Eu acho super justo alguém cobrar pelo seu trabalho ao encontrar uma forma de transformar uma ideia em um negócio. Falo isso com conhecimento de causa: já fiz isso com a Shoot – ela era um projeto paralelo e hoje é uma empresa. Sou muito experiente no caso oposto também: já criei projetos com aaaanos de vida sem nunca os transformar em negócio, como essa newsletter que você assina. E na zona dos fracassos, também tenho experiência. Quando tentei monetizar minhas tirinhas, me deparei com uma grande decepção. Não só por não ganhar nenhum dinheiro, mas também por transformar um processo que antes era orgânico em algo mecânico. Foi bem palha. Nesses 10-12 anos criando projetos dos mais variados tamanhos, conhecendo pessoas empreendedoras e super fazedoras, já vi muitas ideias boas tentarem virar empresa e não darem certo. A grande maioria das que conheci tentou e falhou. Trabalho é totalmente relacionado a dinheiro. Trabalha-se para ser pago, e vice-versa. Então é natural que, quando percebemos que estamos fazendo trabalho e não recebendo por isso, o primeiro movimento seja buscar uma forma de se remunerar por ele. Essa minha news é um trabalho. Levo boas horas criando o seu conteúdo e várias outras lendo/ouvindo/assistindo tudo que divulgo aqui. Seria super justo eu cobrar por ela. Tem trabalho saindo e nenhuma receita entrando. Só que eu não quero cobrar. Os conteúdos aqui listados eu esbarrei porque gosto de procurar conhecimento, e é um prazer fazer um filtro e trazer só a nata para quem me segue. Assim como é um prazer digitar insights e opiniões e ver como vocês reagem a elas kkkk Sou da vibe do meu grande amigo Sócrates, que não cobrava pelas suas aulas por dizer que o seu conhecimento ele havia adquirido vivendo (ou seja, de graça). Nesses 6 quase 7 anos de newsletter, foram várias as vezes que eu pensei “ok, se pa eu já devia cobrar pela news”, “acho que vou começar a criar um conteúdo pago”, “vou só deixar meu pix aqui e ver o que acontece”. Esse pensamento vem geralmente quando as coisas estão dando certo. Um aumento no meu público, alguém grande divulga minha news, etc. Todas as vezes que isso vem na minha cabeça eu penso CALMA. Não era isso que eu queria quando me propus a começar a escrever. Eu comecei essa newsletter pelos motivos que citei dois parágrafos acima. Sempre gostei de compartilhar links e ideias, e eu já fazia isso no Facebook e Twitter antes de inventarem Além do mais, não preciso de dinheiro – tenho outra fonte de renda – e adoro a paz que existe em algo que não precisa fechar as contas no final do mês. Eu me cobro para enviar a news sempre sem atrasar? Claro. Mas se eu atrasar, meio que nada aconteceria. Eu não sou obrigado a enviá-la. Se eu cobrasse, a relação seria outra. Ouvi esses dias o Justin Welsh falar que transformou seu público em uma comunidade paga de assinantes e teve que voltar atrás poucos meses depois porque algo que não estressava ele antes passou a ser uma dor de cabeça, uma situação parecida com o que passei com as minhas tirinhas: “Saber que as pessoas estavam pagando adicionava uma pressão em mim. Me sentia pressionado para gerar conteúdo sem atrasos, sendo que antes eu fazia quando queria fazer e de forma mais fluida.” Décadas atrás, essa pesquisa descobriu que anexar motivadores extrínsecos (como grana) a atividades que as pessoas gostavam diminuía sua motivação interna para continuar fazendo: se é satisfação psicológica que você busca, talvez seja melhor deixar o dinheiro fora da jogada. Se você escreve sua newsletter ou grava seu podcast ou cria bolões para copa do mundo para o seu grupo de amigos e quer viver disso, tá ótimo, cobre pelo seu trabalho e busque transformá-lo num negócio. Mas saiba que existe um outro caminho. Um caminho que vai contra o que todo mundo te diz e faz. Esse caminho é fazer sem esperar dinheiro em troca. Fazer porque se quer fazer e ponto. Mesmo eu tendo bem certo para mim as motivações que me fazem escrever essa news, o papo de cobrar por ela vem todo ano à minha mente. Eu vejo outras news ganhando grana e tenho que lutar internamente para não fazer uma mudança que eu sei que não vou gostar. E já decidi por um caminho e tenho que conscientemente me manter nele, porque se eu deixar a onda me levar, ela me leva e daqui a pouco algum botão do paypal vai surgir na sua frente. O triste é que muita gente nunca percebe que existe esse outro caminho. Gente que pisa fundo pegando um hobbie/passatempo/projeto para transformar ele em uma empresa só porque é o que todo mundo faz. Tudo para seguir a cartilha vigente. Tudo para fazer o que esperam que seja feito. Essa solução pode sim trazer alegria e felicidade, mas também pessoas frustradas, pressão por performance, crescimento sem propósito, zilhões de anúncios em um feed que antes era irado (estou falando de você Instagram). No fim, algo que era paixão virou chatice. A sociedade vai sempre incentivar você para que você cobre do seu público. A pressão é muito maior para que os projetos virem empresas do que o contrário. É preciso bater o pé e ir na contramão para dizer “estou satisfeito assim e assim me manterei”. É preciso coragem. Essa news de hoje é mais um lembrete. Tá super ok ganhar dinheiro. ps: já estava com essa news diagramada na minha cabeça quando deparei com esse belo episódio do Conselhos que você pediu, da Isabela Reis. Recomendo demais:
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quarta-feira, 30 de novembro de 2022
Links do mês #080 e o trabalho que não precisa ser remunerado
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