Foram quase 50 anos de história. No último dia 28 de outubro, a Ford confirmou que o Fiesta saiu de linha, uma declaração que deixou muitos fãs do modelo tristes, dado que ele foi produzido por 47 anos, mas que sinaliza um movimento de mercado. Estariam os hatches compactos próximos do final? Segundo o consultor Cassio Pagliarini, sócio da Bright Consulting, o movimento é, na verdade, algo esperado pela Ford. "Isso não significa a morte dos veículos hatches. Isso aconteceu porque a Ford decidiu parar com os carros compactos, tais como hatches e sedãs. Eles fizeram isso na Europa, Ásia, Austrália e até no Brasil. É a complementação do que eles já haviam anunciado no passado: a produção será concentrada em picapes, SUVs e vans comerciais, todos com projeto de eletrificação. O fim do Focus também está próximo. Somente mantiveram o Mustang convencional, mas ele é outro carro", afirma o consultor. Há um carro que se tornou uma pedra no sapato do Fiesta: o Puma, um pequeno SUV que substituiu o papel do EcoSport como utilitário de entrada da marca norte-americana. Além disso, outros modelos da Ford também foram descontinuados por não terem mais relevância em relação aos SUVs: os monovolumes S-Max e Galaxy. Nem mesmo o igualmente querido Focus escapou. Considerado médio para o padrão brasileiro, o carro se tornará um crossover na próxima geração. Cassio lembra que outras marcas mantiveram a aposta nos hatches, como são os casos da Renault, Volkswagen e Fiat. O movimento de eletrificação e de otimização da margem de lucro também explica a diminuição da representatividade dos hatches naqueles mercados. SUVs e picapes permitem uma margem de lucro maior. "É lógico que aumentou a presença dos SUVs nos mercados. Quando você vai colocando mais equipamentos de segurança passiva e ativa, fica mais fácil absorver esse custo em um veículo mais caro", reforça Cassio. O Brasil não está muito desalinhado em relação aos mercados desenvolvidos, e já iniciou o movimento de transição dos compactos mais caros para SUVs equivalentes em tamanho faz anos. Entretanto, há um fator que não decretará o final dos hatches de acesso por aqui: o preço. Ainda há carros de entrada no nosso mercado, exemplo do novo Citroën C3 e do Renault Kwid. Ambos têm inspiração em SUVs, o que os torna veículos aspiracionais para o público, mas sem deixar o preço mais "acessível" de lado. Os hatches compactos mais simples podem sobreviver por mais tempo, uma vez que é o segmento logo acima deles que está mais ameaçado. A Renault é um bom exemplo. A marca francesa tem o Kwid para concorrer entre os carros de entrada, mas decidiu tirar o Sandero - e o Logan - de linha. A ideia é investir em porções mais rentáveis do segmento. No caso do Sandero, ele será substituído por um SUV menor, um projeto que terá preços inferiores ao do Duster e do Captur. São jogadas que permitirão aumentar a margem de lucro e, claro, surfar no bom momento dos utilitários. O encarecimento geral dos carros também dá fôlego e celeridade ao movimento. Os hatches compactos estão cada vez mais caros. Nem mesmo as versões mais equipadas dos automóveis de entrada fogem à regra, basta olhar para o novo C3 para ter um parâmetro. Recém lançado, o modelo chega aos R$ 97.990 na versão top, enquanto o SUV C4 Cactus sai por R$ 108.990 na configuração de acesso. São cerca de 10% de diferença, algo que pode ser absorvido em um financiamento ou à vista. São necessárias estratégias de precificação agressivas para tornar os hatches da classe do Fiesta mais acessíveis e, com isso, mudar um pouco a perspectiva deles no mercado. O VW Polo renovado é um bom exemplo. O hatch foi simplificado no motor e câmbio, além de ter perdido recursos mecânicos que o destacavam na classe, exemplo do freio traseiro a disco. Nem mesmo as lanternas traseiras renovadas do seu par europeu não foram adotadas, uma medida que sairia cara, pois exigiria a mudança de estamparia, algo que exigiria mudanças na linha de montagem - pelo menos faróis de LED foram adotados, uma compensação que auxiliou na segurança. Somado a isso, o compacto também não adotou seis airbags ou frenagem automática e controle de cruzeiro adaptativos, ambos presentes no Nivus, SUV derivado do Polo. Porém, foi tudo isso que permitiu a diminuição de preços. No futuro, todos os carros terão que integrar sistemas de segurança mais caros. É algo que será inescapável até nos países em desenvolvimento, mercados em que o poder de compra é bem menor. Se o fim do Fiesta não decreta a morte dos hatches compactos, ele pode servir de prenúncio. **** MAIS SOBRE CARROS E AUTOMOBILISMO: NEWSLETTER DE FLAVIO GOMES Todo domingo, Flavio Gomes escreve sobre a F1 e outras competições do automobilismo e relata bastidores de sua longa carreira como jornalista. Para se cadastrar e receber a newsletter semanal, clique aqui. |
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