Terminei de ler uma ficção científica que recomendo: Recursão. Nela, um homem consegue voltar ao dia anterior à morte da sua filha, 15 anos antes, e a salva de um acidente. Assim, ele passa a viver uma nova vida, uma nova linha do tempo, agora com a família completa. Ele, que havia vivenciado uma existência horrível após a perda da filha ainda criança, conquistava a oportunidade de vê-la crescer e aproveitar cada novo dia ao seu lado. Isso fez o personagem, nessa nova vida, ser uma outra pessoa. Se antes era uma pessoa fechada e fria, ele passou a chorar por qualquer motivo, a aceitar qualquer aventura com a filha e parou de reclamar tanto. Ele sabia como era a vida sem ela, então um simples dia normal era um deleite, uma dádiva. Ele estava finalmente na linha do tempo que sempre quisera estar. O livro é ótimo e prometo que esse spoilerzinho não vai estragar a experiência caso queiram lê-lo, pois ele é muito mais que isso. Mas chega de falar da história, é hora de falar sobre morte e linhas do tempo alternativas. Assim que li essa parte do livro, senti uma emoção forte. Um sentimento de gratidão por estar vivo, por ter pessoas que eu amo do meu lado: minha família toda comigo, uma noiva incrível, amigos e amigas maravilhosos. Me veio a sensação de estar vivendo a "linha do tempo certa" e ser muito grato por isso. Obviamente, nem tudo é perfeito e existem problemas no mundo e na minha vida. Nem tudo são (e sempre foram) flores, e também perdi pessoas próximas nesses 36 anos de vida. Ao mesmo tempo, acredito que sou um cara de sorte por ter tudo que tenho. Vivo numa linha do tempo que eu super curto. Vocês que estão aí lendo essa news estão vivíssimos e vivíssimas, e que coisa boa. Não é louco pensar que em alguma outra linha do tempo alternativa talvez as coisas fossem diferentes, para pior ou para melhor? Mas né, não existem linhas do tempo alternativas (pelo menos ainda não foi descoberto) e a gente não tem como voltar no tempo e viver a vida de uma outra forma. Estamos vivos aqui e agora e com a realidade como ela se apresenta. Ela é única e, como vocês já sabem, tem um fim. A medicina ainda não nos tornou imortais. Saber disso não faz a nossa existência ser mais sagrada? Não faz com que cada dia torne-se muito mais importante? Assim como o personagem do livro, não deveríamos chorar diariamente ao fazer as coisas mais banais? Temos a sorte de estarmos vivos e, assim espero, com a oportunidade de curtir a vida com aquelas pessoas que amamos. E se a nossa existência é esse milagre magnífico do universo que pode acabar a qualquer momento, a gente não deveria parar TUDO que estamos fazendo e aproveitar ela ao máximo? Não apenas chorar de alegria por uma ou outra coisa, mas viver em função disso? As pessoas não deveriam TODAS viver assim? Não deveria ser assim o funcionamento da sociedade? Quando foi que o propósito da vida virou trabalhar e resolver problemas? A gente trabalha para ter dinheiro, para comprar comida, remédios e um lugar para morar, tudo isso para daí ter tempo de curtir a vida. Porém, esse processo todo consome quase todo o tempo disponível que temos. Quero curtir cada segundo da vida com a minha noiva, mas tenho que ir ali trabalhar várias horas para ter condições financeiras de poder curtir o tempo com ela mais tarde. Ok, a gente precisa se alimentar. E também nos proteger das intempéries do clima. E trabalhar às vezes é legal, comprar coisas também, crescer na vida e etc, mas ir ao cartório, ficar na linha esperando uma operadora de celular te responder ou trabalhar apenas para ganhar dinheiro deveria ser proibido. São inúmeras as coisas que vão contra a vida plena. É possível encontrar felicidade e se divertir fazendo tarefas chatas? Sim. Só que me questiono sobre o quanto complicamos as coisas e fazemos dessas coisas a razão de viver. É uma espiral de pensamentos em que a conclusão é apenas uma, o minimalismo. Ter somente o mínimo para não precisar passar todos os dias tendo que fazer tanta coisa para ter tudo que a gente quer/deve ter. Tenho total clareza de que sou um utópico. Que talvez essa seja uma visão muito idealista, mecânica e funcional. Ao mesmo tempo, me indigno que a sociedade não para e chega a um consenso sobre como fazer as coisas serem mais fáceis. Pegar tudo que a gente investe em guerras idiotas e filmes de super-heróis e criar um plano de como podemos ter uma vida menos trabalhosa. Uma vida com menos preocupações, que não nos faça esquecer que ela tem um fim e que nós e as pessoas que nós amamos podemos morrer. Que cada minuto com elas importa e que outras coisas merecem sua parcela de tempo também. Seja passar um café, ver as estrelas, jogar Uno, ler um bom livro, maratonar aquela série. A vida deveria ser sobre curtir a própria vida. Aproveitá-la em toda sua altivez. A gente não vai ter a chance de voltar no tempo para viver isso de novo. |
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