sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Inflação e juro alto fazem primeiras vítimas na bolsa: Magalu e Natura

 
Abril Comunicações
 
Mercado financeiro
 
Empresas sofrem com redução do consumo não essencial, reflexo direto da queda da renda do brasileiro. Com setor de serviços também mais fraco, Ibovespa cai 1,17%.
 
 
Por Juliana Américo e Tássia Kastner
 
 
Sexta-feira, véspera de feriado. Sinônimo de folga, e olha que tem gente precisando muito dela. São os investidores de Natura e Magazine Luiza, empresas cujas ações derreteram nesta sexta, após a divulgação de resultados bem piores que o esperado pelo mercado financeiro. Mas a preocupação não é só desses investidores. A verdade é que os resultados dessas duas empresas foram os mais eloquentes para avisar que as grandes empresas não estão imunes à piora da economia brasileira.
 
Até o ano passado, parecia que as ações da Magalu tinham uma única direção: para cima. Bem, para uma empresa que chegou a se valorizar mais de 5.000% desde o IPO, dava para entender. Em 2021, porém, o cenário mudou brutalmente. A companhia acumula queda de 50% e os resultados do terceiro trimestre não ajudaram a estabilizar os ânimos dos investidores.
 
O lucro da companhia caiu 30% no terceiro trimestre. O resultado verdadeiro da companhia foi ainda pior. É que o lucro acabou turbinado por créditos tributários – se a empresa não tivesse contado com essa forcinha, o tombo teria sido de 90% no lucro. Os acionistas reagiram mal a esse resultado: queda de 17,73% nos papéis da varejista, o maior tombo do dia.
 
O desempenho foi pior nas lojas físicas, onde o faturamento recuou 8% – sem as unidades novas abertas no período, a queda foi de quase 15%. Segundo a companhia, o varejo físico atende a um público mais sensível à crise que se instala sobre o país. Em contrapartida, o e-commerce se saiu bem melhor e cresceu 22,2%, mas não o bastante para compensar o estrago.
 
E bota crise. Na carta a investidores que acompanhou a divulgação de resultados, a companhia afirmou que "uma tempestade perfeita se armou sobre a economia brasileira. As nuvens se formaram surpreendentemente rápido. A inflação disparou, fazendo com que os juros chegassem ao maior patamar em quatro anos. O atual cenário econômico é turbulento e desafiador para as empresas que atuam no mercado interno e, particularmente, no varejo – e deve permanecer assim, pelo menos no curtíssimo prazo".
 
Estamos falando de uma alta de preço de 10,25% nos 12 meses encerrados em outubro, quase tão alta quanto a inflação registrada no pior momento do governo Dilma. Nisso, o Banco Central precisa subir os juros para enxugar o dinheiro da economia e conter a sanha inflacionária. O efeito colateral desse remédio é deixar o crédito mais caro, e inibir as compras.
 
Quem sofre não são só as geladeiras, mas qualquer coisa que não seja considerada consumo essencial, como é a comida.
 
Aqui entram maquiagens e perfumes da Natura, que amargou a segunda maior queda do dia na B3: -16,62%. Pudera, o lucro da empresa tombou 28,5% no terceiro trimestre quando comparado com igual período de 2020 – foi para R$ 272,9 milhões. A receita caiu 4,2%, chegando aos R$ 9,5 bilhões.
 
Hoje, mais de 70% das receitas da companhia são geradas no exterior. Ainda assim, a culpa do resultado ruim que destroçou o balanço da companhia foi o do Brasil. Por aqui, o faturamento caiu entre 15% e 20%, considerando Natura e Avon. Além dos problemas econômicos, a companhia ainda padeceu da falta de suprimentos para seus produtos, um fenômeno global que afeta de carros a computadores, passando por outras indústrias, como a de cosméticos.
 
Outro fenômeno que abalou a confiança dos investidores foi o anúncio de que a companhia pretende deixar a B3 e migrar para Nova York – tem mais gente nessa fila, como o Inter, a Americanas e a Locaweb. Ter ações lá fora ajuda a atrair investidores gringos, que têm mais dinheiro que o brasileiro, ainda mais agora que a B3 entrou em um inverno fora de época.
 
