O dólar acumula no ano uma valorização de quase 35% em relação ao real, um dos melhores desempenhos entre os ativos que investidores brasileiros têm para aplicar recursos. Quem não apostou na moeda americana quando a cotação estava na casa de R$ 4, no começo de 2020, deve se perguntar se ainda vale a pena entrar nessa onda, ainda que de forma atrasada —afinal, a verdinha já surfa no patamar de R$ 5,50. Gestores de recursos e consultores financeiros destacam que aplicar em dólar deve ser visto como uma forma de proteção, e não como uma aposta para ganhar dinheiro —em especial, no curto prazo. Mas apontam que o ambiente de incerteza justifica a decisão de ter uma fatia da carteira, ainda que pequena, em ativos relacionados ao dólar. "Os Estados Unidos devem sair da crise mais rapidamente que outros países, inclusive em relação ao Brasil. Esse é um dos motivos pelos quais devemos ter um dólar forte por algum tempo", afirma Rodrigo Franchini, sócio da plataforma de consultoria financeira Monte Bravo. Segundo ele, o ambiente econômico ainda é de muita incerteza, e o dólar é considerado um porto seguro. Por isso, faz sentido ter uma parte dos investimentos em moeda americana. Riscos e moderaçãoOs consultores destacam que a moeda americana pode se valorizar ante o real, mas também pode passar por ajustes, ainda mais depois de um período em que acumulou forte valorização. Eles citam, por exemplo, o mês do maio, quando o dólar chegou a encostar em R$ 5,90, antes de escorregar para R$ 5,50. Por isso, alertam, ativos dolarizados devem compor a carteira de investimentos de forma moderada. "Investimentos em dólar não devem fazer parte jamais, por exemplo, daquela fatia da reserva de emergência", diz o consultor financeiro da Planejar Renan Lima. Quanto aplicarA fatia que o investidor deve ter em ativos dolarizados varia conforme o perfil de cada um. Os mais conservadores, que não querem sofrer muito com a variação dos mercados, devem ser mais cuidadosos ao investir nesse negócio. Para quem tem mais recursos disponíveis ou precisa de dólares para projetos de vida —um curso no exterior ou comprar equipamento cotados em moeda americana—, o percentual desse ativo pode ser maior. O responsável pela mesa institucional da Genial Investimentos, Roberto Motta, sugere uma participação de até 10% no total da carteira, para investidores mais conservadores, e até 17%, para aqueles que são mais agressivos na hora de aplicar. Onde investir em dólarPara ter uma parte da carteira de investimentos em dólar, a pessoa não precisa necessariamente ir a uma casa de câmbio e adquirir cédulas. Há várias aplicações que acompanham o comportamento do dólar, e isso é o que importa. Fundos de investimento cambial: São fundos que aplicam até 80% do patrimônio em contratos de dólar e outros ativos relacionados à moeda americana, como ouro, negociados na Bolsa. Ações de empresas americanas: É possível comprar ações de empresas americanas que são negociadas na Bolsa brasileira por meio das chamadas BDRs (Brazilian Depositary Receipts), que são títulos que representam papéis de companhias negociadas nas Bolsas dos Estados Unidos. Basta abrir conta em uma corretora e, por meio dela, negociar compra e venda dos ativos. Exchange Traded Fund (ETF): Os ETFs são fundos que investem em índices de ações de Bolsas. Da mesma forma que existe o Ibovespa, no Brasil, há índices que representam uma média do desempenho de Bolsas no exterior, como o S&P 500, na Bolsa de Nova York. É necessário abrir uma conta em corretora no Brasil para comprar e vender ETFs. Ouro: Como o ouro é cotado no mercado internacional em dólar, ao aplicar em ouro, seja comprando o metal físico, seja investindo em fundos de investimento, a pessoa está, na verdade, adquirindo um ativo que acompanha a cotação da moeda americana. Como construir a posiçãoOs gestores dizem que o investidor deve ser cuidadoso ao montar sua parcela de investimentos em dólar na carteira. Não precisa de pressa nem tentar acertar o melhor dia para comprar, pois a volatilidade desse ativo é muito grande, variando mais de 1% em um único dia. A dica é o investidor ir adquirindo esse ativo aos poucos. Assim, consegue capturar uma cotação média de um determinado período. Pergunta da semanaO leitor Carlos Augusto Tostes de Macedo pergunta: " Gostaria de saber qual seria a melhor aplicação para um prazo de três anos e outra aplicação para o prazo de treze anos. Três anos é considerado longo prazo?" Em investimento, é muito importante definir o perfil de investidor, os objetivos, o horizonte de investimento e a tolerância a perdas. Vamos considerar um investidor de perfil moderado. Poderia ter a seguinte estrutura: 40% em renda fixa bancária (LCA, LCI); 30% em renda fixa de emissão de empresas (CRA, CRI e Debêntures incentivadas), de emissores com ótimo nível de "rating" (nível de risco); 20% em renda fixa pública, principalmente em NTNs ou LTNs, e 10% em renda variável (ações com histórico de distribuição de dividendos). Essas estruturas também estão disponíveis em fundos de multimercados. Teoricamente, três anos pode ser considerado médio prazo. Para investir por um período maior, é necessário considerar a troca de alguns investimentos. A resposta é de Pedro Ribeiro, planejador financeiro certificado pela Planejar (Associação Brasileira de Planejadores Financeiros). Queremos ouvir você Tem alguma dúvida ou sugestão sobre investimentos? 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