Quem curte o mercado financeiro sabe: toda véspera de reunião do Copom pululam bolões para adivinhar a nova taxa básica de juros do país. Mas dias como hoje são realmente atípicos. Até o começo da manhã, uma aposta arrojada seria esperar um aumento da Selic de 1,25 ponto percentual, dado que o Banco Central vinha subindo o juro de 1 em 1. Durante o dia, as apostas começaram a virar para 1,50 p.p. (o novo consenso), 2 p.p. e até 3 p.p. uma escalada que não ocorre desde 2002.
A mudança drástica nas expectativas não foi sem razão. Pela manhã, o IBGE divulgou que a prévia da inflação de outubro acelerou para 1,20%, acima das estimativas do mercado e da alta de setembro (1,14%). Culpa principalmente da conta de luz e dos combustíveis, duas despesas que, tudo mais constante, continuarão a subir nos próximos meses dado que o petróleo e o dólar continuam avançando.
E essa foi só a gota d'água para o mercado financeiro revisar suas projeções de última hora. O Banco Central faz dois dias de reuniões, começou hoje e comunica a decisão amanhã à noite. O fato é que a inflação brasileira já vinha persistente, e ganhou riscos adicionais na semana passada, quando o governo Bolsonaro decidiu derrubar o teto de gastos para ampliar o Bolsa Família. O problema não foi pagar R$ 400, mas o que mais sairia dos cofres públicos em ano eleitoral.
E os medos vão se confirmando, claro. A PEC dos Precatórios, que já era um drible no limite de gastos públicos, poderá comportar emendas parlamentares, enquanto as emendas dão espaço a R$ 5 bilhões para pagamento de um fundo eleitoral para o próximo ano. E toca imprimir dinheiro -- e gerar inflação.
Inflação só se cria se existe reais demais circulando por aí. Quando governos gastam mais, resta ao Banco Central, responsável por conter os preços, sair aspirando a grana da economia. Ele faz isso subindo juros, o que deixa o crédito mais caro e ainda estimula as pessoas a pouparem -- porque aquela grana no Tesouro Selic rende mais. Daí as apostas de alta mais firme da Selic. A projeção de aumento de 3 pontos percentuais veio da Genial Investimentos; a de 2 pontos percentuais, de Carlos Kawall, da Asa Investimentos.
Beleza. Só que aí empresas que planejavam pegar uma grana no mercado para investir talvez desistam, já que o ganho delas fica menos atraente com a dívida mais no banco. Quem já tem dívida também fica enroscado. Eis a explicação do tombo do Ibovespa, que caiu 2,11%, a 106.419 pontos. Vale dizer, porém, que o dia foi atípico lá na B3. O volume de negócios ficou abaixo dos R$ 30 bilhões hoje, enquanto a média diária do ano ronda os R$ 35 bilhões.
No fim, parece que todo mundo ficou tonto com as revisões de expectativas. Agora é esperar o dia de amanhã. Nos vemos.
Maiores altas
EDP (ENBR3) 2,39%
Braskem (BRKM5) 2,09%
CPFL (CPFE3) 1,05%
Gerdau (GOAU4) 0,85%
Weg (WEGE3) 0,28%
Maiores baixas
Azul (AZUL4) -8,38%
Eztc (EZTC3) -7,64%
Cogna (COGN3) -7,04%
Cielo (CIEL3) -6,88%
CVC (CVCB3) -6,83%
Ibovespa: -2,11%, a 106.419 pontos
Nova York
Dow Jones: 0,04%, a 35.757 pontos
S&P 500: 0,18%, a 4.575 pontos
Nasdaq: 0,06%, a 15.236 pontos
Dólar: 0,32%, a R$ 5,5734
Petróleo
WTI: 0,76%, a US$ 84,40
Brent: 0,20%, a US$ 86,16
Minério de ferro: 2,77%, a US$ 122,30 a tonelada no porto de Qingdao, na China.
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