Se São Paulo tivesse vencido o Rio de Janeiro na disputa interna pela candidatura às Olimpíadas de 2016, o Parque Olímpico seria no bairro da Água Branca e o Complexo Baby Barioni teria papel central nos Jogos. Como não venceu, restou ao velho equipamento esportivo receber uma reforma, parte do "legado olímpico" na maior cidade do país. A obra era para ter sido entregue, naturalmente, antes da Olimpíada que aconteceu há mais de seis anos. Com muito atraso e muita vergonha, o complexo foi "reinaugurado" no dia 7 de dezembro pelo governador em exercício, deputado Carlão Pignatari (PSDB), e meia dúzia de autoridades. Ainda tem bastante "toque final" a dar, mas é fato que o Baby Barioni finalmente está reaberto. Admito que eu mesmo não conhecia o local. Nos anos anteriores ao fechamento, em 2014, o complexo já não recebia competições importantes, exceto eventos de boxe, o que nunca foi muito meu interesse nem pessoal nem profissional. E o governo do Estado de São Paulo já não fazia questão nenhuma de movimentar o Baby Barioni, atrair para lá um público novo. Nascido no interior e explorando a capital em doses homeopáticas, só me interessei quando ele já estava fechado. O Baby Barioni, inaugurado em 1945, é a história do esporte de São Paulo. Primeiro pelo nome, que homenageia um cronista esportivo que muito fomentou o esporte paulista e brasileiro. Os Jogos Abertos do Interior são criação dele, por exemplo. No Baby Barioni (o complexo), existia um ginásio para umas mil pessoas, onde aconteceu por anos a "Forja dos Campeões", principal celeiro do boxe, e uma arena coberta com uma linda piscina de natação de 25 metros, projetada por Ícaro de Castro Mello, atleta olímpico e arquiteto que também pensou o Complexo do Ibirapuera. De portes diferentes, os dois equipamentos têm perfil parecido. O Ibirapuera tem um grande ginásio, um ginásio menor (o Mauro Pinheiro), um parque aquático, duas quadras cobertas, um espaço para lutas, um estádio de atletismo, e um alojamento caindo aos pedaços. O Baby Barioni, além do ginásio pequeno (pouco menor que o do Pacaembu e que o Mauro Pinheiro) e da piscina, também tem duas quadras cobertas sem arquibancada, uma para futsal/handebol e outra para vôlei/basquete, uma piscina de hidroginástica, uma pista de skate street, um prédio para aulas de lutas e um alojamento novinho em folha. | Imagem: Divulgação/Governo do Estado de São Paulo |
| Imagem: Demétrio Vecchioli/UOL |
A reforma foi pensada pelo antigo Ministério do Esporte, no governo Dilma Rousseff (PT), como parte do legado olímpico. A União repassou mais de R$ 20 milhões ao governo do Estado de São Paulo. Em 2014, na gestão Geraldo Alckmin, então no PSDB, foi contratada, por licitação, a construtora Roy para fazer a obra, por R$ 24 milhões. O Tribunal de Contas do Estado (TCE) encontrou indícios de direcionamento e suspendeu o contrato, e nenhuma outra licitação foi lançada. O governo paulista chegou ao ponto de ter que devolver R$ 9,2 milhões à União por não ter feito a obra, que ficou muitos anos completamente parada. (E até hoje não entra na minha cabeça como um gestor simplesmente não faz uma obra que outro governo se ofereceu para pagar) A reforma só voltou a andar em 2019, depois que o então governador João Doria (PSDB) foi muito criticado pela proposta de privatização do Complexo Esportivo do Ibirapuera. Para tentar apaziguar a situação, Doria retomou a reforma do Baby Barioni, prometendo levar para lá os projetos de formação de atletas de natação e judô que antes existiam no Ibirapuera. O discurso era de que o esporte de São Paulo não ficaria desguarnecido com a privatização do complexo maior porque o menor daria conta da demanda — o que sempre foi uma balela. Também fazia parte do plano que o "prédio administrativo", que um dia foi sede de diversas federações estaduais, se tornasse a sede da Secretaria de Esporte, depois que o prédio dela, no centro antigo, fosse vendido à iniciativa privada. Mas ninguém quis comprá-lo, a secretaria segue lá, e o "prédio administrativo" foi cedido à Secretaria de Cultura — hoje é o Museu das Culturas Indígenas. A ideia não é ruim, mas é mais um equipamento que o esporte perde. No fim, nem a "gestão João Doria/Rodrigo Garcia" privatizou o Ibirapuera, o que sempre foi uma ofensa, nem levou o Projeto Futuro para o Baby Barioni — atualmente, vários atletas estão treinando e morando na Arena Olímpica de São Bernardo do Campo (SP). O que foi uma boa solução encontrada por Doria, visto que aquele espaço estava largado, mas que impede o uso ideal do Baby Barioni. É que o complexo na Água Branca tem um baita prédio de alojamento, com seis andares, nove quartos por andar, e duas beliches por quarto. Um prédio novinho, pronto para receber mais de 200 atletas. Mas a Secretaria, por enquanto, não tem planos de ocupar o espaço de forma permanente, apenas durante competições, como os Jogos Escolares. Os gestores que estão saindo, do Podemos, que ficaram na secretaria no ano em que o grupo do Republicanos fingiu que era oposição para eleger Tarcísio de Freitas governador, prometem deixar um chamamento público. A ideia é que o governo pague pela manutenção e diversas entidades, escolhidas nesse chamamento, ofereçam aulas gratuitas de diversos esportes. Só o prédio de lutas tem área para sete modalidades. Se quiser, o próximo secretário ou secretária terá tudo na mão para fazer o Baby Barioni voltar a pulsar, a formar atletas, promover qualidade de vida, atrair torcedores, a ser a casa (ou uma das casas) do esporte em São Paulo. O problema é que já se perderam nos livros de História os últimos registros de quando São Paulo teve alguém de fato interessado em fazer o esporte acontecer. E com Marcelo Magalhães (secretário especial de Esporte do governo Bolsonaro) e Aildo Rodrigues (ex-secretário de Esportes do governo Doria) concorrendo pelo cargo, isso não vai mudar. |
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