Nem a notícia que poderia ser boa acalmou os investidores. A Natura anunciou um programa de recompra de ações, algo que empresas costumam fazer quando estão dando lucro e acreditam que o mercado financeiro não está avaliando corretamente o valor da companhia. Nisso, a tendência é que os papéis reajam positivamente. A Natura vai comprar até 4,4% das suas ações.
 
Natura e Magalu fazem parte de um segmento chamado de consumo cíclico. Elas dependem do crescimento da economia – e para o próximo ano, o cenário é ainda pior. Economistas esperam que o crescimento ficará abaixo de 1%, com risco real de voltarmos à recessão.
 
Pé frio da temporada
 
Até semana passada, quem olhava para os resultados das companhias poderia até achar que as grandes empresas do país conseguiriam passar ilesas à tormenta que se avizinha. De acordo com a XP, até o dia 7 de novembro 60% das empresas do Ibovespa já tinham divulgado os seus balanços. E 76% deles estavam acima das expectativas do mercado.
 
Mas agora, já no fim da temporada, os investidores começaram a levar sustos como os de hoje e ontem. Se você não acompanhou o fechamento de ontem, a gente te situa: a Via (antiga Via Varejo) ficou meio que na mesma. Teve lucro de R$ 101 milhões, o que representa uma alta de 1%. O Ebitda foi um pouco melhor, com alta de 6,7%.
 
O problema é que, além de estar abaixo do esperado e de sofrer com a inflação, a empresa separou R$ 1,2 bilhão para arcar com processos trabalhistas. E ela já tinha outros R$ 1,3 bilhão reservados para isso. Bom, as ações da companhia caíram mais de 12% na quinta-feira.
 
A exceção
 
O surpreendente do pregão é que a ponta positiva do Ibovespa ficou também com empresas ligadas a consumo: Americanas (ex-B2W) e Lojas Americanas. O lance é que as duas empresas estão no meio de uma reestruturação dos negócios, anunciada no final do segundo trimestre. Nisso, as duas empresas começaram a colher frutos de mudanças no negócio que a Magalu fez lá atrás (como a integração das lojas online e física, por exemplo). Daí esse cenário quase distópico de ver Americanas no pódio de maiores altas, ao mesmo tempo que a Magalu acumula a maior queda.
 
Pode piorar
 
O setor de serviços, que mais padeceu do isolamento social, vinha se recuperando. Mas, em setembro, tropeçou justamente por causa da inflação. Foi uma queda de 0,6%, segundo o IBGE, a primeira depois de cinco altas consecutivas. Para piorar, economistas esperavam uma alta. E faz sentido: se a grana tá curta, você come em casa, e não no restaurante, e a sonhada viagem fica para uma próxima. Nisso, a economia vai definhando e as ações também. Resultado: o Ibovespa caiu 1,17%, aos 106.334 pontos.
 
Ainda bem que existe feriado. Até semana que vem ;)
 
Maiores altas
Americanas (AMER3): 5,66%
Lojas Americanas (LAME4): 5,45%
BR Malls (BRML3): 3,99%
Carrefour (CRFB3): 3,03%
Petrobras (PETR4): 2,68%
 
Maiores baixas
Magazine Luiza (MGLU3): -17,73%
Natura (NTCO3): -16,62%
Meliuz (CASH3): -9,84%
CVC (CVCB3): -9,34%
Locaweb (LWSA3): -8,61%
 
Ibovespa: -1,17%, aos 106.334 pontos
 
Em NY:
S&P 500: 0,72%, aos 4.682 pontos
Nasdaq: 1%, aos 15.860 pontos
Dow Jones: 0,50%, aos 36.100 pontos
 
Dólar: 0,98%, a R$ 5,4569
 
Petróleo
Brent: -0,84%, a US$ 82,17
WTI: -0,98%, a US$ 80,79

Minério de ferro: -3,11%, US$ 89,69 no porto de Qingdao (China)
 
 
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