%, a 105.535 pontos. Não só. Juros futuros caíram, alimentando as ações de empresas varejistas. É que elas dependem de consumidores com acesso a crédito barato para consumir. Para fechar a tríade do dia positivo, o dólar também cedeu ante o real e ficou abaixo do patamar de R$ 5,50.
Mas não tenha dúvida, sem as emendas, a jornada da PEC será dura. Uma derrota já apareceu. Durante a tarde, deputados derrubaram um dos trechos da PEC que era caro ao ministério da Economia. Existe uma lei que impede o governo de emitir novas dívidas para pagar despesas do dia a dia, como salários e aposentadorias. Essa é a chamada de regra de ouro. Se ele quiser fazer isso, precisa pedir autorização expressa do Congresso, sob pena de cometer crime de responsabilidade fiscal. Pois bem, o governo queria driblar essa exigência – mas perdeu. No fim, um alívio para quem realmente está preocupado com as contas públicas. Amanhã a gente te conta como terminou a votação da PEC. Até lá.
Maiores altas
Magazine Luiza (MGLU3): 10,06%
Americanas S.A. (AMER3) 7,65%
Eztec (EZTC3) 5,87%
Lojas Americanas (LAME4) 6,21%
Via (VIIA3) 6,80%
Maiores baixas
BTG Pactual (BPAC11) -4,18%
PetroRio (PRIO3) -4,54%
Gol (GOLL4) -3,41%
Vale (VALE3) -2,46%
Vivo (VIVT3) -1,99%
Ibovespa: 0,72%, a 105.535 pontos
Nova York
Dow Jones: -0,31%, a 36.320 pontos
S&P 500: -0,35%, a 4.685 pontos
Nasdaq: -0,60%, a 15.886 pontos
Dólar: -0,83%, a R$ 5,4948
Petróleo
Brent: 1,62%, a US$ 84,78
WTI: 2,71%, a US$ 84,15
Minério de ferro
queda de 1,62%, a US$ 92,30 por tonelada, no porto de Qingdao, na China
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