segunda-feira, 5 de abril de 2021

O EXÉRCITO NÃO É MILÍCIA

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OS GENERAIS ENQUADRAM O CAPITÃO

 




Jair Bolsonaro tentou estender a sua mão grande sobre as Forças Armadas, com a demissão do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, mas os militares se recusaram a servir de braço político-armado do ex-capitão que ocupa o Planalto. Eles deram esse recado com a demissão inédita dos comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica e não deixaram margem para que os substitutos pudessem ser aloprados. Aliás, há muito pouca ou quase nenhuma alopragem nas altas patentes militares. As Forças Armadas estão mais imunes a tentações golpistas do que nunca. Mas isso não é suficiente para evitar que infiltrações bolsonaristas possam causar problemas.


É o que a Crusoé desta semana conta em detalhes.


Leia um trecho da reportagem da Crusoé:

 

" Jair Bolsonaro jamais foi considerado um quadro de respeito entre os oficiais de altas patentes das Forças Armadas. No passado, ainda como militar e depois como novato na política, ele cultivava o hábito de panfletar em porta de quartel. Sempre foi malvisto por caracterizar-se como uma espécie de sindicalista afeito a confusões e representante de interesses corporativistas das patentes mais baixas. No Congresso, durante os seus nove mandatos como deputado, a marcha permaneceu a mesma: o capitão reformado se dedicou a causas menores, prestou homenagens a parentes de PMs acusados de envolvimento com as milícias do Rio de Janeiro e cercou-se de personagens como Fabrício Queiroz. No governo, o que houve foi um casamento de conveniência. Muitos militares estrelados, especialmente da reserva, enxergaram em Bolsonaro a oportunidade de ocupar espaços importantes da máquina federal e embarcaram, então, no projeto do político capitão. A aliança funcionou. Empossado, Bolsonaro loteou o primeiro escalão do governo entre generais, colocou militares em conselhos de estatais e garantiu que as três forças tivessem um acesso mais privilegiados ao caixa.


A mentalidade dos velhos tempos de capitão não mudou com a chegada a Brasília. Bem aquinhoados no topo da máquina federal, os militares preferiram fechar os olhos para a postura presidencial, como também para as barbaridades ideológicas do governo, que descambaram na condução trágica da pandemia – com participação efetiva de um fardado da ativa, o general Eduardo Pazuello. A origem no Exército e o sentimento de que, como presidente e comandante-em-chefe das Forças Armadas, poderia gozar do prestígio e do poder que jamais teve enquanto vestia farda, porém, fizeram Bolsonaro achar que poderia manobrar os quartéis, inclusive trazendo-os para o tabuleiro de seu jogo político.


Desde que viu o projeto de reeleição ameaçado pelo agravamento da tragédia do coronavírus e pelo péssimo desempenho da economia, o presidente intensificou suas costumeiras insinuações golpistas e adotou um pronome possessivo ao se referir às forças. O Exército virou "meu Exército". Acendeu-se, então, um sinal amarelo entre os militares mais graduados da ativa.


Nesta semana, Bolsonaro manteve o método que o caracterizou na vida pública. Só que, dessa vez, com um alto custo para as Forças Armadas. Nos bastidores, o presidente passou a pressionar o general Fernando Azevedo e Silva, até então titular do Ministério da Defesa, por manifestações públicas de apoio ao governo. Ele exigia a cabeça do comandante do Exército, Edson Pujol, crítico das tentativas do presidente de usar as tropas para fins políticos. Descontente com a resistência dos militares em amparar seus devaneios antidemocráticos e a endossar o seu discurso negacionista em meio a escalada de mortes, Bolsonaro acendeu o estopim da maior crise na caserna desde a redemocratização. Para mostrar que manda, exonerou o ministro da Defesa. Na sequência, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica puseram seus cargos à disposição, uma situação inédita. A investida de Bolsonaro teve efeito inverso: uniu o alto comando militar em torno da necessidade de impedir que instituições de estado sejam usadas em favor das conveniências do governo e de seu chefe de ocasião. Bolsonaro acabou, ele próprio, enquadrado em sua iniciativa."

 

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Boa leitura e um abraço,

 

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