Lembro até hoje o dia que descobri que o Twitter existia. Foi num workshop de quadrinhos em um evento na minha antiga faculdade. Devem fazer 10 anos, no mínimo. Achei a ideia muito idiota (em minha defesa a plataforma tinha pouca gente e pouco movimento). Afinal, quem ia querer escrever frases curtas para outras pessoas verem? Bem, aparentemente milhões de pessoas, e eu incluso. Não demorou dois anos para este que vos fala estar totalmente errado e ainda por cima viciado na plataforma. Eu usava tanto o Twitter que a forma como meu cérebro funcionava mudou a ponto dos meus pensamentos começarem a tomar forma de tweets. A minha consciência falava comigo em frações de 140 caracteres, como se meu cérebro fosse uma máquina de gerar tweets. Se o pensamento fosse bom, ia na hora parar na timeline de quem me seguia. Foi uma história bonita, com certeza, mas 20 dias atrás ela acabou, por hora. Deletei minha conta. Mesmo o Twitter sendo ainda uma boa fonte de bobagem e informação desde que saí do Facebook ali por 2018, eu cansei e pedi as contas. E o que aconteceu? Não é que eu tenha cansado de ver notícia ruim - quem ainda não se acostumou com isso é porque não tem saído muito da cama -, tampouco fui motivado pelo boicote das marcas às redes sociais (esse é um ótimo motivo, por sinal). O que bateu em mim foi outra parada. Tentando explicar sem fugir dos jargões clássicos do tipo "as redes sociais estão dividindo o mundo" ou "a internet está tirando o toque pessoal das relações", acho que o que eu percebi é que o Twitter e outras redes sociais achatam nossas personalidades ao mostrar apenas uma pequena parcela de quem somos. A consequência disso é nos afundarmos em bolhas cada vez mais estáticas e limitar nossa visão sobre quem as pessoas ao nosso redor são. Levando em conta o momento de mundo que vivemos hoje, é natural que no Twitter, Facebook e Instagram, a gente siga/acompanhe/interaja somente com pessoas e marcas que estão de uma forma ou de outra alinhadas com nossa visão política e ideológica. Fazer o contrário disso é praticamente autoflagelação. Ver posts da galera que não fala aquilo que a gente quer ouvir nos traz raiva, ódio e nos afasta daquilo que eles estão falando. E vejam bem, aqui não estou falando de fascistas e disseminadores de fake news, essa galera está cometendo crime atrás de crime e deveriam ser punidos pela lei. Estou falando de amigos próximos, familiares, gente a um ou dois degraus de separação mas que nos distanciamos - seja ativamente, seja pelo algoritmo - por um post ou pensamento conflitante. Todos temos referências diferentes, cada um com seu próprio ponto de partida e paradas no caminho. Lemos, ouvimos e vemos conteúdos distintos. Isso nos faz abraçar fórmulas que nem sempre são as mesmas, mas realmente acredito que a maioria de nós quer chegar ao mesmo lugar: um mundo mais justo, humano, igualitário, seguro, diverso e abundante. Eu percebo muito isso quando converso ao vivo com alguém. Pessoas cujo perfil numa rede social pode me dar raiva pelas opiniões manifestadas, quando converso olho no olho vejo como temos afinidades e pontos de conexão. As redes sociais achatam muito a complexidade paradoxal que cada um de nós é. Somos resumidos em 140 caracteres, em um stories, em uma legenda de Facebook, em um repost. Ao vivo, temos as ideias, os gestos, as expressões faciais. Temos muito mais ao dispor da relação, e até a incrível possibilidade da mudança de opinião, algo que não acontece no scroll da timeline. A opinião está ali, imutável. E aos poucos vamos ficando também imutáveis sobre como nos sentimos com relação às pessoas que postam o que não concordamos. Saí do Twitter para tentar voltar a enxergar as pessoas mais pelo aquilo que elas são do que aquilo que elas postam, assim como para que elas também não me vejam apenas pelos meus posts. Sinto que se eu ficar por muito mais tempo em coisas como Twitter e Facebook, talvez perca pessoas nas quais tenho muito carinho ao sintetizá-las a posts e RTs. "E no Instagram, Braga? Não acontece a mesma coisa?" Provavelmente acontece, mas tenho usado ele tão pouco (1/10 do tempo de uso do Twitter) que não tem me incomodado. Talvez eu saia dele também, não sei. Talvez eu volte pro Twitter depois de algum tempo me descomprimindo. Tudo pode acontecer. Mas, por agora, o que não quero que aconteça é ver meu cérebro moldado por uma rede social. Espero que gostem dos links. - Silvio Almeida foi no Roda Vida e deu um show, mas eu gostei mais da conversa que ele teve com o Bruno Torturra, jornalista que admiro e já apareceu aqui na newsletter antes. São duas horinhas de conversa que valem muito a pena. O papo passa pela pandemia, o racismo e a crise econômica e social, assuntos relevantíssimos para o mundo hoje. Sério, encontre duas horas e assista até o final :) - Excelente TED para quem gosta de criatividade e resultados diferentes. Sebastian Errazuriz é um designer chileno que tem uma visão muito única para os problemas, o que o leva para execuções totalmente inusitadas. - Essa é a melhor ferramenta para empreendedorismo pessoal que conheci nos últimos anos: Bento. - Vi o documentário Free Solo, que conta a história do americano que subiu sem cordas um dos penhascos mais difíceis para escalada e foram 90 minutos em que eu fiquei praticamente sem respirar. Incrível demais. Esse é o trailer. - Outra excelente conversa, essa com o indígena Tyson Yunkaporta falando sobre como a visão circular pode ser muito melhor que a visão linear para enfrentar a crise que vivemos. Se puderem, continuem casa. <3 |
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